Entre a abismal dignidade invisível, e a iniquidade visível que envergonha

Qual paralelo que pudemos traçar, face a essas duas realidades tão díspares?

Edilson Lôbo
Publicada em 19 de outubro de 2017 às 15:19

Duas imagens povoaram o meu imaginário, em relação aos últimos episódios protagonizados pelo Congresso Nacional brasileiro, que foram, a absolvição de Aécio, e a rejeição a admissibilidade de se investigar o Presidente Temer, e um documentário que assisti, desnudando a realidade de uma comunidade catadora de lixo.

Qual paralelo que pudemos traçar, face a essas duas realidades tão díspares? Por incrível e paradoxal que possa parecer, vimos mais dignidade, honestidade e compromisso com valores éticos naquela comunidade, que a deprimente postura de uma imensa maioria de congressistas, que nababescamente conduzem suas vidas, regadas a privilégios e a toda sorte de benefícios que o cargo lhes proporciona.

 Uma imensa desigualdade, que já começa pelo dispêndio de energia que é posta em movimento, por uma força de trabalho mais intelectualizada, comparada com a força bruta de um catador de lixo.

 A diferença também está, na intensidade da jornada de trabalho das pessoas que congregam essas duas realidades. Uma em muitos casos, beira a indolência, pelos dias trabalhados e pela ausência de uma participação mais efetiva nas atividades congressuais. Na outra, uma inglória labuta estafante, em que, uma legião de pessoas, desde as primeiras horas da manhã, chafurdam numa montanha de lixo, garimpando as “melhores peças”, que ao final do dia, lhes renderá o sustento da família, no âmbito de uma precariedade que impacta, pelas condições humanas das mais degradantes.

Dois mundos, duas realidades, dois caminhos traçados por objetivos, como não poderia deixar de ser, que absolutamente não se cruzam, mas pelas condições em que cada um se coloca no cotidiano da vida, nos possibilita, nesse grave momento que atravessamos, a uma profunda reflexão.

O aspecto mais substancial que pode-se abstrair dessas duas situações, é o de como, a elite congressista brasileira, articulada com a elite executiva, com o apoio de outros segmentos, contribuem para a ampliação e a intensificação da desigualdade em nosso País.

O espetáculo dantesco que presenciamos nos últimos meses, com uma série de delações que ensejou denúncias do ministério público e Procuradoria Geral da União, culminando numa robusta denuncia apresentada pelo então Procurador da República, Rodrigo Janot, com inúmeras demonstrações de ilícitos, não deixando dúvidas, sobre o caminho e os meandros da corrupção instalada de forma sistêmica nas diversas instâncias de poder do nosso País.

As articulações entre agentes públicos e privados, que se retroalimentam continuamente, em governos que se alternam, criou uma estrutura organizada do roubo, que faz sangrar bilhões de reais todos os anos, irrigados pelos cofres estatais e pela inciativa privada, que a esta retorna, em forma de incentivos, concessões, contratos e toda sorte de mecanismos criados para esse fim.

A filmagem de uma mala em posse do deputado Rocha Loures com 500 mil, resultado de propina da JBS, os dois milhões de Aécio Neves idem, e os 51 milhões encontrados num apartamento em Salvador, de propriedade do deputado Geddel Vieira, dá bem a dimensão, do quanto o roubo é livre nesse universo republicano, e de quão estratosféricas são essas cifras.

Estimativas apontam, a depender da fonte, que anualmente, a corrupção no Brasil, chega a patamares em torno de 200 bilhões de reais. Se considerarmos que essas cifras podem estar subestimadas, considerando as dificuldades de quantifica-las com exatidão, verifica-se que essas, poderiam ser aplicadas em setores estratégicos da nossa economia, implicando em investimentos, que ampliariam o multiplicador do emprego e renda. Em tais circunstâncias, contribuiria para um processo de inclusão, diminuindo ano a ano, as desigualdades sociais.

É nessa perspectiva, que traçando um paralelo entre a elite corrupta brasileira, e os excluídos dos lixões por esse País a fora, e demais pessoas colocadas em outras áreas de igual vulnerabilidade, ao ser estancado esse processo, ou pelo menos inibido ao máximo, criam-se as condições  favoráveis com os recursos daí decorrentes, para os investimentos, que em algum momento, os seus reflexos, podem alcança-los.

Importante ressaltar, e isso é fundamental, os catadores que protagonizaram o documentário mencionado, em que pese a situação de penúria que vivem, trabalham com dignidade, são solidários, compartilham as suas angústias e sonhos, na perspectiva de um dia, conseguirem honestamente, uma mudança em suas vidas.

Trágico é constatar, que esses, são valores raros de se encontrar, naqueles a quem confiamos o direito de legislar, programar, planejar e executar todas as ações e políticas, que deveriam estar em sintonia, com as aspirações da maioria do povo brasileiro. Lamentavelmente, uma quadrilha de malfeitores, tomou de assalto os poderes da Republica, frustrou os sonhos de uma sociedade, e descaracterizou a função nobre de bem servir ao público.

Com todos esses procedimentos de completo escárnio, e a forma acintosa com que debocham da sociedade, é que a classe política, mergulhou as principais instituições republicanas, numa profunda crise de autoridade, de representatividade e de credibilidade, levanto de resto, o País, a um dos seus piores momentos histórico.  

Comentários

  • 1
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    Duanny Pinto Neves 19/10/2017

    Meus cumprimentos mestre Lobo.

  • 2
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    Andre 19/10/2017

    Texto bonito professor Lôbo, mas CADEEEEEEEEEÊ MINHA NOTA DE ECONOMIA REGIONAL, PRECISO ME FORMAAAAAAAAAR!!!!!!

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