Jararaca-de-alcatraz poderá reduzir risco de extinção
Especialistas se reuniram na Oficina de Avaliação do Estado de Conservação das Serpentes Brasileiras, que aconteceu em novembro, no ICMBio, mas informação do rebaixamento de categoria da espécie requer validação no próximo encontro, que deverá ocorrer no primeiro semestre de 2020
A serpente jararaca-de-alcatraz (Bothrops alcatraz) poderá sair da lista das espécies classificadas como Criticamente em Perigo (CR). Entretanto, o rebaixamento de categoria para menor risco ainda não é oficial e poderá sofrer mudanças na próxima etapa de validação, que deverá ocorrer no primeiro semestre de 2020. A possibilidade de rebaixamento da espécie faz parte do resultado da Oficina de Avaliação do Estado de Conservação das Serpentes Brasileiras, coordenada pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN). Foram 28 especialistas reunidos de todas as regiões do país, de 4 e 8 de novembro, na sede do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em Brasília, para avaliar 414 serpentes conhecidas no Brasil.
Das 414 serpentes, 28 foram consideradas ameaçadas de extinção, sendo cinco Criticamente em Perigo (CR), 11 Em Perigo (EN) e 12 Vulnerável (VU). Outras seis foram consideradas Quase Ameaçadas (NT) e 23 como Dados Insuficientes (DD). A maior parte (357 espécies) foi avaliada como Menos Preocupante (LC). Atualmente, 29 espécies de serpentes são consideradas ameaçadas de extinção, de acordo com a lista do MMA, veja aqui.
Segundo os especialistas do RAN, ainda é cedo para tirar uma conclusão geral sobre a situação de conservação das serpentes no país, já que o resultado poderá sofrer alterações. Ainda assim, algumas espécies sairão da lista, enquanto outras entrarão pela primeira vez. A saída de uma espécie da lista ocorre quando informações recentes, principalmente sobre distribuição, mostram que a situação dela não é tão grave como se acreditava anteriormente.
Em algumas circunstâncias a espécie não chega a sair da lista, mas tem sua categoria rebaixada para uma de menor risco, como poderá acontecer com a jararaca-de-alcatraz (Bothrops alcatraz). Essa espécie ocorre somente na ilha dos Alcatrazes, localizada no litoral do estado de São Paulo, próxima ao município de São Sebastião. Algumas ilhas normalmente têm uma população pequena de serpentes e uma distribuição muito restrita, além de serem mais sensíveis a alterações do ambiente, estando mais vulneráveis à extinção do que as espécies do continente.
Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes foi criado em 2017. (Foto:Acervo/ICMBio)
Segundo os especialistas do RAN, o habitat da espécie na ilha foi por muito tempo afetado por treinos de tiros de canhão, o que eventualmente provocava incêndios na área florestal da ilha, onde a espécie pode ser encontrada. Esforços coordenados, que envolveram diversas instituições do setor público, além de ONGs e pesquisadores, apoiados pelo Plano de Ação Nacional para a Conservação da Herpetofauna Insular (atualmente incorporado ao Plano de Ação Nacional para Conservação da Herpetofauna Ameaçada da Mata Atlântica da Região Sudeste do Brasil), contribuíram para que a Marinha substituísse essa área por outra para os treinos. Além disso, essa mobilização resultou na criação, em 2017, do Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes. Assim, a ilha e o habitat da espécie passaram a ser legalmente protegidos.
A jararaca-de-alcatraz continua em risco de extinção, já que possui uma população pequena e vulnerável a alterações ambientais. No entanto, a principal ameaça foi eliminada. Esse é um exemplo de como o envolvimento coordenado de diferentes atores pode contribuir para evitar a extinção de espécies no país, alegam os especialistas.
MapBiomas
Para subsidiar as avaliações, o Núcleo de Geoprocessamento do RAN elaborou, com o uso de dados do MapBiomas (http://mapbiomas.org/), mapas de remanescentes e de perda recente de vegetação nativa, além de análises de fragmentação do ambiente para todas as espécies. O Brasil é um dos países com maior diversidade de serpentes, e os resultados da oficina, somados às informações sobre as espécies compiladas durante o processo, serão de extrema importância para a definição de ações e para a implementação de políticas públicas voltadas para conservação desse grupo.
Participaram da Oficina, que aconteceu na sede do ICMBio em Brasília, 28 especialistas. (Foto:Acervo/ICMBio)
Participaram da Oficina 28 pessoas, sendo 24 especialistas da comunidade científica de todas as regiões do país, três integrantes do RAN, que auxiliaram na facilitação e relatoria, além de uma pesquisadora da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que auxiliou na facilitação para a aplicação do método de categorias e critérios da IUCN, adotado pelo ICMBio na avaliação nacional. O evento, realizado no ICMBio, em Brasília, faz parte do segundo ciclo de avaliação da fauna conduzido pelo Instituto, processo que subsidia o Ministério do Meio Ambiente (MMA) na atualização da Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção, do Ministério do Meio Ambiente.
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