Eleições 2020: por uma saúde melhor
Para tanto, além dos aspectos técnicos e éticos da assistência, é preciso que a vontade política de quem toma as decisões entenda esse recado trazido pelos indicadores epidemiológicos
José Hiran da Silva Gallo
Diretor-Tesoureiro do Conselho Federal de Medicina (CFM)
Doutor e pós-doutor em bioética
A pandemia de Covid-19 trouxe uma importante lição: saúde deve ser tratada como assunto prioritário no Brasil. Para tanto, além dos aspectos técnicos e éticos da assistência, é preciso que a vontade política de quem toma as decisões entenda esse recado trazido pelos indicadores epidemiológicos.
Talvez menos pessoas teriam adoecido ou morrido em decorrência do contágio pelo novo coronavírus, se a infraestrutura de atendimento na rede pública já estivesse melhor preparada para atender as vítimas logo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o alerta. Porém, se não podemos apagar equívocos passados, temos a chance de escrever uma nova história a partir de agora.
Para isso, todas as instâncias de decisão, ligadas ao combate à Covid-19, precisam traduzir em ações concretas aquilo que é esperado pela população e pelos profissionais da saúde, em especial os médicos. Devem ser adotadas medidas que ofereçam melhor estrutura de atendimento nos postos de saúde, mais leitos de internação e de unidades de terapia intensiva (UTIs), prontos-socorros em condições de acolher casos graves e valorização aos homens e mulheres que estão presentes na linha de frente.
Sem isso, o Brasil ficará à mercê novamente, vulnerável aos riscos desconhecidos que essa doença traz. Na Europa, assistimos uma anunciada segunda onda de contaminação pela Covid-19. Os governos de vários países têm antecipado ações visando reduzir os efeitos de um novo choque. Pela prudência e o bom senso, seria importante que esses exemplos fossem seguidos também por aqui.
Em 2020, o brasileiro terá uma chance de contribuir para o fortalecimento dessa rede de assistência para enfrentar a Covid-19 e inúmeros outros problemas que afetam a saúde e o bem-estar de indivíduos e de comunidades inteiras. As Eleições Municipais, que acontecem a partir de novembro, configuram uma oportunidade de colocar nos lugares certos as pessoas comprometidas com esses temas e que possam, efetivamente, ajudar a termos um país com qualidade de vida.
Desse modo, no ano em que o mundo enfrenta uma das suas maiores crises sanitárias da história, o interesse de médicos e de outros profissionais da saúde em disputar cargos de prefeitos e vereadores reflete sua natural preocupação com uma pauta pública com a qual convivem diariamente.
Nas últimas eleições municipais, em 2016, houve 2.526 médicos que se inscreveram para disputar os votos dos eleitores. Neste ano, os inscritos chegaram a 2.715, o que representa um crescimento de 8% no total.
Entre os médicos candidatos, 8% disputam um cargo de vereador e 60% tentam ser prefeitos. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Rondônia, 10 médicos se apresentaram para a disputa: três buscam votos para serem prefeitos ou vice-prefeitos e outros sete uma vaga em câmaras de vereadores.
Todos esperam o apoio da maioria dos eleitores que, em recente pesquisa do Instituto Datafolha, já alardeou que tem nos profissionais da medicina aqueles em quem deposita confiança e credibilidade. Certamente, o contato com as demandas da população nos serviços de saúde tem ajudado esse grupo a fazer essa conexão por demonstrarem seu entendimento sobre os problemas que afetam a vida em comum, sobretudo daqueles em situação mais vulnerável.
Contudo, é importante um alerta: em meio a busca pelo voto, os médicos candidatos devem se portar de forma ética, transparente, justa e responsável. Essa atitude – que deve existir durante e após o pleito - atestará seu grau de preparação e de competência para atuar em favor do bem comum, sempre com idoneidade.
Se eleito, deverá demonstrar que leva consigo o compromisso de tornar a saúde um tema de destaque nos debates políticos. É por meio desse empenho que as transformações poderão vir, contribuindo para que o Estado possa acolher com dignidade aqueles que buscam a rede pública de assistência.
Assim, independentemente de partidos e ideologias, o médico precisa demonstrar que está imbuído do espírito da cidadania, seja como candidato ou como eleitor. Rondônia, assim como o restante do País, conta com pessoas com esse perfil no mundo da política.
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