'Dinheiro gasto em contrato milionário com Santa Casa de Chavantes podia ser usado na educação', dizem grevistas
Prefeitura contratou por seis meses, sem licitação, gestora para cuidar da rede pública de saúde por mais de R$ 8 milhões/mês; professores querem CPI e presidente da Câmara sinaliza que ‘vai ficar do lado dos educadores’
O clima esquentou em Vilhena após o prefeito Delegado Flori conseguir uma liminar do desembargador Miguel Mônico, determinando que 80% dos professores grevistas voltem à sala de aula. Nesta terça-feira, 22, PAINEL POLÍTICO conversou com alguns professores que estão indignados com a situação: "O que acontece em Vilhena é muito simples. O dinheiro que deveria ser aplicado em reajustes e outras áreas do serviço público está indo para pagar a tal Santa Casa da Misericórdia de Chavantes, uma coisa terceirizada que vem administrando a saúde municipal. São R$ 9 milhões todos os meses. É um ralo”, explicou um professor que não quis se identificar e justificou: “Não tenho como aparecer em reportagem pelo fato de que vou ser perseguido, mas pode perguntar para qualquer um aqui da cidade”, afirmou.
Em 21 de julho deste ano, o prefeito contratou, sem licitação, a Santa Casa da Misericórdia de Chavantes, cuja sede é na cidade de Chavantes (SP). O valor do contrato é de pouco mais de R$ 48 milhões por seis meses, com repasses mensais de pouco mais de R$ 8 milhões, conforme contrato publicado no Diário Oficial do Município (veja abaixo):
A contratação da Santa Casa apresenta, segundo os grevistas, outro problema: o inchaço da gestão com novos servidores. Um dos grevistas explicou que Vilhena conta com um quadro de pouco mais de 400 servidores comissionados, e a Santa Casa, sozinha, emprega cerca de 560, com portarias que chegam até a R$ 7.900. Mesmo eles sendo contratados da Santa Casa, entram na soma de cargos comissionados, “interessante que o prefeito é servidor público, se ele estivesse do lado de cá, certamente não compactuaria com esse contrato e descaso com os servidores”.
Ainda de acordo com lideranças do movimento, o prefeito reajustou o salário de 200 professores que tinham direito por conta da progressão, que deveria ser aplicada aos demais. Em um programa de televisão desta terça-feira, Flori alegou que os professores ‘chegam a ganhar mais de R$ 10 mil’, o que ele considera ‘mais que uma valorização’. O prefeito não informou quantos recebem essa quantia. Flori disse ainda que professor que ganha R$ 10 mil quer ganhar ainda mais 15%, o município não aguenta o efeito cascata.
Delegado Flori tentou justificar o impasse com os professores
Segundo informaram os grevistas, o Plano de Cargos, Carreiras e Salários da educação foi aprovado na gestão do ex-prefeito Eduardo Japonês, “mas a gente sabe que o Flori anda buscando uma forma de cancelar esse plano, o que é um absurdo. Ainda mais que cerca de 90% dos professores que hoje estão em greve, aderiram à campanha dele, gravaram vídeos, pediram votos, e agora tomamos essa invertida”, afirmou o grevista.
De acordo com os profissionais de educação, Eduardo Japonês também deixou pronto o PCCR dos servidores da Saúde, inclusive com dinheiro em caixa, mas o prefeito vem se recusando a tratar do assunto, ‘isso é uma questão de tempo, logo os profissionais de saúde vão estar encampando um movimento pela implementação do plano’, disse uma das lideranças.
Professores estão em greve por reajuste de 14,9%
Assinaturas para CPI
Os professores deram início há alguns dias a uma campanha de coleta de assinaturas da população para pedir a abertura de uma CPI para investigar o uso dos recursos do município. Nesta terça-feira devem ser entregues centenas de assinaturas, que segundo os manifestantes vem encontrando forte apoio junto à comunidade, ‘os pais de alunos sabem das dificuldades e desafios que a educação e os profissionais passam todos os dias, e apóiam nosso movimento’, afirmou. O abaixo assinado ainda não foi entregue à Câmara.
O presidente da Câmara de Vereadores, Samir Ali (Podemos), afirmou que “não pode falar pelos demais vereadores, mas que provavelmente está ao lado dos educadores”. Samir disse ainda que gostaria de ter transparência nas contas do município, mas isso não vem acontecendo, “eu já solicitei uma série de documentos e não estou conseguindo ter acesso, e isso é um problema que a gente espera solucionar em breve. Já fiz os requerimentos e ainda estou aguardando”.
Vereador Sami Ali “do lado dos educadores
Sobre as falas do prefeito em relação aos professores, proferidas na tarde desta terça-feira em programa de televisão, o vereador declarou que não viu, mas que tem percebido que o prefeito distorce as informações, “ele está se referindo a alguns poucos casos que não refletem a realidade dos profissionais de educação”, disse o vereador sobre a alegação de que ‘tem professor que ganha mais de R$ 10 mil”.
A entrevista do prefeito pode ser assistida CLICANDO AQUI, a partir de 43min19s.
Pelos movimentos recentes na cidade, o prefeito terá uma série de problemas junto aos órgãos de fiscalização, como Tribunal de Contas e Ministério Público.
Os problemas de gerenciamento da saúde em Vilhena começam a despontar. Num programa de rádio da cidade, o ‘Vale Tudo’, discutia-se a falta de colírio para recém-operados.
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