Em audiência na Câmara, associação ameaça com nova greve de caminhoneiros
Representante do governo disse não acreditar em uma nova greve, em razão de o governo estar em “constante diálogo” com a categoria
José da Fonseca Lopes alertou para uma nova greve de caminhoneiros, como a que aconteceu em maio de 2018 Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Caminhoneiros confirmaram que podem entrar em greve caso o governo não reveja a política de reajuste do diesel, nem melhore as condições de trabalho da categoria. O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, deu o alerta nesta quarta-feira (8), em audiência na Comissão de Viação e Transportes. Uma nova paralisação, como a que ocorreu em maio de 2018 e gerou uma crise de abastecimento em todo o País, pode se repetir.
“O que vem por aí é coisa feia, muito feia. Se o governo não se atentar para isso, nós vamos ter um problema muito sério. Aí não vai ter Exército, não vai ter nada, porque ninguém vai ter combustível. Como é que vai fazer? Se acontecer, é para desestabilizar o País. Eu não vou participar disso e não quero isso, mas já estou dando o alerta, como dei da outra vez”, declarou Lopes.
Recentemente, a Petrobras decidiu pela revisão do preço do diesel a cada 15 dias, uma periodicidade considerada curta pelos caminhoneiros autônomos, ainda que até então os valores vinham sendo reajustados em intervalos menores, às vezes diariamente. Um dos pedidos é para que essa revisão ocorra pelo menos a cada três meses, por exemplo, para que motoristas não sejam surpreendidos no meio de uma viagem com o aumento no valor do combustível.
“Não temos condição de negociar preço a cada semana, a cada dia. É mais fácil suportar preços internacionais do que a volatilidade que, esta sim, acaba matando”, afirmou o presidente da Confederação Nacional do Transportes (CNT), Vander Francisco Costa.
O preço médio do diesel nas refinarias hoje é de aproximadamente R$ 2,3 por litro. Em menos de dois anos, o combustível acumulou aumento de quase 70%.
Diálogo
O secretário executivo do Ministério da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, disse não acreditar em uma nova greve, em razão de o governo estar em constante diálogo com os caminhoneiros. A pasta acaba de lançar uma linha de crédito no valor de R$ 30 mil para cada caminhoneiro, voltada para a manutenção dos veículos.
“Nós acreditamos que esse diálogo que tem sido feito com a categoria, com os autônomos, com as transportadoras, tem sido eficaz, eficiente. Nós acreditamos que encontraremos um ponto, uma solução em conjunto", afirmou o secretário.
José da Fonseca Lopes disse reconhecer o trabalho do governo atual, mas as reivindicações mais urgentes não estariam sendo atendidas. “Tudo o que está sendo colocado aqui é para médio e longo prazo. Precisamos de uma coisa para ontem. Para ontem é controlar o preço do óleo diesel. Em vez de a Petrobras querer vender 11 refinarias, ela deveria construir mais 11”, reforçou. Outro pedido de Lopes é para que se estabeleça um frete mínimo negociado entre representantes de caminhoneiros, do agronegócio, da indústria e do comércio, apenas confirmado pelo governo.
Cartão
Outro anúncio recente do governo – o Cartão Caminhoneiro – também não é do agrado da categoria. Os participantes da audiência acreditam que ele favorecerá os postos da Petrobras, por permitir a compra de litros de diesel a preço fixo nos postos com a bandeira BR.
“É uma medida como qualquer outra de fidelidade de consumo”, disse o presidente da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), Diumar Bueno. O deputado Bosco Costa (PR-SE), um dos que sugeriram a audiência, também acredita que o cartão criará um monopólio.
Bueno defendeu ainda outras formas de baixar o custo para caminhoneiro autônomo, como uma política de preços menores para pneus e uma efetiva fiscalização das leis que já existem em benefício da categoria.
Ausência
Outra reclamação na audiência disse respeito à ausência de representantes da Petrobras. O deputado Bosco Costa disse que apresentará requerimento convocando o ministro de Minas e Energia para prestar esclarecimentos, se for necessário. “A Petrobras não poderia estar ausente de um convite em um momento muito grave. Se o Brasil parar, quem perde são 210 milhões de brasileiros”, lamentou.
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