Laudo diz que assassino de Marcelo Arruda tem sequelas de tiros, mas pode cumprir pena em presídio
Legista recomenda que tenha assistência de equipe multidisciplinar, que inclui fonoaudióloga e nutricionista. Família do petista assassinado luta por justiça

O bolsonarista Jorge Guaranho em vídeo exclusivo (Foto: Reprodução/TV 247)
Laudo do Instituto Médico Legal sobre o estado de saúde de Jorge Guaranho, o militante bolsonarista que, em 2022, assassinou Marcelo Arruda, recomenda que ele receba tratamento de nutrição, fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, odontologia e equipe médica.
O laudo, assinado pelo médico legista José Fernando Pereira Rodriguez, foi solicitado pelo desembargador Gamaliel Seme Scaff, do Tribunal de Justiça do Paraná, depois da repercussão negativa do habeas corpus que concedeu a pedido dos advogados de Guaranho.
A liminar foi deferida em 14 de fevereiro último, um dia depois do Tribunal do Júri de Curitiba condenar Guaranho a 20 anos de prisão, em regime fechado, por homicídio qualificado. A defesa argumentou que Guaranho precisava de atendimento que o Complexo Médico Penal - presídio para onde foi enviado – não oferecia.
O Ministério Público do Paraná recorreu, para que Guaranho volte a cumprir a pena como decidido pelo Júri. Chamado de bolsonarista - o que ele negou -, o desembargador determinou, então, que Guaranho fosse submetido a perícia no Instituto Médico Legal.
O exame ocorreu ontem e o laudo foi divulgado hoje. O médico responde assim ao questionamento do magistrado sobre a possibilidade de Guaranho cumprir pena no presídio:
“Vale ressaltar que pode cumprir pena onde houver apoio de equipe de nutrição, fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, odontologia e equipe médica. Precisa ter acesso a serviços de saúde que possam promover os tratamentos indicados desde o início de sua recuperação. O acesso ao tratamento das sequelas das fraturas, sendo a principal a fratura da mandíbula.”
Essas são sequelas dos tiros que levou depois de invadir a festa de Marcelo Arruda, decorada com temas relativos ao PT e a Lula, e atirar no aniversariante para matar.
Para testemunhas ouvidas durante o julgamento, se Arruda, mesmo ferido, não tivesse atirado em Guaranho, este teria matado outras pessoas. O jurado entendeu que Guaranho matou Arruda por intolerância política, o que é motivo fútil, e colocou em risco a vida de outras pessoas.
A promotora Ticiane Pereira, que atuou no júri, considerou que o laudo do IML abre espaço para “questionarmos juridicamente a diferença entre ‘doença grave’ (prevista em lei) e sequelas da ação criminosa causada por ele”.
À pergunta sobre se Guaranho, depois desse laudo, deve voltar ao presídio, a promotora respondeu:
“Entendo que, com esse Laudo, há chances reais do condenado ir para o regime fechado no Complexo Médico Penal.”
O advogado Daniel Godoy, que foi assistente de acusação, atuando em nome da família, também vê o laudo favorável ao cumprimento da pena como decidido pelo júri.
“O laudo indica sequelas existentes, mas ao mesmo tempo aponta que ele está lúcido e orientado, não está incapacitado. Agora é com o CMP, Governo do Estado. Penso ser perfeitamente possível ele ir cumprir pena lá, junto aos demais policiais presos, como já estava anteriormente”, afirmou.
Daniel Godoy disse mais: “Ele tem condições de ser submetido ao regime fechado, com os acompanhamentos e tratamentos necessários, de forma a assegurar, como aos demais na sua condição, o respeito à sua dignidade. Sem nenhum privilégio.”
Já o advogado Rogério Botelho, que também foi assistente de acusação, considerou “o laudo um pouco exagerado ao incluir fonoaudióloga, nutricionista”.
Ele deve voltar ao presídio?
“Particularmente eu acredito que o CMP não tem condições de dar todo este atendimento que o laudo aponta. É provável que permaneça em domicílio”, respondeu Rogério.
Se de fato Guaranho permanecer em casa, será uma grande decepção para a viúva de Marcelo Arruda.
“Nos presídios, existem situações como as dele, as pessoas estão cumprindo pena, com atendimento médico. Então, não vejo problema para ele cumprir, Precisamos aguardar o despacho do desembargador. Mas eu tenho esperança de que ele vá pra dentro da cadeia, ele precisa cumprir”, disse Pâmela Suellen Silva, que é investigadora da Polícia Civil e tentou, naquele dia (9 de julho de 2022), evitar que Guaranho matasse seu marido.
Hoje, Pâmela cuida dos dois filhos que teve com Marcelo: Helena, de 9 anos, e Pedro, de dois. Você verá como ela e os demais parentes de Marcelo vivem e como se mobilizaram por justiça neste caso, no documentário “Marcelo Arruda - Era um dia perfeito para ser feliz”, que está sendo produzido pela TV 247.
Abaixo, o laudo do IML sobre a saúde de Jorge Guaranho:
Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br
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