'Minifestação' arrebenta Bolsonaro e Marçal
A fala do ex-presidente deve lhe render consequências funestas cedo ou tarde
"Minifestação" arrebenta Bolsonaro e Marçal (Foto: Arquivo pessoal)
Na sexta-feira, em Juiz de Fora, Bolsonaro discursou para um público numericamente modesto em apoio a seu candidato à prefeitura de Juiz de Fora, o ex-deputado federal Charlles Evangelista (PL) -- atualmente, a cidade é comandada por Margarida Salomão (PT).
Detalhe: o comício foi em frente a um circo.
A fala do ex-presidente deve lhe render consequências funestas cedo ou tarde, porque foi muito pior do que a que fez na avenida Paulista no domingo (7/9). Reprisou o discurso negacionista da pandemia, atacou as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral, acusou o STF de ter um plano para matá-lo, ameaçou Alexandre de Moraes e flertou com o crime de traição ao dizer que Donald Trump vencerá a eleição nos EUA e impedirá a Justiça brasileira de colocá-lo para ver o sol nascer quadrado.
São várias as violações que fez das medidas cautelares que lhe foram impostas no dia 8 de fevereiro último, no âmbito da Operação Tempus Veritatis. A consequência natural deveria ser a da decretação de sua prisão preventiva, pois sua fala é do mesmo jeito das que insuflaram milhares de cabeças do seu gado a quebrarem Brasília com vistas a um golpe de Estado. Mas PF, STF e PGR acham que qualquer medida contra Bolsonaro agora pode lhe dar meios de se vitimizar e obter uma forte vitória eleitoral até outubro.
No sábado, cheguei à avenida Paulista pouco antes das 14 horas (horário em que Bolsonaro prometeu iniciar seu discurso) e deixei o local por volta das 17 horas. Como estivera na manifestação de 25 de fevereiro, já de início tive a impressão de que havia pouca gente se dirigindo ao local.
A avenida Paulista tem uma extremidade ao Sul e outra ao Norte da cidade. Quem percorre a via do Sul para o Norte tem o Centro velho e a Marginal do Tietê à sua direita e o bairro dos Jardins e a Marginal do Pinheiros à sua esquerda.
A grande maioria do público se origina dos Jardins, região bastante verticalizada, que comporta em torno de umas 200 mil pessoas. Foi esse o público que lá estava, composto, majoritariamente, por idosos de classe média alta e pessoas de meia idade do mesmo tipo -- em enorme quantidade, brancas e do mesmo estrato social.
Quase não havia jovens; o que havia, em pequeno número, eram crianças e pré-adolescentes levados por pais e avós.
Tratei de colocar meu disfarce para ir a esse tipo de lugar. Calça e camiseta cáquis, boné preto e óculos escuros que fizeram o público na internet rir da inutilidade daquela tentativa de esconder minha identidade. Mas quem obviamente me reconheceu ficou apenas olhando -- creio que ninguém estava querendo confusão ali, por razões óbvias.
Mas fui abordado por um casal de moças de no máximo uns 25 anos e por um senhor com aparência de roqueiro com o neto adolescente. Todos se disseram progressistas e afirmaram que lá estavam para se divertir com as figuras bizarras que abundam nas manifestações de extrema-direita.
Após live de 60 minutos que fiz no local, percebi que de fato havia muita diferença. Era por volta das 15:30 e gravei um vídeo curto dizendo que claramente havia muito menos gente na avenida Paulista do que havia em 25 de fevereiro. Não era possível, então, caminhar facilmente pela avenida tal a quantidade de gente. Agora, havia "clareiras" enormes na multidão, se é que vale o termo...
Enquanto isso, os chefes dos Três Poderes da República se somavam ao ministro Alexandre de Moraes em claro apoio a ele em um momento em que dezenas de milhares de bolsonaristas-raiz acorriam à mais paulista das avenidas para insultá-lo e ameaçá-lo.
Foi uma jogada de risco de Bolsonaro, insuflado por Silas Malafaia a cometer a burrada que dera certo em fevereiro porque, à época, alugaram centenas e centenas de ônibus para trazer gente de todas as partes do país à manifestação. Os ônibus, em 25/2, ficaram todos estacionados pela região; desta vez, não vi quase nenhum.
Sem artificialismo, segundo estimativas do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), no 7 de setembro havia apenas 45 mil pessoas na avenida Paulista, contra 185 mil apuradas pelo mesmo pesquisador em fevereiro, o que confirmou minha percepção.
O resultado disso foi que Bolsonaro e seu pastor-estrategista viram o tiro sair pela culatra. Enfraqueceram não só a si mesmos, mas a Folha de São Paulo e Elon Musk, que exaltaram em seus discursos furibundos -- e, no caso de Bolsonaro, criminosos, pois violador de medidas cautelares do Supremo.
Ficou claro que a sociedade começa a abrir os olhos sobre Bolsonaro conforme vê não só a sua culpa contida nos indiciamentos da Polícia Federal, mas, também, que o país está melhorando rapidamente no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Eduardo Guimarães
Eduardo Guimarães é responsável pelo Blog da Cidadania
935 artigos
O capitão, o coach e o futuro do país
"Vivemos um país adoecido fruto de um fascismo construído nas fake news e com ajuda da mídia e das big techs", escreve Padre João
Felipe Oliveira fortalece diálogo com setor produtivo em visita estratégica ao Grupo Guaporé Vidros
Candidato a vereador de Porto Velho, Felipe Oliveira, defende parcerias público-privadas como caminho para a geração de emprego e desenvolvimento econômico na capital
Eleição municipal: propostas dos candidatos incluem segurança pública?
Para pesquisadores, planos deixam de ser amplamente debatidos
Comentários
Seja o primeiro a comentar
Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook