No Senado, judeus e muçulmanos se unem em defesa da paz
A audiência pública é um requisito para se mexer nas datas oficiais do Brasil
O imam da Mesquita Brasil, Sheikh Mohamed Al Bukai, foi ouvido remotamente na audiência da Comissão de Educação do Senado
Em meio ao conflito no Oriente Médio, uma reunião protocolar no Senado uniu judeus e muçulmanos e se converteu em um apelo à paz. A Comissão de Educação (CE) promoveu nesta sexta-feira (17) um debate sobre inclusão de datas religiosas judias e muçulmanas no calendário nacional previstas no PL 3.483/2023.
A audiência pública é um requisito para se mexer nas datas oficiais do Brasil. Todos os presentes destacaram a convivência harmoniosa entre essas duas comunidades no país e defenderam o fim da guerra entre Israel e Hamas, que já deixou mais de 12 mil mortos.
Autor do projeto de lei, o senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) lembrou que apresentou a proposta em julho, três meses antes do início do conflito, mas apontou que o debate ainda que “singelo” ganhou importância ao unir muçulmanos e judeus em defesa da paz:
— É um evento pequeno. Montamos o projeto em julho, antes de o conflito acontecer no Oriente Médio e quis Deus que acontecesse neste momento. No meio da escuridão, se você acender uma velinha, faz diferença. O ódio não consegue expulsar o ódio. Só o amor consegue expulsar o ódio — pregou o senador.
Diretor da Confederação Israelita do Brasil (CONIB) e conselheiro da União Brasileiro Israelita do Bem-Estar Social (UNIBES), Luiz Kignel destacou o simbolismo de um mesmo projeto de lei garantir o reconhecimento de datas importantes para as duas comunidades:
— Dois povos, duas religiões estão no mesmo projeto de lei. O efeito não seria o mesmo se fosse um projeto para agraciar a cada um. Isso é uma mensagem. Não há diferença alguma de um ataque a uma comunidade muçulmana ou judaica. Todos são crimes de ódio. [...] Vamos torcer para que a paz volte a reinar o mais breve possível no Oriente Médio — declarou.
Na mesma linha, Mustafa Goktepe, presidente do Instituto pelo Diálogo Intercultural, reforçou que o projeto sinaliza a necessidade de demonstrar que é possível conviver em harmonia:
— É uma demonstração de que precisamos no mundo desse respeito, essa convivência em todas as partes do mundo — afirmou.
Para o secretário-Geral do Centro Islâmico e de Diálogo Inter-religioso e Intercultural, Attila Kus, o projeto vai ajudar a combater o antissemitismo e a islamofobia.
— Quem conhece ama, quem não conhece teme. A partir desses projetos, desses debates, o conhecimento sobre essas duas comunidades alcançará mais pessoas e isso ajudará a lutar contra o antisemitismo e a islamofobia que vem crescendo — apontou.
Na avaliação do Sheikh Mohamed Al Bukai, Imam da Mesquita Brasil, o projeto dá uma sensação de pertencimento para ambas as comunidades e se torna ainda mais relevante no momento em que ocorre o conflito no Oriente Médio:
— É uma grande resposta. Temos um país, o Brasil, que é exemplo dessa harmonia e dessa convivência — afirmou.
O Rabino David Weitman, da Sinagoga Beit Yaacov da Congregação e Beneficência Sefaradi Paulista, também saiu em defesa da paz:
— Quanto mais a gente educar uma geração de fé, mais essa geração será uma geração de paz. O Brasil é um exemplo, um exemplo da convivência e respeito entre as religiões — testemunhou.
O Projeto
O projeto inclui no Calendário Oficial da República Federativa do Brasil o Rosh Hashaná, o primeiro dia do Ano Novo; e o Yom Kipur, o Dia do Perdão, a serem comemorados anualmente na data definida pelo calendário judaico. Também inclui o Eid al-Fitr, o fim do Ramadã (mês sagrado para os muçulmanos) a ser comemorado anualmente na data definida pelo calendário islâmico. A inclusão não quer dizer que esses dias serão feriados.
Por sugestão dos presentes, mais uma data comemorativa do calendário islâmico deverá ser incluída no projeto pelo relator, senador Carlos Portinho (PL-RJ), segundo informou o senador Astronauta Marcos Pontes.
Ao apresentar a proposta, o senador destacou a contribuição de ambas as comunidades no processo civilizatório nacional. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) compilados no Censo de 2010, havia naquele ano quase 110 mil judeus no Brasil, a segunda maior comunidade judaica da América Latina (menor apenas que a da Argentina) e a 11ª no mundo.
O mesmo levantamento apontou que o número total de muçulmanos no Brasil era de pouco mais de 35 mil pessoas, mas a comunidade cresceu 29,1% entre os anos 2000 e 2010, enquanto o crescimento da população brasileira, no mesmo período, foi de 12,3%.
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