Entrevista: infectologista Joana D’arc explica os diferentes tipos de herpes
A herpes é uma infecção sexualmente transmissível (ISTs) que tem várias manifestações e pode causar uma série de incômodos, principalmente as conhecidas lesões que aparecem e somem, saiba mais sobre a doença
Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 60% dos brasileiros acima de 18 anos afirmam não usar preservativo em relações sexuais. Em nenhuma vez. Com esse comportamento de risco, as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) acabam se proliferando de forma rápida. Em 2019, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, aproximadamente um milhão de pessoas afirmaram ter diagnóstico médico de ISTs. Essas doenças são causadas por vírus, bactérias e outros microorganismos, e são transmitidas principalmente por meio de relações sexuais desprevenidas.
Uma dessas ISTs é a herpes, que tem várias manifestações e pode causar uma série de transtornos, principalmente as conhecidas lesões que aparecem e somem com frequência. Uma pessoa sem lesões está curada? O vírus que causa herpes simples é o mesmo da genital? Como tratar a doença? Para sanar essa e outras dúvidas conversamos com a infectologista Joana D’Arc. Confira os principais trechos da conversa abaixo.
Brasil 61: Como identificar a herpes?
Dra. Joana Darc: A infecção por herpes pode ser assintomática. Geralmente algumas pessoas vão desenvolver sintomas e outras não. Entre 13% e 37% das pessoas que se infectam são as que vão apresentar alguma manifestação clínica, então é difícil muitas vezes você saber se uma pessoa tem ou não herpes.
Brasil 61: Quais são as diferenças da herpes simples e da herpes genital?
JD: Existem vários tipos de herpes. O vírus é uma família, e a gente tem o herpes tipo 1, herpes tipo 2, o próprio citomegalovírus, o herpes zóster, entre outros. Mas os mais comuns, que causam muito incômodo, são o herpes tipo 1 e o herpes tipo 2.
Geralmente o tipo 1 ele acomete mais a mucosa oral, aquelas vesículas que aparecem na cavidade perioral e em outras partes do corpo. Já o tipo 2 é mais frequente em regiões de genitália, pênis, vagina e colo do útero.
Brasil 61: Quais os principais sintomas?
JD: Os sintomas aparecem geralmente após 7 dias da infecção. São algumas manchas, uma base vermelha, e elas se tornam elevadas e formam umas vesículas que vão ter dentro um conteúdo transparente, que a gente chama de citrin. Elas podem surgir tanto na cavidade oral como na genitália, ou em alguma parte da pele. A primeira infecção, a “prima” da infecção, geralmente pode ser mais sintomática. A pessoa pode ter febre, mal estar, dor no corpo.
Na mulher ela pode ter ardor para urinar, similar a uma infecção urinária. E se estiver no colo do útero pode ter algum corrimento por vezes até abundante. Também pode ter adenomegalia, que são aqueles caroços que aparecem na região urinal, 50% das pessoas podem ter esse tipo de manifestação. Esse quadro desaparece em torno de duas a três semanas, e aí depois dessa primeira infecção, entre 60% e 90% das pessoas, dependendo da população, você pode ter quadros de reativação após 12 meses. Essa reativação é o surgimento das vesículas, e esse surgimento das vesículas está associado a alguns fatores que podem estimular como calor, estresse, a menstruação, doenças imunosupressoras, algum evento infeccioso, isso acontece porque o vírus fica latente nas terminações nervosas.
Depois que você se infecta ele passa para essa região das terminações nervosas e aí fica quietinho e quando o seu organismo, por uma questão de redução de imunidade, ou algum fator externo, aí o vírus tem condições de replicar e acaba produzindo de novo as vesículas.
Brasil 61: O desaparecimento dos sintomas significa que a pessoa está curada?
JD: O desaparecimento do sintoma não significa que a pessoa está curada. Como eu falei, esse vírus fica latente nas terminações nervosas, e em algumas pessoas ele vai reativar, é quando reativar a gente precisa ter um tratamento tanto profilático quanto curativo, para aliviar as lesões, mas ele não vai desaparecer do nosso organismo.
Brasil 61: Como ocorre o contágio e como se prevenir?
JD: A transmissão do herpes 1 e 2 é por contato com as secreções. Geralmente o herpes tipo 1 pode ser transmitido também ao compartilhar objetos como copos e talheres. Existe também a possibilidade de transmissão por meio de outros objetos, objetos sexuais, quando você compartilha. Mas uma das principais vias de transmissão, principalmente do herpes 2, é a sexual, porque é um momento de maior intimidade, maior proximidade, e aí o risco de transmissão dessas doenças de contato é maior.
Brasil 61: Como acontece o diagnóstico e qual a importância do diagnóstico precoce?
JD: O diagnóstico é clínico, por meio de sorologias, por meio de análise da secreção das vesículas para fazer o exame laboratorial por meio de biologia molecular para identificar o tipo de vírus que está acometendo o indivíduo, essas são basicamente para o diagnóstico.
Brasil 61: Para quem descobre que está infectado, tem cura e tratamento?
JD: O tratamento vai ser com antivirais para diminuir a proliferação e a exacerbação dessas lesões. Existem vários tipos de antivirais que são utilizados para essa fase aguda do paciente. Tem também um tratamento que a gente chama de supressão viral, que é por meio de antiviral, que a pessoa fica tomando a medicação por um período prolongado para diminuir a replicação viral e suprimir as reativações, e a gente tem também a intervenção nos fatores de risco, déficit nutricionais, desequilíbrios metabólicos, tudo o que pode estar levando o organismo a um desequilíbrio que possa favorecer a reativação das lesões. Então o tratamento é complexo e individualizado.
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