Maioria dos pacientes não quer ser transferida, afirma governo de RO
Ida para outros estados vem sendo solução para falta de leitos
Às voltas com as consequências do aumento do número de casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus e da falta de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), a secretaria estadual de Saúde de Rondônia enfrenta outro problema: a recusa dos pacientes em serem transferidos para hospitais de outros estados.
Com todos os leitos de UTIs destinados ao atendimento de pacientes com a covid-19 ocupados e mais de 70% das vagas em unidades clínicas ocupadas, o estado buscou a ajuda do Ministério da Saúde e de outras unidades da federação. Entre a última segunda-feira (25) e o início da madrugada de ontem (27), 26 pessoas foram removidas para outras localidades: 13 para Curitiba (PR); nove para Porto Alegre (RS) e quatro para Cuiabá (MT). O Mato Grosso do Sul também disponibilizou vagas, que seguem à disposição.
Alegando que a demanda por leitos “muda a todo instante”, a secretaria de Saúde de Rondônia evita informar quantas pessoas precisariam ser removidas, mas admite que “o estado está encontrando dificuldades para realizar as transferências porque os pacientes e seus familiares não querem sair do estado”.
Já na segunda-feira (25), quando os 13 primeiros pacientes foram levados para Curitiba, a mais de 3,1 mil quilômetros de distância de Porto Velho, o próprio secretário de Saúde, Fernando Máximo, explicou que as transferências são voluntárias e que, quando consultados, “a maioria dos pacientes não quis ir” para outras regiões do país.
Os pacientes estáveis que apresentam sintomas moderados da doença estão sendo transportados em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) equipados com aparelhos e instrumentos hospitalares. Nestes casos, uma equipe formada por dois médicos, um enfermeiro e técnicos de enfermagem acompanham o grupo. Já os casos mais graves são levados a bordo de aviões do Corpo de Bombeiros dotados de equipamentos para uma UTI aérea.
Convênios
Para tentar evitar as transferências, o governo estadual diz que vem procurando ampliar o número de leitos. Ontem, anunciou a assinatura de um convênio com o Hospital de Amor Amazônia, que colocará à disposição 12 leitos dotados de toda a estrutura necessária, além das equipes de profissionais de saúde aptos a tratar de pacientes com covid-19. Só neste convênio o governo estadual investirá R$ 3 milhões. Há ainda um Chamamento Público em aberto para credenciar leitos clínicos e de UTIs de outros hospitais particulares.
No Termo de Referência que disponibilizou na internet, a secretaria estadual de Saúde justifica a contratação temporária de 64 leitos de enfermaria clínica para atendimento a pacientes adultos e de mais 40 leitos de UTI também para adultos apontando a “curva ascendente dos casos confirmados e óbitos registrados, bem como o grande aumento das internações em leitos clínicos e leitos de terapia intensiva”.
A pasta ainda afirma que diante do tempo médio de permanência dos pacientes internados nas clínicas (7,8 dias) e em UTIs (8,1 dias), é necessária “a adoção urgente de medidas estratégicas para atender à população”. “Considerando que o quantitativo médio estimado de leitos necessários especificamente na rede estadual é de 174 leitos UTI e 317 leitos clínicos para atendimento à demanda, e considerando a capacidade instalada existente, evidencia-se uma necessidade de aquisição estimada em 40 leitos de UTI e 64 leitos clínicos, já contemplando a capacidade de ampliação da rede própria e reservas técnicas necessárias”, conclui a secretaria.
Recursos humanos
O governo estadual também tenta atrair profissionais de saúde, principalmente médicos, para ampliar a estrutura hospitalar. De acordo com a pasta, 63 editais de convocação de profissionais já foram lançados.
“Estamos aguardando médicos para abrir esses leitos. O Ministério da Saúde já sinalizou a possibilidade de chegar médicos de outros estados que se disponibilizaram, e estamos ansiosos por isso, pois não haverá mais, possivelmente, a necessidade de transferir pacientes para fora do Estado’’, afirmou, em nota, o secretário de Saúde, Fernando Máximo, esta semana.
O ministério, no entanto, informou que a contratação dos 66 médicos (42 intensivistas e 24 clínicos gerais) disponibilizados é de responsabilidade do estado.
Esta semana, o Ministério Público de Rondônia (MP-RO) instaurou inquérito para apurar a suspeita de que, no início do mês, o governo estadual adulterou relatórios diários com a inclusão de leitos hospitalares que ainda não estavam disponíveis, justamente devido à falta de profissionais. Segundo o MP, o objetivo era evitar que o Estado regredisse de fase no Plano de Enfrentamento à Pandemia, obrigando a adoção de medidas restritivas mais rigorosas, como o fechamento de negócios. O estado nega que isto tenha ocorrido, atribuindo ao MP uma “falha de interpretação das regras técnico-científicas” usadas na elaboração dos relatórios.
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