"Não estica a corda". Ou seja, deixem o caminho livre para Bolsonaro avançar com o projeto autoritário
"Quem é outro lado? Não pode ser a oposição, que não tem poder e é minoritária no Congresso", questiona a jornalista Tereza Cruvinel. "O 'outro lado' são os outros dois poderes, o Congresso e o STF, que vêm impondo limites a Bolsonaro sempre que ela afronta muito ostensivamente a Constituição", avalia
General Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria do Governo, e Jair Bolsonaro (Foto: Agência Brasil)
Disse o general-ministro da Secretaria de Governo Luiz Eduardo Ramos, que as Forças Armadas nao pensam em dar golpe, algo que Bolsonaro também nunca teria pregado. Mas avisou que isso só vale se o "outro lado" não "esticar as corda". Não é preciso ser hemeneuta para entender o significado da declaração: "Pode haver golpe se insistirem em controlar Bolsonaro".
Para bem entendê-la precisamos dividir a declaração em duas partes. Na primeira o general-ministro afirma: "É ultrajante e ofensivo dizer que as Forças Armadas, em particular o Exército, vão dar o golpe, que as Forças Armadas vão quebrar o regime democrático. O próprio presidente nunca pregou o golpe". Até aqui ótimo. Mas sempre que uma frase assertiva é seguida de uma conjunção adversativa - mas, porém, entretanto e outras - , isso significa que a primeira afirmação está condicionada a certas condições. E a condição para que haja golpe é que o "outro lado" não estique a corda. O adverbio agora foi usado como conjunção adversativa. Equivaleu a um "mas".
Quem é outro lado? Não pode ser a oposiçao, que não tem poder e é minoritária no Congresso. O "outro lado" são os outros dois poderes, o Congresso e o STF, que vêm impondo limites a Bolsonaro sempre que ela afronta muito ostensivamente a Constituição. Casos menos gritantes vão passando, crimes de responsabilidade vão sendo cometidos quase diaramente por Bolsonaro, sem que o presidente da Câmara abra o processo de impeachment.
Então, quem não pode esticar a corda são os outros dois poderes. O que eles têm feito, com muita moderação, é exercer o papel de contenção do Executivo, segundo o sistema de freios e contrapesos que é viga central do sistema democrático e da independência entre os poderes. Para que nenhum dos poderes se sobreponha aos outros, estabelecendo a sua ditadura, cada um exerce o poder fiscalizador e limitador do outro.
O Congresso vota leis, o presidente pode sancioná-las ou vetá-las. O STF pode declará-las inconstitucionais. Vetos podem ser derrubados pelo Congresso, mas com quórum elevado. Deputados e senadores, por outro lado, podem ser cassados por seus pares ou processados pelo Supremo. O presidente pode quase tudo, como vive dizendo o ministro Celso de Mello, mas ele também não está acima da lei maior. Pode ser afastado por crime de responsabilidade (impeachment) ou quando é processado por crime comum (STF). Seus atos podem ser anulados quando julgados inconstitucionais. O STF tem ministros nomeados pelo presidente mas os nomes têm que ser chancelados pelo Senado. E como o presidente, podem também sofrer impeachment. E assim, separados mas harmônicos, um delimitando o poder do outro, garantem o funcionamento da democracia.
O que Congresso e STF têm feito é conter os arroubos autoritários de Bolsonaro, que o tempo todo tenta se sobrepor à Constituição, seja com atos de governo (como a nomeação de um nome indevido para comandar a PF), seja com decretos e medidas provisórias (como esta que tentava interferir na autonomia universitária), seja com palavras e gestos. Por exemplo, comparecendo a atos que pregavam o fechamento dos outros dois poderes, pediam AI-5, ditadura e intervenção militar.
Então, é Bolsonaro, e não o "outro lado", que está o tempo todo esticando a corda, e nem sempre é contido. Muita boiada já passou sem que Congresso e STF reagissem, para evitar a maior tensão na corda. "Não esticar a corda" deve significar que os outros poderes devem deixar Bolsonaro à vontade para transgredir, violar a Constituição e o Estado de Direito, ir forçando o limite de reação das instituições até que consiga impor-se como ditador.
Não poderia ter vindo em melhor hora, depois desta declaração, a liminar do ministro Luiz Fux, do STF, declarando infundada a interpretação de que as Forças Armadas poderiam atuar como poder moderador entre poderes, quando entrassem em conflito. A intervenção militar não encontra acolhida no artigo 142, fulminou Fux.
Instado a dar um exemplo do que seria esticar a corda, o ministro sugeriu que poderia ser uma ação de cassação da chapa Bolsonaro-Mourão pelo TSE, onde tramitam oito açoes de impugnação eleitoral. A mais importante e promissora é a que se baseia nos disparos de fake news por wahtsapp no segundo turno de 2018, quando o candidato do PT, Fernando Haddad, foi apontado como distribuidor de kits gay e mamadeiras em formato de pênis, à epoca que comandava o MEC no governo Lula. Coisas inacreditáveis, mas muitos eleitores conservadores, principalmente evangélicos, recusaram-se a votar no petista por causa disso. Este foi um crime que interferiu no resultado eleitoral.
Ramos e Bolsonaro sabem que o TSE nunca cassou uma chapa presidencial, embora tenham havido ações. E sabem também o que foi feito na campanha eleitoral. Ao julgar a ação,o TSE não estará esticando a corda. Estará fazendo o que lhe cabe, na repartição dos poderes e na ministração da Justiça. Tudo dependerá de provas robustas. Mas antes que venha o julgamento, Bolsonaro trata de amendrotar e inibir o tribunal, com declarações como esta de Ramos, que semeiam insegurança e instabilidade, apresentando o Brasil ao mundo como uma republiqueta onde ainda podem ser dados golpes militares.
Em boa hora veio a decisão de Fux, que expressa, certamente, o pensamento de todo o colegiado do STF. Quem estica a corda é Bolsonaro, esperando certamente que os outros poderes o deixem livre para afrontar a Constituição, ultrapassar os limites do poder presidencial, tornar-se inimputável e se impor como ditador.
Bolsonaro é quem está esticando a corda
"O cabo de guerra que consiste em esticar a corda tem, na ponta liderada por Bolsonaro, não só oficiais do Exército, mas também policiais das PMs e milicianos. A cada alavanco dado por este grupo, chegamos mais próximos da linha tênue que separa os alicerces combalidos do Estado Democrático de Direito do estado autoritário fascista", avalia Florestan Fernandes
Aprovado no Senado, PL que suspende cadastro negativo durante pandemia segue para sanção presidencial
Na prática, a proposta visa suspender por 90 dias a inscrição de consumidores em bancos de informação como Serasa e SPC, desde que tenha sido registrada após 20 de março de 2020
Só a cabeça de Weintraub resolve
"A demissão de Weintraub é vista com bons olhos pelo entorno militar do presidente há tempos, e cresce, no Planalto, o movimento para convencer Bolsonaro a fazer esse gesto", escreve Helena Chagas
Comentários
Quem se sobrepõem a constituição são os semi-deuses de araque do supremo, querem de toda forma tirar o Presidente e colocar um dos deles no poder.
Sabemos que o Presidente não é o melhor homem do mundo! Toma algumas decisões erradas, Sim! Leva lapadas da mídia lixo 24 horas, abusos absurdos do STF e do Congresso que não respeitam a CF no que diz respeito a Independência e harmonia entre os poderes. Afinal de contas que foi eleito com 58 milhos de votos? Jair Bolsonaro! não os semideuses do olimpo e impoluto STF que mais está para um partido de esquerda e balcão de negócios com bandidos de alta classe. Temos o careca de toga que anos atrás defendia bandidos do PCC e hoje está se achando o pica do brasil, juntamente com outros lacaios da corte mais cafajeste do planeta terra. Já passou da hora do Presidente Bolsonaro botar a quadrilha do STF onde deveriam está. De pijama em casa todos aposentados sugando o dinheiro do pobre contribuinte do Brasil. Artigo 142 CF - Já. Se não a bandidagem da esquerdalha, Políticos corruptos, Globolixo, Folha, maconheiros baderneiros black bloc, antifas e outros bandidos irão tomar de assalto o País e iremos nos tornar mais uma Venezuela, onde o povo está comendo lixo. Precisamos urgentemente de uma reforma do judiciário, política, tributária e uma nova constituinte. Lamentável situação que se encontra nosso País, a beira de uma guerra civil.
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