Isolamento social ou para recuperação da doença transportam para o celular a emoção do Dia das Mães
O Dia das Mães no próximo domingo será totalmente diferente dos anteriores. Em tempos de pandemia e sem as tradicionais reuniões em família, os encontros e reencontros serão todos peor videochamadas no celular
Cleide Bonfim (d) conversa com a filha Gisele, enfermeira que se recuperou da Covid-19 e retornará ao trabalho segunda-feira
O isolamento causado pela Covid-19 é social e não emocional. Não existe barreira que separe o amor entre mães e filhos, nem mesmo o distanciamento devido à pandemia mundial. Eles irão se ver e conversar novamente por videochamadas, no próximo domingo.
Cleide Bonfim de Oliveira, 56 anos, é mãe de quatro filhos. A caçula é a enfermeira Gisele de Oliveira Silva, 28, que mora atualmente em um apartamento no bairro Aponiã, e sairá na próxima segunda-feira da quarentena para retornar ao trabalho normal.
Acometida pela Covid-19, Gisele teve que deixar temporariamente o seu trabalho em um hospital particular e ficar separada da família, que mora a menos de 500 metros.
"Moramos tão perto, mas não nos reunimos nesse período agora; ficou difícil pra nós, todos de máscaras, eu não imaginava que um dia deixasse de dar carinho aos filhos e aos quatro netos”, conta a mãe.
Em videochamada igual àquelas que têm motivado a sua rotina na recuperação da saúde, ela irá homenagear a mãe no domingo. Nesse período de quarentena, pai e mãe chegaram no máximo até a porta do apartamento de Gisele, para lhe entregar alimentos. “Não nos tocamos, os contatos têm sido bem rápidos, o suficiente para a bênção e o desejo de bom dia ou boa noite”, observou o pai, Nilson dos Santos Silva.
A filha, depois de 14 dias de isolamento: “Olha, ficar assim como fiquei é ruim, mas é importante para evitar o contágio de familiares e de outras pessoas”. Gisele disse que aprendeu a valorizar sua alimentação e considerou essencial “ter boas reflexões” sobre a família: “Com certeza, depois do que me aconteceu, irei valorizar muito mais a oportunidade de estarmos sempre próximos, uns dos outros”.
Foi diferente e melhor no ano passado, conta a enfermeira Raquel Gil Costa, 40, diretora do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro.“Eu trabalhava no Cemetron (Centro de Medicina Tropical de Rondônia), e fizemos um café da manhã com sorteio de brindes, em ambiente de muita alegria”, lembra-se.
Raquel Gil Costa, 40, diretora do Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro
Desta vez, abraços e beijos serão a distância. Ela gravará mensagem em vídeo para distribuí-la a todas as mães que trabalham no HB, onde a maioria do corpo de enfermagem é constituída por mulheres.
“Notamos que todas estão cuidadosas e até certo ponto temerosas, porque os filhos deixaram de ficar em creches e só o isolamento evita a contaminação; algumas não têm maridos em Porto Velho”, relatou Raquel Gil.
Devido às jornadas mais intensas no hospital, ela não pôde ver a mãe, que fez 78 anos no dia oito de abril, no bairro Embratel. No seu próprio aniversário, dia 15, ela recebeu ligação em vídeo, da mãe. “Eu me sensibilizei muito, porque esta é a primeira vez que acontece isso em minha vida, e tem acontecido com muitas pessoas no Brasil e no mundo”.
SEM REUNIÃO E SEM ALMOÇO EM FAMÍLIA
A psicóloga Elizete Gonçalves, 40, mestranda na Universidade Federal de Rondônia, funcionária da Secretaria Estadual de Educação e de um hospital particular, quis homenagear as mães de todos os profissionais da saúde, educação, assistência, segurança, terceiro setor e demais locais que estarão distantes das mães no próximo domingo.
Os filhos Benjamim, de um ano e seis meses, e Liz, 17, a emocionam: “Mãe é o nosso primeiro amor da vida e é também a ela que recorremos nos momentos de medo, insegurança e fragilidade, porque sabemos da sua força e acolhida”.
A psicóloga acredita que, talvez, o momento proporcione a reinvenção de formas para se demonstrar o afeto sentido pelas mães.
“Neste domingo, em muitas casas não teremos a mesma reunião e almoço juntos, mas poderemos ter o mesmo sentimento e vínculo afetivo que une as famílias”, recomendou.
Psicóloga Elizete Gonçalves: “Usem a videochamada, esse distanciamento será breve”
“Ao me tornar mãe da Liz e do Benjamim, pude entender o lugar e o sentir da minha mãe, dona Elizabete, assim como os olhares dela em direção a mim, na medida em que me via crescer; eu percebo esses olhares em mim, direcionados aos meus filhos hoje: olhar de amor, de cuidado, de orgulho, de realização, por vezes de medo e saudades, em algumas ocasiões de questionamento: será que estou fazendo o trabalho certo”, ela contou.
Recebendo de volta o sorriso, o abraço e o olhar de amor desses filhos, ela diz que o seu coração enche de alegria: “É a certeza para continuar acreditando que está tudo bem, que só preciso ser a mãe que eles amam, e tudo fica em paz”.
Em tempos de distanciamento social, muitas mães distantes dos filhos não receberão esse olhar de amor descrito por Elizete. “Neste momento, temos muitos filhos lutando para manter a vida nos hospitais e unidades de saúde em todo o país, e provavelmente não estarão com as mães no próximo domingo, assim como não estiveram em outros domingos que passaram desde que o contexto da pandemia foi instalado, e por causa disso, também não terão o seu abraço, outros, o colo materno”, acrescentou.
Assim, conforme ela recomenda, as mães deverão manter seus telefones ligados para receber videochamadas em seu dia. “E acreditem, esse tempo de distanciamento dos que amamos será breve, e por causa desse momento estejamos em casa, e em cada lar onde houver uma mãe esperando o seu filho e filha voltarem; e o meu desejo de consolo e força para seguirem com a memória e gratidão do tempo que fora concedido para estarem juntos”.
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