Novo protocolo de tratamento da malária em Manaus e Porto Velho será avaliado por estudo
O novo protocolo substitui os sete dias de primaquina por apenas uma dose de tafenoquina, um novo medicamento aprovado pela Anvisa em 2019
- Iniciativa pode prevenir recaídas e potencialmente mudar a forma como os países em que a malária é endêmica lidam com casos
- O Brasil será o primeiro país do mundo a utilizar esse novo tratamento em larga escala
20 de setembro de 2021 - A partir deste mês, pacientes com diagnóstico de malária por Plasmodium vivax (P. vivax) em Manaus e Porto Velho serão tratados de acordo com um novo protocolo de atendimento como parte de um programa inovador apoiado pelo Ministério da Saúde (MS). Esta iniciativa pioneira, que viabiliza pela primeira vez no mundo a utilização de um novo medicamento em larga escala, será avaliada por meio de um estudo chamado TRuST, que permitirá ao MS entender como o novo protocolo de tratamento pode ser aplicado no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS).
Até o momento, adultos infectados com malária por P. vivax no Brasil eram tratados com cloroquina por três dias e primaquina por sete dias. O novo protocolo substitui os sete dias de primaquina por apenas uma dose de tafenoquina, um novo medicamento aprovado pela Anvisa em 2019. Espera-se que esse regime mais curto - recomendado pelo MS exclusivamente para os dois municípios por um ano - ajude a melhorar a adesão do paciente e, com isso, melhore os resultados do tratamento.
“Como o P. vivax infecta mais de 80% dos pacientes com malária no país e representa um fardo tanto para os pacientes quanto para o sistema público de saúde, principalmente na região amazônica, a possibilidade de ter um novo tratamento disponível em breve nos dá esperanças. É mais um passo rumo à eliminação dessa doença”, afirma o Dr. Marcus Lacerda, pesquisador responsável pelo TRuST vinculado à Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado (FMT – HVD) no Amazonas.
Esse novo programa se iniciará em hospitais e, com base nos resultados preliminares após alguns meses do estudo, passará a envolver unidades de atenção primária à saúde, cobrindo em última instância, todas as unidades que oferecem tratamento para a malária em ambos os municípios.
De acordo com David Reddy, CEO da MMV – Medicines for Malaria Venture, “o robusto sistema de saúde do Brasil o torna ideal para este projeto. O Brasil desempenhou um papel fundamental na pesquisa sobre a eficácia e segurança da tafenoquina e temos o prazer de trabalhar com parceiros no Brasil, como o primeiro país endêmico de malária a usar esse novo medicamento em grande escala, gerando dados de mundo real”.
Sobre o estudo TRuST
O estudo "Viabilidade Operacional da Cura Radical Apropriada de Plasmodium vivax com Tafenoquina ou Primaquina após Teste Quantitativo de G6PD no Brasil " foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, CONEP, e será conduzido por pesquisadores da FMT - HVD do Amazonas e do Centro de Pesquisas em Medicina Tropical (CEPEM) de Rondônia, em estreita colaboração com as secretarias municipais e estaduais de saúde em Manaus e Porto Velho.
O estudo TRuST analisará dados anônimos de aproximadamente 16 mil pacientes, coletados por meio do SIVEP Malária, o banco de dados de vigilância da malária do Ministério da Saúde para a região amazônica, ao longo de um ano. Apenas as informações sobre os pacientes que consintam com o compartilhamento de dados serão analisadas para avaliar se os pacientes receberam o tratamento apropriado (tafenoquina ou primaquina) de acordo com seu nível de atividade da enzima G6PD.
O uso de primaquina ou tafenoquina pelo paciente dependerá de um teste que também faz parte do novo protocolo de tratamento e foi aprovado pela Anvisa em 2018. Esse teste mede a atividade de uma enzima no sangue de uma pessoa [conhecida como glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD)], permitindo ao profissional de saúde selecionar o tratamento adequado. Cerca de 5% da população brasileira que vive na região amazônica tem um nível de atividade da enzima G6PD abaixo da faixa necessária para tafenoquina em dose única ou primaquina diária.
“Estamos trabalhando para tornar o tratamento da malária P. vivax mais fácil para os pacientes. Já sabemos que o medicamento é eficaz, mas é importante entender como esse novo protocolo de tratamento funcionará na prática”, explica Marcelo Wada, Coordenador-Geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Ministério da Saúde.
Veja abaixo como funciona o estudo:
Sobre a MMV
A Medicines for Malaria Venture (MMV) é uma parceria de desenvolvimento de produto (PDP) líder no campo de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de medicamentos antimaláricos.
Sua missão é reduzir a sobrecarga que o tratamento da malária produz em países nos quais a doença é endêmica, descobrindo, desenvolvendo e facilitando a distribuição de medicamentos antimaláricos novos, eficazes e acessíveis. Desde a sua fundação em 1999, a MMV e seus parceiros construíram o maior portfólio de P&D em antimaláricos e projetos de acesso do mundo, apresentaram 11 novos medicamentos e assumiram a administração de acesso de outros dois. Estima-se que 2,7 milhões de vidas foram salvas por esses medicamentos.
O sucesso da MMV é baseado em sua extensa rede com cerca de 150 parceiros atualmente ativos, incluindo indústria farmacêutica, academia e países endêmicos.
A visão da MMV é um mundo no qual medicamentos inovadores irão curar e proteger as populações vulneráveis e sob risco de malária e ajudar a erradicar essa terrível doença. www.mmv.org
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