Mauro Cid nega interferência em demandas e decide ficar em silêncio

Mauro Cid está preso desde o dia 3 de maio, acusado de fraudar cartões de vacinação e é investigado em oito inquéritos, incluindo sua possível participação no estímulo a atos golpistas e a invasão de prédios públicos em Brasília

Agência Senado/Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Publicada em 11 de julho de 2023 às 12:17
Mauro Cid nega interferência em demandas e decide ficar em silêncio

O tenente-coronel Mauro Cid ao lado do presidente da CPMI do 8 de Janeiro, deputado Arthur Maia

O tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, decidiu não responder aos questionamentos dos membros da CPMI do 8 de Janeiro. Ele participa de oitiva nesta terça-feira (11), mas como está amparado por um habeas corpus, ele não é obrigado a responder às perguntas feitas na CPI para que não produza provas contra si mesmo.

Mauro Cid está preso desde o dia 3 de maio, acusado de fraudar cartões de vacinação e é investigado em oito inquéritos, incluindo sua possível participação no estímulo a atos golpistas e a invasão de prédios públicos em Brasília. Ele usou cerca o tempo que lhe foi dado na CPMI para falar sobre a sua trajetória dentro das Forças Armadas. Na sua avaliação, durante os quatro anos no posto de ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, apenas cumpria atividades de assessoramento e secretariado executivo, sem qualquer ingerência em decisões.

— Não estava na minha esfera de atribuições analisar propostas, projetos ou demandas trazidas pelos ministros de estado, autoridades, e demais apoiadores. Ou seja, não participávamos das atividades relativas a gestão pública — disse.

A relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), questionou o depoente sobre fatos que envolvem essas investigações como: as motivações para a suposta fraude nos cartões de vacinação do ex-presidente e seus familiares e sobre as trocas de mensagens com Jean Lawand Júnior, coronel do Exército, que sugeria pedido de apoio a uma intervenção das Forças Armadas. A senadora perguntou ainda porque integrantes do governo passado foram visitá-lo na prisão, como o ex-ministro da Saúde e deputado federal, Eduardo Pazuello. Ainda assim, Mauro Cid seguiu sem responder.

— O senhor tem filhos, tem uma esposa, o senhor tem um pai com uma carreira militar irretocável, o senhor tem uma caminhada dentro das Forças Armadas que fatalmente chegaria a ser general, que é o sonho de qualquer membro da carreira militar hoje no Brasil. E ao mesmo tempo o senhor está aqui na CPMI, num cenário que nenhum brasileiros queria estar. Respondendo por crimes que possivelmente não foi o senhor que cometeu. Mas que o senhor pode ter sido levado por alguém que pediu que você cometesse esses atos criminosos — disse Eliziane.

Financiadores

Uma das linhas de investigação defendida pela relatora é a identificação dos possíveis financiadores dos ataques no dia 8 de janeiro. Mauro Cid não quis afirmar, após pergunta de Eliziane, se conhece Paulo Roberto Cardoso e Sandro Roberto Rocha, que também integravam a equipe da Presidência da República. A relatora disse ter obtido dados segundo os quais os dois citados teriam relação familiar com sócios da empresa Cipal, instituição que recebeu empréstimos de R$ 22 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para aquisição de caminhões que, segundo a senadora, foram identificados dentro do acampamento em frente ao Quartel General de Brasília.

— Nós temos uma empresa que recebe recurso público da ordem de R$ 22 milhões, compra dez caminhões e coloca no acampamento aqui de Brasília e que de lá saiu todo o planejamento para a invasão da sede dos Três Poderes e também de lá saiu o planejamento para o ato terrorista cujo o objetivo era a explosão de um carro bomba — afirmou.

Requerimentos

Antes do início do depoimento, a CPMI aprovou, por acordo, uma série de requerimentos para avançar nas investigações. Foram aprovadas as quebras de sigilos bancário, fiscal e telemático e pedidos de relatório de inteligência financeira de convocados que já prestaram depoimento à comissão como o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques.

Também serão quebrados os sigilos bancário e telemático de George Washington de Oliveira Sousa, condenado a 9 anos e 4 meses de prisão pela tentativa de atentado a bomba perto do Aeroporto de Brasília, em dezembro 2022. Ele já foi ouvido pela comissão, mas como estava amparado por habeas corpus, manteve-se em silêncio na maior parte da oitiva.

As solicitações para acesso a esses documentos partiram de Eliziane Gama. Ela defendeu a aprovação dos requerimentos já que, segundo ela, essas pessoas ou não forneceram dados necessários para subsidiar as investigações ou mentiram durante os depoimentos.

— Os pedidos de quebra de sigilos que nós estamos fazendo nesta comissão hoje são de depoentes que já foram ouvidos nesta comissão e que não contribuíram com os trabalhos. Não dá para a gente continuar os trabalhos da CPI sem ter quebra desses sigilos. Nós estamos pedindo quebra, por exemplo, do George Washington. Ele veio aqui e não falou nada. Nós estamos pedindo quebra, por exemplo, do Lawand, que claramente aqui veio e mentiu nesta comissão. Nós estamos pedindo quebra, por exemplo, do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, que claramente, de forma escrachada, mentiu nesta comissão.

Entre outros requerimentos, foram aprovados os que pedem a transferência dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático de Jorge Eduardo Naime, ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do Distrito Federal, e a transferência dos sigilos telefônico e telemático de Jean Lawand Júnior. Ambos já prestaram depoimento à CPMI. 

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