Lula está sob custódia militar e sem direitos

O 3º adiamento dá a exata noção da anomalia do judiciário brasileiro, que está tutelado pelas facções militares hegemônicas

Jeferson Miola/Brasil 247
Publicada em 28 de junho de 2019 às 12:26
Lula está sob custódia militar e sem direitos

Lula está sob a custódia das Forças Armadas, não do sistema estatal de justiça. As instituições estão tuteladas pelos militares e impedidas de garantirem o acesso do Lula à justiça, diz o colunista Jeferson Miola

Em 6 meses o STF adiou 3 vezes o julgamento do habeas corpus em que Lula pede sua liberdade devido à atuação interessada, documentalmente comprovada, de Sérgio Moro no processo farsesco para condená-lo, prendê-lo e afastá-lo da eleição presidencial.

O 3º adiamento dá a exata noção da anomalia do judiciário brasileiro, que está tutelado pelas facções militares hegemônicas.

Habeas corpus, no Direito, tem valor equivalente ao atendimento médico urgente, inadiável e improrrogável. Em nenhuma hipótese o socorro imediato pode ser negado se presentes os requisitos para seu pedido; sua negação pode levar a risco de morte do paciente.

Lula, todavia, foi privado desse direito humano vital, a despeito da sua idade avançada e do tempo de prisão ilegal e injusta que está sendo forçado a cumprir.

O ministro Ricardo Lewandowski reclama a jurisprudência do STF em casos idênticos, e deixa implícito que o resultado da votação do STF teria sido favorável à concessão de habeas corpus se não fosse Lula o “paciente” julgado na sessão de 25 de junho de 2019 [aqui].

Dentro do cárcere, Lula ainda padece do banimento das prerrogativas legais e constitucionais que, como ser humano e cidadão, ele é portador.

Até há 2 meses o judiciário mantinha a Constituição suspensa, com a imprensa censurada, Lula amordaçado, sem liberdade de opinião e proibido de ser entrevistado.

Para Lula, a Lei de Execução Penal é letra morta. O judiciário impediu-o de acompanhar o sepultamento do seu irmão, restringiu cruelmente a presença dele no velório do netinho morto, o Arthur; proibiu-o de receber visitas religiosas e cassou a procuração para Haddad atuar na sua equipe de defensores.

O mesmo judiciário que mantém o criminoso e conspirador Sérgio Moro solto e que se recusa a conceder habeas corpus a Lula, autorizou um senador em prisão domiciliar curtir férias nas praias paradisíacas do Caribe! [decisão só revogada depois de muito escândalo na mídia]

O tratamento aviltante e indigno dispensado a Lula não é apenas uma ofensa ao Estado de Direito e à Constituição, mas é uma aberração que distancia o Brasil dos princípios democráticos e dos valores iluministas conquistados pela humanidade no século 18.

O regime de exceção, fascista, não coloca Lula nem acima nem abaixo das Leis e da Constituição, mas à margem do sistema judicial; trata-o como um pária.

Lula está sob a custódia das Forças Armadas, não do sistema estatal de justiça. As instituições estão tuteladas pelos militares e impedidas de garantirem o acesso do Lula à justiça.

Da 1ª instância ao Supremo, passando pelos tribunais regionais e pelo STJ, significativos segmentos do judiciário estão contaminados. É hipócrita e repugnante, por isso, o argumento de que “Lula é culpado porque foi condenado em todas instâncias”.

Num feito inédito na história brasileira, o Comandante do Exército “criou” uma assessoria militar na presidência do STF. A subalternidade de Toffoli é suprema: é Villas Bôas quem designa o general que ocupa o posto de assessor da presidência do STF!

O judiciário está sendo mero executor das ordens contidas nos tweetsdisparados por Villas Bôas de dentro do Palácio do Planalto [aqui].

É descomunal o esforço para impedir, por todos os meios, que Lula seja libertado. O símbolo maior da guerra sem tréguas contra Lula, o inimigo capital do regime de exceção, é a “comovente” determinação do general Villas Boas, cuja dedicação canina aos propósitos do regime lhe cobra um impressionante sacrifício físico e humano que ele julga valer a pena., em nome de um “ódio superior”.

O regime não admite a hipótese do Lula livre. Se Lula for absolvido em algum processo ou alcançar o habeas corpus, nova farsa será usada para condená-lo e mantê-lo sequestrado.

Já programaram sua condenação pelo TRF4 nas próximas semanas na farsa do sítio de Atibaia e, à continuação, acontecerão outras condenações seriadas, já programadas – copiadas e coladas, como fez a “juíza” Gabriela Hardt.

A liberdade de Lula e a restauração da democracia não surgirá de decisões do STF, da concessão dos militares ou do arrependimento da burguesia com a barbárie produzida e que nos envergonha perante o mundo.

Lula só será libertado, a democracia reconquistada e o Estado de Direito restaurado quando houver mudança da correlação de forças políticas na sociedade.

Para isso acontecer, é preciso mudança substantiva no tom e na contundência da luta contra o fascismo e da resistência democrática, inclusive para encorajar alguma reação altiva no STF.

Não existe receita mágica, é preciso pensar e planejar isso estrategicamente. E com urgência.

Lula está sob custódia militar e sem direitos humanos, civis e políticos. A luta por justiça, por democracia e por direitos sociais se combina com a luta em defesa da soberania e da independência nacional e pela liberdade do Lula.

Essa luta fundamental desse período histórico traz novos e desafiadores requerimentos ao bloco democrático e popular.

Jeferson Miola Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial

Comentários

  • 1
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    Sebastião Farias 29/06/2019

    É triste vermos a que ponto chegou o Brasil e, o que se vê e, pior ainda, ouvir-se o que se ouve de onde menos esperamos, quando o assunto é cidadania, direitos, justiça e CF pois, o nível de ignorância, de ódio, de preconceito e de falta de misericórdia das pessoas assustam, pelo alto índice de analfabetos genéricos, inclusive e pior, entre as pessoas de nível superior. Aos que se dizem cristãos, sejam evangélicos, católicos, etc, que apoiam as maldades e injustiças praticadas ao povo e á nação brasileira, é bom irem meditando sobre seus atos pois, se aproxima o grande julgamento de todos, pelo Juiz Supremo, que é Deus. Lembrem e não esqueçam, quando um servidor público ou um juiz, desrespeita a Constituição, desrespeita a ética e as boas práticas jurídicas, desrespeita as leis e, a sua condição de árbitro imparcial do povo, desrespeita os direitos dos cidadãos, desrespeita a justiça imparcial e igual para todos, não promove a justiça nem a paz social, etc, esses cidadãos, não merecem mais, a dignidade da função pública de juiz de direito e árbitro. Ao juiz injusto, és o que lhe aguarda, conforme a Bíblia Sagrada: "Tu não queres nada com juízes desonestos, pois eles fazem a injustiça parecer justiça, ajuntam-se para prejudicar as pessoas honestas e condenam à morte os inocentes. Ele castigará esses juízes por causa das injustiças que eles têm cometido; o Senhor, nosso Deus, os destruirá por causa dos seus atos de maldade.” (SALMOS 94 v. 20-21, 23). Jesus já advertia seus Discípulos e ao povo cristão de seu tempo sobre injustiça: “Se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus” (São Mateus. 5,20). Será que Jesus nos faz um pedido impossível? Que tal, daqui em diante, lermos mais a Bíblia com humildade e, buscarmos com fé e esperança, o Seu amor, a Sua verdade e justiça e, encontrando-as, que são o próprio Deus, dividamo-las, com nossos irmãos. Vamos todos a partir de agora, para o bem do Brasil e de seu povo, tomarmos a iniciativa de levarmos aos cidadãos em quaisquer locais públicos, em shows musicais de quaisquer espécies, nos teatros, nos cinemas, nos eventos sociais e esportivos diversos, nas escolas, nos colégios, nas universidades, etc, a leitura pública de pelo menos, dos 07 primeiros Artigos da Constituição Federal, para lembrar a todos os cidadãos brasileiros e, principalmente, aos que nunca ouviram isso, de que, é o povo que detém o Poder e autoridade constitucional e não, os parlamentares e as autoridades por ele eleitas, assim como os membros do Poder Judiciário nomeados nos termos da CF. Também, vamos, dentro do possível, iniciar nos meios de comunicações que aceitarem o desafio e nas redes sociais do país, uma Campanha Nacional de Conscientização Política e Cidadania, para que os cidadãos brasileiros sejam estimulados, para seu bem, a lê mais, consultar e dividir com os nossos patrícios menos informados, o nosso aprendizado constitucional. Da mesma forma, incentivarmos nossos irmãos, a fazerem o mesmo, lendo e consultando mais a Constituição Federal, a Constituição de seu Estado e, a Lei Orgânica de nosso Município, para nos conscientizarmos mais de nosso poder constitucional e assim, podermos realmente, capacitados e informados, mudarmos este Brasil que temos, num Brasil do povo e para o povo, verdadeiramente, mais cristão, mais justo, mais igual e fraterno e mais feliz, como dispõe e recomenda, a nossa Constituição Federal. Mais um lembrete que se dizem cristãos e que desrespeitam essa mesma CF, que não esqueçam que, no Preâmbulo dela, está gravado em seu final: “promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL”. Isto quer dizer que falar da nossa CF e à ela, fazermos correções de textos sagrados, só é feio para os que negam a Deus, donde todo o poder, autoridade e justiça provêm e, é dado por Ele, ao povo, para garantia de seu bem-estar comum. Somente com uma educação cidadã e com uma conscientização política de nossa condição de cidadão brasileiro, que compõem o POVO e a Nação, mudaremos juntos, este país que é nosso, de nossos filhos, netos e das gerações futuras. São esses, o nosso comentário, observação e contribuição à matéria e ao nosso povo. Que cada um faça, conforme suas possibilidades, a sua parte. Paz e bem. Sebastião Farias Um brasileiro nordestinamazônida

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