MPF recomenda a militares que não façam manifestações em homenagem à ditadura militar

Ação nacional entre unidades do MPF é uma resposta à determinação do presidente da República em homenagear a ditadura militar.

PGR/Arte: Secom/PGR
Publicada em 28 de março de 2019 às 12:43
MPF recomenda a militares que não façam manifestações em homenagem à ditadura militar

O Ministério Público Federal, por meio da Procuradoria da República no Distrito Federal Federal e da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, assinou recomendação aos comandantes das Forças Armadas, ao comandante-geral do Corpo de Bombeiros, ao chefe de Estado-Maior conjunto das Forças Armadas e ao comandante-geral da Polícia Militar do DF, para que se abstenham de promover qualquer manifestação pública em homenagem ao período de exceção instalado a partir do golpe militar de 31 de março de 1964. Além disso, os procuradores autores da peça recomendam a adoção de providências para que nenhum militar subordinado a essas autoridades realize tal manifestação, sob pena de punições disciplinares e comunicado ao MPF para providências cabíveis.

A recomendação ministerial faz parte de uma ação coordenada que reúne procuradorias da República em pelo menos 19 estados, a fim de alertar unidades militares em todo o país. O documento fixa o prazo de 48 horas para que as autoridades informem as medidas adotadas em cumprimento às orientações dispostas ou as razões para o não cumprimento daquilo que foi recomendado.

A medida é uma resposta às declarações do porta-voz da Presidência da República, general Otávio Rêgo Barros, na noite de segunda-feira (25), informando que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) “determinou ao Ministério da Defesa que faça as comemorações devidas com relação a 31 de março de 1964". O MPF lembrou na recomendação que o Brasil assinou a Carta Democrática Interamericana, no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA), e assumiu obrigação internacional de promover e defender a democracia, inclusive pela valorização do regime democrático e pelo repúdio a formas autoritárias de governo.

Nesse sentido, o Ministério Público considera que, em diversas oportunidades, o Estado brasileiro reconheceu a ausência de democracia e do cometimento de graves violações aos direitos humanos pelo regime iniciado em 31 de março de 1964. Para os procuradores, é dever do país, não só reparar os danos sofridos por vítimas de abusos estatais no mencionado período, mas também não infligir a essas pessoas novos sofrimentos , “o que é certamente ocasionado por uma comemoração oficial ”, como a pretendida.

O documento enviado aos comandantes militares destacou também “que a homenagem, por servidores civis e militares, no exercício de suas funções, ao período histórico no qual houve supressão da democracia e dos direitos de reunião, liberdade de expressão e liberdade de imprensa viola a Constituição Federal, que consagra a democracia e a soberania popular”. Nesse entendimento, o texto ressaltou que as Forças Armadas não devem tomar parte em disputas ou manifestações políticas, em respeito ao princípio democrático e ao pluralismo de ideias que rege o Estado brasileiro.

Coerência – Para o Ministério Público Federal, a exigência de respeito à democracia em outros países do continente não é condizente com homenagens a período histórico de supressão da democracia no Brasil. “O Brasil, representado por seu presidente da República, assinou com outros países do continente a Declaração do Grupo de Lima, por meio da qual exigem o restabelecimento da democracia na Venezuela”.

 

Íntegra da recomendação

Comentários

  • 1
    image
    DELEGADO FIGUEIREDO 28/03/2019

    ISSO É UM ABSURDO. NÃO EXISTE NENHUMA LEGISLAÇÃO QUE PROIBA UM COMANDANTE DE SE EXPRESSAR DURANTE UMA FORMATURA, EXCETO SE HOUVER UMA ORDEM SUPERIOR, E MESMO NESSE CASO SE TRATARIA DE UMA TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR. SE EXISTE ALGUMA "ILEGALIDADE" NÃO SE FARIA "RECOMENDAÇÃO", (DO DICIONÁRIO substantivo feminino 1. ato ou efeito de recomendar. 2. POR METONÍMIA aquilo que adverte; conselho, advertência, aviso. "esquecia com frequência as r. da mãe"

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