Dispositivo pode diminuir mortes de tartarugas
Ferramenta testada pelo Tamar, do ICMBio, e pela UFRPE minimiza impacto da pesca de camarões em áreas de sobreposição com tartarugas
Projeto quer reduzir as capturas de tartarugas pela pesca. (Foto: Acervo/ICMBio)
O litoral do estado de Sergipe e do norte da Bahia abriga o maior sítio reprodutivo da tartaruga-oliva no Brasil, um dos mais importantes no Atlântico Sul, com cerca de 14 mil registros reprodutivos por ano, dos quais 80 a 90% são exclusivamente dessa espécie. A área também é caracterizada pela sua importância para a pesca de camarões com redes de arrasto, com destaque para as frotas de Piaçabuçu, no estado de Alagoas, Pirambu e Aracaju (ambas no estado de Sergipe).
A implementação de uma nova possibilidade para reduzir as capturas de tartarugas pela pesca é objeto das ações previstas no Projeto FAO-GEF-REBYC II, que objetiva o manejo sustentável da fauna acompanhante na pesca de arrasto na América Latina e Caribe. A fauna acompanhante da pesca consiste no conjunto de espécies que são capturadas, porém não apresentam interesse econômico e assim são descartadas no mar, com prejuízo à biodiversidade. O dispositivo de exclusão de tartarugas marinhas e outros integrantes da fauna acompanhante da pesca de arrasto (BR-TED - Turtle Excluder Device), exclusivo para as características da frota que atua desde o sul de Alagoas até o norte da Bahia, vem sendo desenvolvido pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Os primeiros testes do BR-TED foram realizados entre os dias 1 a 8 de fevereiro a bordo de uma embarcação de pesca da frota de Pirambu, em Sergipe. O dispositivo foi instalado em uma das redes de pesca da embarcação e os testes consistiram no registro do seu funcionamento e comparação da produtividade pesqueira da rede convencional em relação à adaptada para a redução da captura incidental. Os 32 arrastos realizados, cada um com cerca de 4 horas de duração, possibilitaram que ajustes fossem realizados no BR-TED para melhorar a sua eficiência e buscar um equilíbrio entre a captura de camarões e a redução da fauna acompanhante.
O dispositivo, após os ajustes em campo, mostrou similaridade para a captura de camarões, espécie alvo da pesca, e foi também eficiente para a exclusão da fauna acompanhante, em especial os peixes. Uma vez que os peixes maiores representam parte da renda dos pescadores, novas adaptações serão realizadas no BR-TED pela equipe de Engenharia de Pesca da UFRPE e que serão objeto de novo cruzeiro para testes ao longo de 2020.
Dispositivos similares, adaptados às características distintas de cada frota, estão em teste também em outros estados, a exemplo de Alagoas, Pernambuco, Espírito Santo, Pará, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do sul. Os testes contam com a participação de instituições que integram o REBYC II nos diferentes estados. Em Sergipe, o Centro Tamar, do ICMBio, e a Fundação Pró-Tamar participaram do experimento e discutem com os pescadores formas de consolidar o uso do dispositivo, que tem o potencial de reduzir muito o impacto da pesca de arrasto na biodiversidade marinha.
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