O ano da contrafensiva contra o Bolsonaro

Enquanto foram se acumulando os setores da sociedade que, de diferentes formas, rejeitam o governo, mas sem possibilidade de expressá-lo nas ruas

Emir Sader
Publicada em 30 de dezembro de 2020 às 08:51
O ano da contrafensiva contra o Bolsonaro

Entre as características particulares de 2020 esteve o marco favorável à sobrevivência do governo, contando tanto com o auxílio-emergencial – enquanto a política econômica neoliberal tolerou – e a quarentena, com o bloqueio a manifestações de rua. 

A combinação desses elementos, contando com o acesso aos que receberam o auxílio por parte do governo, enquanto a oposição tem dificuldades para chegar mais além de até onde chega a internet, permitiram o desfrute de grau de apoio por parte de Bolsonaro.

A situação de Lula, bloqueado de sair a se comunicar com o povo, levando sua palavra como contraponto ao governo, expressa, da forma mais aguda, a situação particular de bloqueio da esquerda. Enquanto foram se acumulando os setores da sociedade que, de diferentes formas, rejeitam o governo, mas sem possibilidade de expressá-lo nas ruas.

Foi assim que um governo com políticas brutalmente anti-populares e anti-democráticas conseguiu concluir seu segundo ano, chegando à metade do seu mandato. Mas no final do segundo ano, foram se somando elementos desfavoráveis a Bolsonaro. Entre eles a derrota de Trump e a eleição de Biden, a derrota dos candidatos apoiados por Bolsonaro, além da incapacidade do governo de estender o auxílio mais além de dezembro. Para completar esse quadro negativo para o governo, a desastrosa atitude do governo e de Bolsonaro em relação à pandemia e à vacinação, tendem a concentrar no presidente, pela primeira vez, a culpa pelas vítimas do vírus.

Anuncia-se um 2021 com intensificação da crise econômica e suas consequências sociais, além da extensão dos desgastes do governo com os atrasos na vacinação e o aumento das vítimas da pandemia. O cenário internacional, pelos fatores apontados, promoverá um isolamento do país nunca visto até agora.

A combinação desses fatores, mesmo com a extensão da quarentena até por volta da metade do ano, permite que a esquerda retome a iniciativa e passe a disputar o espaço de polarização contra o governo. O lançamento da candidatura do Lula como o candidato da esquerda é uma referência central para que a esquerda volte a ser protagonista fundamental da política brasileira.

É clara a prioridade que o Bolsonaro dá à reeleição, tanto para prolongar o poder que ele tem, como para se defender e defender seus filhos das graves acusações que pesam sobre eles e das quais eles só conseguem se defender pelo cargo de presidente do chefe da família. Suas viagens tem claramente o caráter de tentar ganhar bases de apoio da esquerda, especialmente no nordeste. Mas nas visitas a outros estados, ele trata de dar o caráter de campanha eleitoral.

A esquerda tem que se contrapor com a candidatura do Lula. Daqui até o meio do ano, é o tempo da esquerda elaborar o programa, avançar na construção das alianças, projetar a candidatura do Lula e começar, a partir da metade de 2021, a campanha eleitoral de 2022.

A virada decisiva na perspectiva das eleições presidenciais tem na retomada da iniciativa política da esquerda e na candidatura do Lula, seus dois eixos fundamentais. Uma virada que tem que começar em 2021, para poder desembocar vitoriosamente em 2022.

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