Exaltando a democracia
A democracia é a melhor forma de governo. Nisso concordamos. Mas, convenhamos, será que estamos construindo a democracia que desejamos?
Muitos são os brasileiros, principalmente políticos, que se não cansam de exaltar as vantagens do regime democrático. Alguns o fazem até com certo grau de emoção que chega a contagiar circunstantes. E não é sem razão. A democracia é a melhor forma de governo. Nisso concordamos. Mas, convenhamos, será que estamos construindo a democracia que desejamos? Será que um dia vamos conseguir conciliar um projeto sério de desenvolvimento com o regime que temos, infectado pelo vírus da corrupção que grassa nos quatro cantos do país, como erva daninha? Como manter e ampliar princípios de decência, fundados na mais ampla representação da sociedade politicamente organizada, em estruturas arcaicas, carcomidas pela podridão de acordos espúrios, que subvertem e fere de morte o ideário da Constituição e da nacionalidade, maculado pela apropriação criminosa de recursos públicos? Até quando teremos que conviver com condutas incompatíveis com a ética no manuseio da coisa pública?
O Brasil é um dos trinta e oito países onde o voto ainda é obrigatório, e está entre os dezessete que aplica algum tipo de punição a quem deixar de votar. E o que dizer do cidadão que deixar de atender a convocação para trabalhar nas eleições? Mesmo em tempos de pandemia, e justificando a ausência por conviver com pessoas consideradas vulneráveis ao vírus da Covid-19, corre o sério risco de pagar uma multa. Mas é assim que as coisas funcionam por aqui. E ponto final.
Dias atrás, um senador foi apanhado pela Policia Federal, com notas de reais na cueca. Como punição, colegas o presentearam com trinta dias de licença remunerada. É mole? A competente Policia Federal de Rondônia filmou um parlamentar recebendo propina. E o que aconteceu? Até agora, nada. Em um país sério, ele já teria sido afastando de suas funções. Isso para dizer o mínimo. Mas, no Brasil, não! Por quê? Simples! Vivemos no país do jeitinho, do corporativismo, do empurra com a barriga, do toma-lá-dá-cá, onde muitos confundem imunidade parlamentar com impunidade penal, quando o bom-senso manda que os fatos sejam devidamente apurados e os considerados culpados rigorosamente punidos, até para que sirvam de exemplos.
Desgraçadamente, o que se tem visto, em alguns casos, inclusive, próximos de nós, é o lixo sendo empurrado para debaixo do tapete. Para esses, dane-se o destino da democracia, conquistada a duras penas, inclusive com as vidas de muitos brasileiros e, por isso mesmo, precisa ser preservada a qualquer preço, como bem maior do cidadão, do povo, enfim. No fundo, pouco importa para essa gente que a democracia continue sendo exposta a toda sorte de bandalheira.
A tão propalada transparência, a colocação das cartas sobre a mesa e a linguagem direta e sem subterfúgio, só existem no discurso de uns poucos, porque, na prática, a realidade é outra. Senhores parlamentares, acordem, pelo amor de Deus! Será que os senhores não veem que esse tipo de comportamento nada agrega de valor à democracia? Será que é tão difícil assim aprender com os próprios erros? Lembrai-vos das folhas paralelas e “otras cositas más”.
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