Fantasmas, rachadinhas, milícias: Queirozgate persegue capitão até nas arábias
Na entrada e saída de suntuosos hotéis, repórteres cercam Bolsonaro nos saguões para falar sobre as últimas do Queiroz, que está dando com a língua nos dentes
Ricardo Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.
"Cada vez mais fora de controle, o capitão não aguenta mais tratar desse assunto, que voltou às manchetes com os áudios do Queirozgate vazados para a Folha e o Globo", escreve Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia. Estão sendo desvendadas "contratação de laranjas, rachadinhas, milícias reais ou virtuais, laranjais" envolvendo o clã Bolsonaro, complementa
Por onde passa, em sua vexatória vilegiatura pela Ásia e Oriente Médio, ninguém quer saber de acordos comerciais ou alianças políticas.
Na entrada e saída de suntuosos hotéis, repórteres cercam Bolsonaro nos saguões para falar sobre as últimas do Queiroz, que está dando com a língua nos dentes.
Cada vez mais fora de controle, o capitão não aguenta mais tratar desse assunto, que voltou às manchetes com os áudios do Queirozgate vazados para a Folha e o Globo, desnudando o modus operandi do quarteto presidencial, com contratação de laranjas, rachadinhas, milícias reais ou virtuais, laranjais, o diabo a quatro.
Como não entende o que seus anfitriões falam, e não levou tradutor, carregando a tiracolo apenas Hélio Negão e o pastor Feliciano, Bolsonaro não tem mesmo o que falar à imprensa, além de responder aos esqueletos que deixou no armário ao sair do Brasil.
“Quem falou foi o Queiroz. Não somos casados”, tentou despistar o capitão presidente em Abu Dabi, nos Emirados Árabes Unidos, antes de embarcar para o Catar.
Queiroz mostra nos áudios que está apavorado com o que pode acontecer nos vários crimes em que é _ ou deveria ser _ investigado pelos órgãos de controle.
“O Ministério Público está com uma pica do tamanho de um cometa para enterrar na gente e não vem ninguém agindo”, desabafou em seu fino linguajar, no mesmo estilo do capitão.
Mas Queiroz está sendo injusto. Uma decisão do presidente do STF, Dias Toffoli, mandou parar todas as investigações sobre o que Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz fizeram no verão passado.
Ao tentar mudar de assunto, Bolsonaro comentou a eleição do peronista Alberto Fernandéz na Argentina, derrotando Maurício Macri, o aliado dele.
“Argentinos escolheram mal (…) É um afronto (???) à democracia brasileira”, disparou, sobre o apoio do presidente eleito à campanha por Lula Livre.
Seria melhor que ele continuasse falando sobre suas relações com Queiroz, em vez de ofender na mesma frase a língua portuguesa, os eleitores argentinos e o seu presidente, eleito no primeiro turno.
Em outra entrevista a jornalistas, já nem lembro onde, o capitão resolveu fazer uma ameaça à TV Globo, cujo contrato de concessão vence durante o mandato de Bolsonaro:
“Tem empresa que vai renovar contrato brevemente, eu não vou perseguir ninguém. (Mas) para quem estiver devendo, vai ter dificuldade. Então os órgãos de imprensa jogam pesado para ver se me tiram de combate para facilitar sua vida”.
Só queria saber quanto está custando esta viagem de Bolsonaro, passeando pelo mundo com sua alegre comitiva para comer hamburguer e miojo, e quais os resultados práticos para o Brasil.
Na volta, poderia convocar uma entrevista coletiva para prestar contas.
Mas todo mundo só vai querer saber sobre as peripécias do Queiroz…
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