O beijo de Judas

O beijo de Judas tornou-se prática habitual na etiqueta de políticos profissionais de todos os matizes, capazes até mesmo de um gesto de dignidade para permanecerem na crista da onda política.

Valdemir Caldas
Publicada em 07 de março de 2018 às 16:04

Quem não gostaria de ser governador de Rondônia. Alguns, por motivos nobres; outros, porém, nem tanto. Sentar-se na principalmente cadeira do palácio Getúlio Vargas, ocupada, hoje, pelo senhor Confúcio Moura, tem um preço, que nem todo mundo consegue pagar. É preciso, dentre outras coisas, aprender a arte de engolir sapos. Muitos são conseguem e, por isso, são atropelados no meio do caminho, ou, então, jogados às feras.   

Até o final da semana passada, o vice-governador Daniel Pereira sonhava (ou ainda sonha?) comandar os destinos de Rondônia, mas parece que a trairagem, motivada pela ambição do poder de homens públicos, que pensam mais em si do que propriamente nos sagrados interesses da população que os elegeu, sepultou suas pretensões.

O beijo de Judas tornou-se prática habitual na etiqueta de políticos profissionais de todos os matizes, capazes até mesmo de um gesto de dignidade para permanecerem na crista da onda política. Daniel acreditava poder contribuir de alguma maneira para mudar, como sua nobreza moral, o cenário pervertido da política rondoniense, mas acabou sendo vítima, recentemente, da conhecida e usual torpeza, que desde há muito tem caracterizado a política nacional.

Apesar do racha entre ele e Confúcio, eventualmente por causa do vazamento de um áudio clandestino em que deputados estaduais ameaçam instalar uma CPI para apurar possíveis irregularidades na administração estadual, caso o governador insistisse em disputar o senado e deixasse o vice no comando do Estado, Daniel disse que, se o senador Acir Gurgacz não puder ser candidato, vai entrar na disputa para peitar seus algozes.

Foi um golpe implacável. Não sei se Daniel resistirá ao beijo de Judas. Alguns diriam que esse é o preço pago pelos que se aventuram a entrar numa disputa extremamente acirrada, na qual muitos abrem mão da dignidade pessoal, vendem a própria consciência ao diabo e fazem conchavos tenebrosos. Se Daniel, que já foi deputado estadual, é líder sindical e vice-governador, está magoado com as coisas da politica, imagine o que pensa a sociedade, diante de tanta imoralidade.

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