Diagnosticado com esquizofrenia, homem ministra peças de teatro, dá aula de filosofia e palestras internacionais

João Ribeiro, de 52 anos, convive com o grave transtorno mental desde a adolescência e hoje, vive em residência terapêutica, onde consegue cuidar da saúde e levar uma vida repleta de arte; psiquiatra explica que casos costumam ser severos e necessitam de cuidados

Assessoria
Publicada em 03 de abril de 2023 às 15:11
Diagnosticado com esquizofrenia, homem ministra peças de teatro, dá aula de filosofia e palestras internacionais

esquizofrenia é uma das doenças que mais leva pessoas para residências terapêuticas - lares para quem convive com algum tipo de transtorno mental. Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), a doença, que tem como sintomas mais famosos as alucinações e delírios, é a terceira causa de perda de qualidade de vida entre 15 e 44 anos e, só no Brasil, atinge cerca de 1,6 milhão de indivíduos.

Segundo especialistas, e João Ribeiro, diagnosticado com esquizofrenia, o negativismo é um sintoma muito comum em esquizofrênicos, pois acreditam que nada na vida vai dar certo, seja na vida pessoal, financeira, amorosa e pessoal. Entretanto, a história de Ribeiro é prova de que um esquizofrênico pode levar uma vida normal e de sucesso, desde que tenha acompanhamento médico.

Com 15 anos, após algumas sessões de psicanálise, João Ribeiro começou a dar os primeiros sinais de que algo diferente estava acontecendo: acreditava que a terapeuta conhecia uma menina por quem era apaixonado na época e a convicção se transformou em uma paranóia. Depois disso, o rapaz simulou o próprio suicídio e foi constatado o quadro de esquizofrenia, aos 19 anos. “Quis chamar atenção pelo sofrimento que eu estava passando, pois acreditava que as pessoas se solidarizaram com meu sofrimento”, complementa ele.
 

De acordo com o Dr. Ariel Lipman, médico psiquiatra e diretor da SIG - Residência Terapêutica, onde vive Ribeiro, na maioria dos casos, trata-se de uma doença em que a pessoa pode não conseguir dar conta de gerir a própria vida. “Na apresentação severa da doença podemos ter pessoas que necessitam de cuidados constantes”, pontua.

Foi com a filosofia que Ribeiro conseguiu mostrar que é possível dar a volta por cima. “Isso começou aos 15 anos, quando tive uma experiência mística ao ler ‘A República" de Platão’ e depois, ao ir adquirindo confiança, passei a dar palestras e resolvi inovar, criando uma peça teatral”, comenta ele, que foi internado cinco vezes em hospitais psiquiátricos.

Conforme melhorava a sua desenvoltura artística, o amor pelo teatro também foi aumentando, tanto que João escreveu a sua primeira peça e prepara-se para estreá-la em breve, em um teatro de São Paulo. “Estamos fechando detalhes de patrocínio que devem se concretizar em breve”, explica o artista que também é remunerado por dar aulas dentro da clínica em que é tratado.

“Além de teatro, também ministro oficinas de conversação na SIG toda semana. A oficina é aberta para funcionários, pacientes e até mesmo familiares”, detalha ele, que também já escreveu um livro, sua autobiografia, que leva o nome de "Memórias de um Estóico".

Esquizofrenia como educação

Além do Teatro, Ribeiro tem subido em palcos com um outro propósito: educar pessoas sobre a esquizofrenia. Até hoje, foram mais de 30 palestras e artigos publicados sobre este tema.

O reconhecimento no assunto gerou até convite internacional para Ribeiro. “Participei de uma conferência em inglês sobre esquizofrenia e foi um grande desafio”, diverte-se.

Para o morador da residência terapêutica, o motivo de dar palco à esquizofrenia é justamente não se calar para este tipo de doença e mostrar para outros pacientes que é possível ter uma vida social. “ Fui silenciado na maior parte de minha vida justamente por ter este diagnóstico, porém acredito que quanto mais voz darmos às pessoas, melhor a conduta da doença”, explica

A vida na residência terapêutica

Morador da SIG Residência Terapêutica há pouco mais de um ano, Ribeiro leva uma vida normal dentro do espaço. Além das oficinas, também leciona aulas de filosofia para a diretora técnica do local. “Na oficina, quando o João constrói uma compreensão que faz sentido para ele e para outras pessoas, exercício de polifonia comum nos diálogos abertos, todas as opiniões são levadas em conta e as pessoas se sentem valorizadas e respeitadas", comenta Solange Tedesco, diretora da SIG-SP.

Embora tenha a possibilidade de morar sozinho, o ator conta que ter à disposição profissionais de saúde facilita as atividades do dia a dia. “Eu poderia me aventurar em morar sozinho, mas aqui eu tenho toda uma estrutura, digna de hotelaria, como profissionais de limpeza que podem lavar minhas roupas e até quem elabora cardápios diários para a minha alimentação. Esta estrutura funciona como minha casa”, finaliza.

Sobre a Sig - Fundada em 2011, no Rio de Janeiro, a Sig Residência Terapêutica, surgiu com o propósito de trazer um novo olhar em transtornos de saúde mental, com um tratamento humanizado, inclusivo e visando a ressocialização do paciente. Conta com 3 unidades, sendo duas na cidade do Rio de Janeiro e uma em São Paulo. Atualmente é gerida pelos sócios Dr. Ariel Lipman, Dra. Flávia Schueler, Dra. Anna Simões, Elmar Martins e Roberto Szterenzejer.

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