Gonet e Moraes não têm tanto tempo para reagir às afrontas da extrema direita
“O bolsonarismo fortalecido pela vitória de Trump testa a paciência e as forças do Ministério Público e do STF”, escreve o colunista Moisés Mendes
Alexandre de Moraes e Paulo Gonet (Foto: STF / Agência Senado)
Jornalistas que fingiram acreditar numa bobagem estão telefonando para Michel Temer para saber o seguinte: os filhos de Bolsonaro e outros emissários de Trump e Elon Musk podem assustar Alexandre de Moraes?
A outra pergunta que fazem ao ex-presidente é essa: é verdade que o senhor foi convidado a ser o vice de Bolsonaro em 2026, se o inelegível voltar a ser elegível?
A bobagem que leva parte do jornalismo da grande imprensa a consultar o ex-presidente é mais do que uma especulação, é quase uma fake news. Temer seria um escudo como vice poderoso de Bolsonaro.
Nas respostas que já ganharam manchete, o entrevistado diz que o ministro indicado por ele não teme pressões e ri da especulação sobre a sua volta à política nos braços da extrema direita. A um dos repórteres, disse: “Achei estranhíssimo”.
A história da candidatura, espalhada pelos jornalistas amigos da família, é mais uma tentativa de criar fatos pró-golpistas. Esse agora sobre Temer tem a intenção de criar também um constrangimento: o padrinho de Moraes poderia ser a bala de prata do chefe das facções cercadas pelo próprio Moraes.
O golpista de 2016 não é tão amador. Mas assim será a partir de agora, com a extrema direita fortalecida pela eleição de Trump. Todos os dias teremos notícias dos filhos de Bolsonaro e seus ajudantes mandando recados a Moraes.
Para que devolva o passaporte ao pai e para que não resista à ideia da anistia aos golpistas em articulação no Congresso. Agora, nós somos os amigos de Trump, de Musk e da América, esse é o recado.
Os avisos, alguns do próprio Bolsonaro e em tom de desaforo, tentam intimidar o ministro em relação não só ao chefe do golpe, mas a golpistas militares e civis que estão nos inquéritos à espera de conclusão da Polícia Federal e de resolução de Paulo Gonet na Procuradoria-Geral da República.
É claro que a turma não está preocupada com os manés do 8 de janeiro, mas com os que empurraram a manezada para a invasão de Brasília. Tentam salvar os chefes, começando por Bolsonaro, para livrar também grandes empresários que as corporações de mídia esqueceram, porque devem ser protegidos.
Esse é o cenário pós-eleição municipal e pós-eleição de Trump. O voto já cumpriu sua função esse ano, aqui e lá fora. No Brasil, uma eleição só vai se repetir em 2026, nas disputas de mandatos para deputados estaduais e federais, governadores, senadores e presidente da República.
Até lá, todo o tempo disponível é, com prioridade, do sistema de Justiça. É o tempo do fim da hibernação do Ministério Público e do Judiciário.
Enquanto o tempo corre, sabemos que o próprio Trump enviará recados diretos ao STF. E que Elon Musk fará o mesmo, descaradamente. É só esperar.
Nos Estados Unidos, o previsível é que a Suprema Corte de maioria conservadora, há muito tempo leniente e acovardada, será amordaçada e transformará os processos contra Trump em bolos abatumados.
Aqui, o tempo corre mais rápido contra MP e Supremo, e ninguém deve descartar a hipótese de que, com novas circunstâncias e imprevistos, mais adiante a inércia também abatume muito do que existe contra o golpismo.
Intensifica-se a ofensiva da extrema direita para testar as forças e os limites de Gonet e Moraes. O tempo para a resposta ao cerco do fascismo passa a ser contado em dias e semanas, e não mais em meses e anos.
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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Bolsonarimos é um cabresto para o livre pensamento. Essas pessoas seguem os passos dos alemães na década de 1930.
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