Dura realidade: aqui não tem empresários. Tem ganhadores de dinheiro
Não é só pela Operação Carne Fraca, desencadeada pela Polícia Federal, mas a sensação que se tem é que no Brasil tudo está podre.
FILOSOFANDO
“Há algo de podre no Reino da Dinamarca.” WILLIAM SHAKESPEARE (1564/1616), o mais influente dramaturgo do mundo, o poeta nacional da Inglaterra, escreveu essa frase para o personagem Hamlet, numa de suas peças teatrais mais conhecidas. Ela cai, como uma luva para o nosso país, nesse momento de vergonha do Brasil diante da comunidade internacional.
TUDO
Não é só pela Operação Carne Fraca, desencadeada pela Polícia Federal, mas a sensação que se tem é que no Brasil tudo está podre. E nesse ambiente de causar nojo ao cidadão-contribuinte-eleitor, o asco aumenta com a decisão dos parlamentares do Congresso (com destaque para o Senado) de aprovar de qualquer jeito uma lei capaz de inibir a ação das autoridades que investigam a corrupção no Brasil, na esperança de que assim salvarão seus mandatos e escaparam dos tentáculos da Lava Jato, escapando da mais remota ameaça de irem para a cadeia.
CASSOL DE NOVO
O senador Ivo Cassol rejeita – pelo visto – a ideia de que o drama da carne revelado na investigação da Polícia Federal tenha como culpados principais os próprios corruptos desse segmento e agentes públicos do segmento da fiscalização do Ministério da Agricultura que recebiam propinas e mesadas até de grandes frigoríficos.
Engraçado, nunca vi o senador condenado (ainda) pela Justiça fazer afirmações tão dramáticas diante de outros episódios que ganharam manchetes (leite adulterado, muitas vezes com m* do tipo formol ou soda) como faz agora. Numa coisa pelo menos Ivo Cassol acertou no alvo: o dramático episódio da “carne fraca” será pago pelo povo e custará milhares de empregos à população.
SÓ NISSO
Mas somente nisso o senador rondoniense que possivelmente vai cumprir seu mandato até o final (mesmo com a condenação existente no Judiciário) tem razão. Não sei até que ponto Ivo Cassol tem interesses diretos nesse segmento da pecuária. Agora querer culpar o Judiciário que mandou prender corruptos desse segmento empresarial bilionário ou até mesmo agentes da PF que cumpriram seu papel de investigar e colher provas tão contundentes é algo que o senador não deveria fazer sem considerar a desfaçatez desse posicionamento. Cassol deveria pensar também nos próprios brasileiros engabelados pelos esquemas dessa indústria poderosa, como essa descoberta de que frigoríficos injetavam água em frangos, para aumentar seu peso ou, como se afirmou, entregavam salsichas de frango com o rótulo “salsichas de peru” para a merenda escolar no Paraná.
SEM ESPANTO
Aquilo que certamente Ivo Cassol deve acreditar piamente foi devidamente desnudado com a Operação Carne Fraca. Foi por terra o mito de que o agronegócio é uma maravilha. Os lamentos de políticos como Ivo Cassol nesse momento é apenas aquele tradicional exercício de chorar o leite derramado.
Quem – a não ser por interesses óbvios – se dispõe a levar Ivo Cassol à sério. Com a composição política do legislativo nacional em Brasília, não dá mesmo para espantar-se com o que acontece hoje no Brasil, onde praticamente não fica um dia sequer sem que aflore casos de corrupção de políticos (e de empresários) em todo o Brasil, incluindo-se, claro, Rondônia.
O mesmo Cassol aflito com “a zebra” no mercado da carne, não demonstrou interesse em repercutir os casos de corrupção praticados no estado na tribuna do Senado. Principalmente quando são pivôs nomes que orbitam na sua área de influência. O que está acontecendo no Brasil de hoje – e o segmento da carne não fica de fora – é reflexo da corrupção disseminada pelo país, como nunca se viu antes.
QUE PENA
Ivo Cassol não é de todo ingênuo, afinal ele é uma espécie rural do “self made man” que ficou miliardário sem que precisasse de nenhuma formação acadêmica ou de autodidatismo. Pena imaginar um político com tanta sagacidade, como é Ivo ainda não ter compreendido os males da corrupção disseminada até mesmo em Rondônia para todos aqueles cidadãos-contribuintes-eleitores afastados das benesses de quem está no poder ou na sua periferia.
O QUE DIRIA IVO
O que Ivo Cassol deve imaginar, por exemplo, do Ministro do STF, Luiz Roberto Barroso, considerando sistêmica a corrupção no Brasil:
“Não foram falhas pontuais, individuais, pequenas fraquezas humanas. Foi um fenômeno sistêmico, estrutural, generalizado. Tornou-se o modo natural de se fazerem negócios e política no Brasil. Esta é a dura e triste realidade”. Será que por dizer exatamente essas palavras a alunos de direito da Universidade Católica do Rio, o Ministro seria considerado também “irresponsável” como Cassol considerou o delegado da “Operação Carne Fraca”?
POLÍTICOS TAMBÉM
Para Barroso a culpa dessa situação é do direito penal. Particularmente agrego à observação do ministro também os políticos nivelados por baixo como responsáveis pela construção de “um país de ricos delinquentes, um país em que as pessoas vivem de fraudes em licitações, de corrupção ativa e passiva, de peculato, de lavagem de dinheiro. Isso não foi um acidente”.
DEBAIXO DO TAPETE
Em Porto Velho não faltam exemplos de sujeira escondida debaixo do tapete. Espertezas que acabam trancafiadas do baú do esquecimento e da impunidade. A lista é longa mas lembremos só para exemplificar alguns desses (pequenos?) escândalos como o da Emdur (hoje ninguém mais fala de Leiras, aquele que chegou a ficar um curto tempo na prisão); escândalo como a rua José Cahulla (também sem ninguém sofrer qualquer sanção); o transporte coletivo urbano, o do programa de arborização da cidade, etc, etc, etc.
Prova incontestável de que aqui não tem (como imaginam ricaços da política) empresários (na acepção do termo). O que não faltou aqui, até agora, foram ganhadores de dinheiro (público de preferência). Se os tais órgãos de controle externo, com competência para investigar os ralos, certamente não aconteceria o que se percebe, por exemplo, nos gastos fenomenais da publicidade (rárárárá) oficial.
FINALMENTE
Se não houver recuo e se a lei for cumprida dessa vez, a pouca vergonha promovida pelo comércio de contrabando e pirataria, através de camelôs e marreteiros, dominando praças, calçadas e logradouros públicos, está com seus dias contados.
Muito mais do que alimentar uma repercussão negativa para a cidade, esse comércio ilegal extrapolou até hoje direitos do cidadão, como o de ir e vir, sem ter o seu caminho barrado pelo comércio marginal que se apossou do espaço público pela omissão dos antigos prefeitos.
Dizem que até nesse segmento prevaleceu por mais de uma década a corrupção endêmica que rendeu pedágio e propinas pagos para que camelôs e marreteiros não fossem molestados de jeito algum.
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