Líder em educação, Singapura volta-se às emoções dos estudantes

O desafio agora é o desenvolvimento do indivíduo.

Mariana Tokarnia - Repórter da Agência Brasil
Publicada em 06 de maio de 2019 às 08:29
Líder em educação, Singapura volta-se às emoções dos estudantes

Repórter Mariana Tokarnia entrevista o professor da Escola de Políticas Públicas da Universidade de Singapura (NUS) Saravanan Gopinathan. - Divulgação Semesp/Direitos Reservados

Destaque em avaliações e rankings educacionais internacionais, Singapura agora tem o desafio de ultrapassar as notas altas e voltar-se para o desenvolvimento do indivíduo. Os talentos de cada estudante estão sendo respeitados? Os alunos são capazes de serem gentis e ajudar os outros? Essas são algumas das questões que o país pretende solucionar, de acordo com o professor da Escola de Políticas Públicas da Universidade de Singapura (NUS) Saravanan Gopinathan.

“As notas acadêmicas por si só não refletem que tipo de pessoa as obteve. O mundo do futuro, que vai ser muito mais complicado, muito mais imprevisível e fluido, vai exigir um nível de maturidade socioemocional para que ele possa lidar com imprevisibilidade”, diz.

“A preocupação é: como asseguramos que as crianças sejam indivíduos diferentes, que sejam vistas como tendo certas preferências, talentos e ansiedades? Como os professores entendem isso e como o currículo e como a pedagogia refletem essa mudança que precisamos fazer?”, acrescenta.

Gopinathan é um dos palestrantes do curso oferecido pela NUS para líderes do ensino superior. O professor destaca ainda o papel dos professores nesse processo: “Nenhum sistema educacional pode ser melhor que os seus professores e, por isso, passamos muito tempo pensando em como selecionar os professores, como prepará-los e como fazer com que eles se aperfeiçoem e vejam a carreira docente como uma carreira para a vida”.

Competitividade

Voltar o ensino para capacidades socioemocionais é algo que tem sido feito em várias partes do mundo. A própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada pelo Brasil em 2017 para o ensino infantil e fundamental e, em 2018, para o ensino médio, prevê que em todo o período escolar sejam desenvolvidas, além de capacidades acadêmicas, também habilidades socioemocionais.

Singapura, ao tratar dessas questões, mantém-se alinhada ao que está sendo debatido no restante do mundo e talvez, mais uma vez, posicione-se entre os melhores também nesse quesito.

Importância da educação

Estar entre os melhores do mundo é algo estratégico para Singapura. A cidade-Estado não dispõe de fonte de recursos naturais para manter a própria economia. A saída encontrada desde que separou-se da Malásia e passou a ter a configuração atual, em 1965, foi investir em pessoal e mostrar-se boa o suficiente para ser necessária ao mundo. “O custo da liderança é muito alto e nós não podemos custear falhas”, diz Gopinathan.

Uma das escolhas que foram feitas, ainda na década de 1960 já pensando no crescimento econômico da região, foi ter o inglês como língua oficial nas escolas. Ao todo, são quatro: além do inglês, mandarim, malaio e a língua indiana tamil. A maior parte da população, 75%, é chinesa. Mesmo assim, optou-se pelo inglês já pensando na internacionalização, de acordo com Gopinathan.

Hoje, Singapura, que até a década de 1960 era um país em desenvolvimento, é considerada desenvolvida. Atingiu o status de melhor cidade do mundo para se fazer negócios e tem o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre os países asiáticos e o 11º melhor do mundo, segundo dados de 2014 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

“Se se tem uma economia forte, você pode ir a exposições, pode ir para concertos, se não tem uma economia forte, nada disso é possível. A educação é para que as pessoas possam criar empregos”, diz o professor adjunto da NUS N. Varaprasad, sócio do Grupo de Consultoria em Educação de Singapura, que também é um dos palestrantes do curso.

O sistema de ensino é baseado em excelência. Na própria universidade, os alunos são encorajados a morar nas residências estudantis. Isso porque a universidade fica distante das áreas residenciais da cidade e, quanto mais tempo no campus, mais tempo estudando.

Nesse contexto, deixar a competitividade de lado e respeitar as emoções não parece algo simples. Ambos professores usaram em suas falas a mesma expressão: “Amanhã, alguém poderá estar comendo o seu almoço”. Gopinathan complementa: “Estamos sempre estressados e sempre correndo. O medo do desemprego é muito alto”.

Para saber sobre as experiências em educação de Singapura e Índia, além de curiosidades sobre os dois países, clique aqui e acompanhe o Diário de Bordo de Mariana Tokarnia, veja também a galeria de fotos.

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*A repórter viajou a convite do Semesp

Assista a um trecho da entrevista com o professor Saravanan Gopinathan, da Lee Kuan Yew School of Public Policy, da Universidade Nacional de Singapura:

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