Inércia das instituições: a aposta de Bolsonaro

Bolsonaro coleciona diferentes crimes que justificariam o seu afastamento do cargo de presidente. Entretanto, as instituições seguem ignorando as ameaças e o flerte com o autoritarismo. O Congresso Nacional, ao fugir das suas prerrogativas e não agir contra os atentados à Democracia, se mostra acovardado ou no mínimo conivente com a escalada autoritária

Randolfe Rodrigues
Publicada em 11 de maio de 2020 às 17:13
Inércia das instituições: a aposta de Bolsonaro

Bastaram surgir informações de que os filhos do presidente estariam por trás das redes de disseminação de fake news organizadas pelo chamado “gabinete do ódio” para Bolsonaro incrementar os ataques perpetrados contra a Democracia. Dessa vez, a elevação do tom foi acompanhada por ações organizadas de seus apoiadores, inclusive com o uso de violência psicológica, verbal e física contra opositores da genocida necropolítica bolsonarista.

A crise sanitária associada a crise econômica e somada à crise política iniciada com a saída de Sérgio Moro do governo tem se desenhado como uma espécie de tempestade perfeita a ser enfrentada por Bolsonaro. Não era segredo para ninguém a sua completa inaptidão para o cargo, e os desafios advindos com esta pandemia do novo Coronavírus escancarou a incompetência do presidente. Refém das próprias mentiras, resolveu então radicalizar.

Sua base de apoio, imersa numa narrativa falaciosa da realidade, não mais esconde o ódio que os une e agride deliberadamente quem se opõe ao governo. As cenas de bolsonaristas agredindo profissionais de saúde que se manifestavam em silêncio na Praça dos Três Poderes no Dia do Trabalhador mostram a gravidade da situação, além de exigirem ação enérgica das instituições contra o arbítrio perseguido por Bolsonaro e apoiadores.

Os ataques verbais do presidente à imprensa agora são acompanhados de agressões físicas de seus apoiadores contra jornalistas. A exemplo dos profissionais de saúde, profissionais da imprensa foram agredidos, com chutes e socos, por uma horda concentrada em frente ao Palácio do Planalto em pleno Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Foi quando Bolsonaro disse não aceitar mais interferências em seu trabalho, afirmando ter o apoio das Forças Armadas para isso.

Coincidentemente - ou não - tudo aconteceu na mesma semana em que um acampamento de bolsonaristas foi erguido na Esplanada dos Ministérios com o objetivo declarado de fechar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, além de exterminar definitivamente a esquerda no Brasil. Na lista de atividades, treinamentos militares em áreas rurais do DF com especialistas em táticas de guerrilha e cooptação de pessoas. São os “300 do Brasil”.

Qualquer observador minimamente familiarizado com a Ciência Política e mais particularmente com a nossa historiografia seria capaz de identificar nessa escalada de Bolsonaro a preparação do ambiente para uma ruptura institucional. As bases foram mobilizadas e os inimigos estão nomeados. O terror espalhado pelos seus apoiadores, agredindo fisicamente quem se opõe a Bolsonaro, é o teste final para saber como as instituições irão se comportar.

Até aqui, Bolsonaro coleciona diferentes crimes que justificariam o seu afastamento do cargo de presidente. Entretanto, as instituições seguem ignorando as ameaças e o flerte com o autoritarismo. O Congresso Nacional, ao fugir das suas prerrogativas e não agir contra os atentados à Democracia, se mostra acovardado ou no mínimo conivente com a escalada autoritária. O parlamento não pode se conformar com um déspota na presidência. É hora de agir!

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