Não vai ter CPI da Petrobrás. Que pena
"A ideia de Bolsonaro e Lira não será apenas um tiro no pé. Pode virar uma bomba atômica, que poderá desintegrá-los de vez em 2 de outubro", diz Helena Chagas
Fachada da Petrobras e Bolsonaro (Foto: Reuters)
Pode preparar a pipoca porque a CPI da Petrobrás vem aí. Garantia certa de divertimento nos próximos meses, não fosse sua criação uma tremenda bravata conjunta do presidente da República, Jair Bolsonaro, e do presidente da Câmara, Arthur Lira. Em seu desespero eleitoral, criaram a tortuosa estratégia de fulminar a maior estatal do país, sem pensar nas consequências, para tentar separar a imagem do governo da de quem decretou os seguidos aumentos nos preços dos combustíveis.
Mas até as emas do Alvorada sabem: não vai haver CPI nenhuma. Materializada, a ideia de Bolsonaro e Lira, não será apenas um tiro no pé do presidente e seus aliados. Pode virar uma bomba atômica, que não vai levar apenas os pé do presidente e de seus aliados - será uma bomba atômica que poderá desintegrá-los de vez em 2 de outubro.
Já imaginaram ouvir, com transmissão em tempo real, os depoimentos de integrantes da atual diretoria da Petrobrás, escorraçada por Bolsonaro e Lira, e das duas anteriores, defenestradas de forma absolutamente deselegante? Pois é isso que acontecerá se houver CPI destinada a "apurar" os aumentos de preços dos combustíveis, como anunciado.
Mesmo com maioria governista, não dá para ter CPI sem que ela convoque os dirigentes da estatal - e vai ser difícil achar algum, entre eles, que não terá revelações no mínimo constrangedoras para o atual governo a fazer. Os ex-presidentes da Petrobrás poderão, isso sim, contar as repetidas vezes em que foram pressionados por integrantes do governo - e pelo próprio Bolsonaro - para segurar aumentos de preços e outras coisinhas mais.
Haverá, inclusive, gravações dessas ameaças, produzidas legalmente nas reuniões de diretoria da companhia. E quando eles resolverem falar sobre outros assuntos, como patrocínio a amigos bolsonaristas com recursos da estatal e nomeações do Centrão? As sessões da CPI da Petrobrás, que devem ocorrer ao longo da campanha eleitoral, serão, sem dúvida, sucesso absoluto de público e de crítica, certamente superando a midiática CPI da Covid.
É por aí que, lamentavelmente, querido espectador, não haverá espetáculo. Nos próximos dias, ou horas, Bolsonaro e Lira vão achar uma ótima desculpa para não instalá-la - a renúncia do presidente José Mauro Coelho, sob pressão máxima, é agora uma delas. Que pena. O país iria lucrar muito com a abertura da caixa preta bolsonarista da Petrobrás.
Helena Chagas
Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia
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Comentários
Bolonaro e Lira sabem que de nada adianta trocar o presidente da Petrobras, muito menos criar CPI. A política de preços da estatal não mudará, continuará a mesma com reajustes periódicos baseados no preço do barril de petróleo, pois é assim que funciona esse mercado e está longe de mudar. O governo federal já trocou três presidentes da Petrobras. Pergunta-se: adiantou alguma coisa? Claro que não ! Toda essa bravata de Bolsonaro e Arthur Lira, pautada em ameaças de demissão, criação de CPI, “vou para o pau”, entre outras intimidações, eles sabem que é inútil. Durante todo o mandato do Bolsonaro houve aumentos sistemáticos dos combustíveis. A pergunta que se faz é: - Por que somente agora, às vésperas das eleições, resolveram enfrentar a Petrobras?!! - Por que somente agora no finalzinho do mandato e a poucos dias de uma eleição presidencial, resolveram peitar a cúpula da estatal?!! Fica a impressão de que o real motivo dessa súbita bravata de Bolsonaro e Lira é, na verdade, obter um acordo matreiro com a Petrobras para suspender os aumentos dos combustíveis até às eleições e depois, passadas as eleições, voltam os aumentos e o povo que se dane. Prova disso é que, na semana passada, o ministro Paulo Guedes pediu para os supermercados congelarem os preços somente por “2 ou 3 meses”, ou seja , somente até às eleições. Parece mesmo que toda essa correria do Bolsonaro para baixar o preço até as eleições não é necessariamente em benefício do povo, mas em proveito próprio com fins exclusivamente eleitoreiros. A estratégia do governo com todo esse circo que está fazendo é essa: convencer a Petrobras a congelar o preço do diesel e da gasolina até passarem as eleições e depois destas, tudo volta a ser como antes com frequentes e abusivos aumentos dos combustíveis e dos bens de consumo. E o povo que se lasque!!
Cpi, fundamentado em quê? Na política de preço da Petrobras. Ora a direção só estão cumprindo a política de preço. Isso não passa de um desespero de um governo que já acabou faz tempo.
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