Lula irá nos salvar de novo
“Menosprezam o fracasso nas eleições municipais e se agarram à ideia de que os super-heróis Lula e Alexandre de Moraes farão o serviço”, escreve Moisés Mendes
(Foto: Ricardo Stuckert)
Ainda circula pelo Brasil todo, como consolo chato e pegajoso, a conversa de que eleição municipal é uma coisa e eleição para presidente é outra. Mas o que existe, no miolo dessa história cansativa, é uma tentativa de menosprezar derrotas e continuar terceirizando pequenas e grandes missões.
Quem acolhe e dissemina essa conversa ajuda a espargir o autoengano de que as esquerdas não foram tão derrotadas. E tenta vender de novo a ideia de que em 2026 Lula dará um jeito. Deixem que Lula resolve.
Se as cidades não conseguiram deter o avanço de direita e extrema direita, muita gente se defende, para começo de argumentação, tentando subestimar essa avalanche.
Primeiro, com a tese vencida de que a eleição municipal fica em outro compartimento. E que a eleição que vale mesmo é a que terá de reeleger Lula. Subestimam as forças mobilizadas numa eleição municipal e que vão desaguar, em forma de mais poder, em Brasília.
Por isso tentamos nos acalmar dizendo que foram o centro e a direita, e não a extrema direita, que venceram a eleição. Que o PT está avariado e envelhecido mas está vivo, porque até cresceu um pouco, e que Bolsonaro é um perdedor protegido pela performance do PL.
Nunca, depois de uma eleição, foram tantas as divergências sobre o que afinal aconteceu nos municípios. Assim, o PT está quase salvo ou está quase morto, e Bolsonaro pode estar morto se fazendo de vivo.
E Lula? Já nos avisam que Lula vai nos salvar. Como a eleição municipal seria uma coisa distante da eleição que importa mesmo, que é a de 2026 para presidente, é só esperar mais dois anos e tudo estará resolvido.
Antes, chegam a pedir que Lula pare de governar e passe a morar em São Paulo, como cabo eleitoral, para salvar Boulos e as esquerdas, porque em São Paulo a situação é diferente.
Esses números do Datafolha podem ajudar a entender o desespero dos que olham para o umbigo paulistano e entregam o segundo turno de todo o resto nas mãos do destino. Ricardo Nunes tem 85% dos eleitores de Bolsonaro, e Boulos tem 63% dos eleitores de Lula. E mais: 4% dos eleitores de Bolsonaro vão votar em Boulos, e 31% dos eleitores de Lula votam em Nunes.
Nunes, uma alface sem sal e vinagre adotada pelo bolsonarismo, fideliza mais os votos de Bolsonaro, e ainda atrai mais os votos dos eleitores de Lula, do que Boulos fideliza os votos de eleitores do presidente.
Dirão os consoladores que Boulos não é PT e que o eleitor não faz a conexão do candidato com Lula. Subestimam a capacidade de discernimento de parte relevante do eleitor lulista, sem admitir que esses 31% querem votar em Nunes.
E assim, se Lula é há muito tempo maior do que o PT e todas as esquerdas somadas, e se um terço dos eleitores vota no candidato da direita, a recomendação é para que Lula acampe em São Paulo e saia gritando pelo Campo Limpo: votem em Boulos e vocês estarão votando em mim.
É mais um constrangimento que as esquerdas não esperavam enfrentar. Depreciam as eleições em cidades médias e grandes, tomadas pela direita, e convocam Lula para a salvação em São Paulo. O que importa é o milagre paulistano.
E 2026 é logo ali. Lula estará sempre pronto para nos socorrer. Transformaram Lula num Batman. Como muitos já transformaram Alexandre de Moraes num Homem-Aranha. As esquerdas passam a depender dos super-heróis.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
847 artigos
A força do PT nas eleições
"Nesse segundo turno, todas as forças serão concentradas nas campanhas das 13 cidades nas quais disputamos o segundo turno", escreve José Guimarães
A esquerda precisa se redefinir
"O polo progressista foi derrotado nas eleições municipais. Para ser viável nas presidenciais, vai precisar se reafirmar", diz Maurício Rands
Pacheco alerta para inconstitucionalidade de PECs de deputados sobre o STF
Pacheco porém defendeu a aprovação da PEC 8/2021 do Senado que impede um único ministro de suspender a eficácia de leis, que poderão consideradas inconstitucionais apenas pelo colegiado da Corte
Comentários
Que reportagem fuleira
Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook