O depoimento do ex-executivo da Odebrecht, Henrique Valladares, à Polícia Federal, se não trouxe muitas novidades, prestou-se a dar nomes a envolvidos no suposto pagamento de propinas pelo consórcio responsável pela execução das obras da usina hidrelétrica Santo Antonio, no Rio Madeira.

Para alguns observadores, a intenção de Henrique Valladares não seria mandar ninguém para a cadeira, tampouco estaria o delator movido pelo desejo de fazer prevalecer à justiça e a exata aplicação da lei penal aos eventuais malfeitores.

Move-o, apenas, a vontade de buscar, com a abertura do jogo, assegurar para si o mesmo destino que outros delatores da Lava Jato alcançaram. Pode ser que somente uma parte do que Valladares disse à PF seja verdade; a outra parte do depoimento pode muito bem ser trama urdida, com a finalidade inteligente de beneficiar a si mesmo, considerando sua esperteza e sua inegável aptidão para toda sorte de expediente.

A presença de políticos rondonienses (parentes e cabos eleitorais) na lista dos implicados, não constitui nenhuma novidade nem motivo para estarrecer segmentos da sociedade, já que alguns deles não conseguiriam vender um carro usado para qualquer cidadão com o mínimo de segurança. A final, para essa gente, uma irregularidade a mais, um ilícito a menos, não faz diferença.

De qualquer maneira, muitos rondonienses descobriram que representantes nos quais votaram não estão acima nem abaixo de Henrique Valladares e sua turma, em termos de lisura e participação na vida política. Certamente terão o benefício de nunca mais voltar a sufragar seus nomes, nas próximas eleições.

Quem sabe outros, porém, não se terão de alguma forma beneficiado das prebendas e dos favorecimentos que esse tipo de conluio costuma distribuir. Uma coisa é certa: quanto mais os delatores abrem o bico, mas se descobre a purulência que vicia a atividade política no Brasil.