Meritocracia por grau de parentesco na política
Que alguém recuse e freie a mediocrização, para que não pareçam pequenos os que se distinguem por enorme contribuição à sociedade.
Esses dias em conversa com um amigo sugeri que recusasse título honorífico na Assembleia Legislativa de Rondônia.
Expliquei que ele merecia tanto, que a recusa seria uma honraria dele para ele, tamanha a depravação na concessão de medalhas e títulos.
Acho que um gesto emblemático pode impor seriedade no reconhecimento público a pessoas que se destacam por terem feito algo relevante ao interesse coletivo.
A depender do bom senso de quem propõe, os raros vão se misturar, inclusive, a homenageados por grau de parentesco.
Foi essa a ‘justificativa’ da vereadora Ada Dantas ao receber do marido, o quase ex-deputado deputado Jesuíno Boabaid, a medalha de Mérito Legislativo.
Ada pendurou a medalha no pescoço na condição de vice-presidente da Associação dos Praças e Familiares da Polícia e Bombeiro Militar do Estado de Rondônia (ASSFAPOM).
Só um site divulgou a notícia realçando que se travava de homenagem do marido em nome da esposa, por serviços prestados em entidade que os dois presidem. E, pasme, teve que publicar direito de resposta extrajudicial.
Leia aqui: http://www.rondoniadinamica.com/arquivo/prestes-a-encerrar-mandato-jesuino-boabaid-concede-medalha-de-merito-legislativo-a-esposa-ada-dantas,37579.shtml
A vereadora agradeceu e destacou: “Estou sendo homenageada, porque sou esposa do policial da reserva e falo em nome de todas as esposas, porque sabemos o sofrimento enfrentado para fazer com que a PM fosse lembrada”.
Em seu discurso fez referência à lutas e perseguições sofridas há 10 anos para agradecer o reconhecimento que chega agora pelas mãos do marido.
Romântico, mas vulgar.
Sem desmerecer as lutas e conquistas da Assfapom, acho apelativo o reconhecimento pela forma, que a meu ver, acaba impondo desconfiança ao merecimento.
É inacreditável que não percebam isso.
De filho vereador para pai ex-prefeito, veio a mudança de nome de uma avenida importante da capital.
De irmão presidente da Câmara Municipal de Porto Velho para irmã deputada federal, a moção de aplausos no Dia do Médico.
Se esses vínculos familiares não fossem determinantes, Ada ganharia medalha, a rua mudaria de nome e a deputada que não exerce a medicina seria homenageada como médica por destinar recursos à saúde?
O senso crítico que atiço é para que os homenageados por contribuições valiosas não sejam ofuscados por homenageados por interesses pessoais.
O caso mais escandaloso que recordo foi o da deputada Marisa Formolo, (PT/RS) que homenageou 20 membros de sua família na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Ela alegou que queria agradecer o apoio dos parentes durante o mandato.
Ao irmão mais mais velho, Armando Formolo, ela deu a maior honraria do parlamento gaúcho: a Medalha do Mérito Farroupilha.
A direção estadual do PT a orientou a voltar atrás, mas só por força de uma Ação Popular foi obrigada a devolver a medalha que deu ao irmão “pela contribuição ao movimento sindical, ao desenvolvimento do setor vitivinícola e à agricultura familiar da serra gaúcha”.
O desembargador Newton Medeiros Fabrício, relator da apelação na 1ª Câmara Cível, manteve a decisão em primeira instância e a equiparou à figura do nepotismo, pois o agente público teria se valido de sua posição de poder para favorecer parentes.
Para ele, o ato se constituiu viciado pela valorização do laço de parentesco.
Restou a deputada pedir desculpas.
Desde então, por este e tantos casos bizarros, acho que precisamos em Rondônia de um gesto emblemático, corajoso, para que interesses pessoais, politiqueiros ou gray de parentesco influam sobre a avaliação de mérito à concessão de medalhas e títulos.
Só quem merece verdadeiramente, livre de vaidade e consciente da importância que vai imprimir ao reconhecimento, pode fazer isso.
Que alguém recuse e freie a mediocrização, para que não pareçam pequenos os que se distinguem por enorme contribuição à sociedade.
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Comentários
Excelente artigo!
Isso mesmo. Ótimo artigo. Nossos representantes não nos representam e ainda homenageiam os seus familiares. Gasto desnecessário de dinheiro público e pouco trabalho pelo povo. CHEGA.
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