Não acredito em contos de fadas

É fácil estufar o peito, encher a boça e falar em modernização da máquina burocrática, mas não se ouve ou vê manifestação capaz de assegurar aos que a mantém funcionando um salário decente, que atenda às suas necessidades mais prementes.

Valdemir Caldas
Publicada em 19 de outubro de 2017 às 08:53

Assim como a assessoria do prefeito de Porto Velho tem o direito de acreditar que o projeto de reestruturação do executivo municipal, aprovado quarta-feira 18, vai reduzir o número absurdo de cargos comissionados, sobretudo no gabinete de sua excelência, e contribuir para modernizar a máquina oficial, tornando-a mais eficiente, eu tenho o direito de pensar diferente.

Ao contrário do que disse a assessoria, meu ceticismo não se baseia no fato de eu ser oposição ao cidadão que hoje ocupa a principal cadeira do palácio Tancredo Neves, mas na experiência de trinta e cinco anos de janela, acompanhando de perto as coisas da política, sobretudo na seara municipal. Tempo, aliás, suficiente para não acreditar em contos de fadas, histórias da carochinha, Papai Noel, dentre outras coisas do gênero infantil.

É fácil estufar o peito, encher a boça e falar em modernização da máquina burocrática, mas não se ouve ou vê manifestação capaz de assegurar aos que a mantém funcionando um salário decente, que atenda às suas necessidades mais prementes. Em vez disso, o que se observa são intenções nada sadias em relação à categoria, a pretexto de resolver problemas estruturais emergentes, que não foram criados pelo funcionalismo, mas consequências de ações políticas dissociadas da realidade. Assim, decide-se por punir os que se têm esforçado para levar à sociedade os serviços que ao poder pública cabe proporcionar e privilegiam-se cabos eleitorais e apaniguados políticos.

Para alguns, modernizar é encher as repartições públicas com parentes e aderentes de políticos e amigos do peito. O projeto de reestruturação passou, para deleite, sobretudo de candidatos a cargos comissionados na prefeitura da capital. Muitos se acotovelaram na galeria da Câmara Municipal para acompanharem a votação. Outros ficaram na sala contínua ao plenário, conversando e tomando cafezinho. Quando saiu o resultado da votação, foi aquela vibração, com direito a abraços e aperto de mãos. 

Comentários

  • 1
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    o autor 19/10/2017

    Duas observações: onde se lê: "boça", leia-se boca e, onde se lê "contínua", leia-se contígua. Obrigado e desculpe, leitor.

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