Lula é realmente um ingrato. Ele deveria ergue as mãos para os céus, agradecer a Deus e, depois, ao juiz Sérgio Moro, por não tê-lo mandado direto para cadeia, em vez de ficar por ai blasonando um prestígio que julga possuir, mas que foi profundamente maculado pelo propinoduto da Petrobras. Foi-se o político carismático, que arrastava multidões por onde passava. Hoje, se sair às ruas, Lula corre o risco de ser apedrejado. Mas parece que a ficha ainda não caiu.

Moro foi generoso com Lula? É o que pensa muita gente, exceto, é claro, o petismo, para quem o ex-presidente não passa de um perseguido político. Acusado de comandar o maior esquema de corrupção de que se tem notícia na história deste país, quiçá do mundo, a sentença do magistrado não foi desproporcional, como reclamam seus aliados. Nove anos e meio, com direito a responder em liberdade, é uma pena branda, considerando a montanha de dinheiro desviada dos cofres públicos. O político que, durante sua posse, prometeu não roubar nem deixar roubar, hoje, é acusado de roubar e deixar roubar.

Além disso, Lula está impedido de ocupar cargo público por dezenove anos e, de quebra, terá de pagar multa de setecentos mil reais – um pixuleco se comparado aos mais de trinta milhões de reais que ele teria embolsado como garoto propaganda de empresas envolvidas no escândalo.

Um dos maiores erros de Lula (senão o maior) foi tentar subestimar a coragem de Moro. Ele achou que o juiz se deixaria intimidar pelas ameaças veladas do MTS, ou então, pela gritaria insana de militantes petistas. Por certo, imaginou que um magistrado de segunda instância não teria coragem para peitar um ex-presidente da República, eleito duas vezes com mais de cinquenta milhões de votos, e se deu mal.

Agora, o destino de Lula está nas mãos de três desembargadores do Tribunal Regional de Justiça da Quarta Região. Se for condenando em segunda instância, Lula vai direto para cadeia, sendo automaticamente enquadrado na Lei da Ficha Limpa, e, consequentemente, impedido de disputar à presidência da República, encerrando, assim, de maneira melancólica, sua carreira política e decretando a morte do PT.