O Brasil tem jeito, sim!

A fila do osso, a crise dos Yanomamis, a favelização da sociedade, a falta de escolaridade, a fome e a miséria são até normais. Mas o Brasil tem jeito, sim! Basta a elite querer isso

Professor Nazareno
Publicada em 13 de fevereiro de 2023 às 10:42

O Brasil praticamente tem apenas um só problema: a desigualdade social. E é essa aberração social que dá origem a todos os outros obstáculos que vivenciamos diariamente em nossa sociedade. Desde que Cabral chegou em terras tupiniquins, a infâmia da luta de classes nos perseguiu pelos séculos seguintes até hoje. Mas o homem branco português não se misturou aos “selvagens” que aqui encontrou. Depois veio a escravidão e milhões de negros africanos vieram para fazer parte da sociedade nacional. Os chamados escravos foram explorados ao máximo pela ambiciosa elite branca. Desde então, a “casa grande e a senzala” adornaram e perpetuaram por séculos o que vemos até os dias atuais: pouquíssimos cidadãos desfrutando de muito dinheiro, prestígio e bonança enquanto a maioria dos brasileiros, negros e indígenas, vivendo na mais absoluta miséria e pobreza.

Essa perversa realidade, que sempre esteve sob responsabilidade da elite branca nacional, é a maior identidade do nosso país. Esses poderosos sempre se identificaram com os ideais europeus e por isso não pouparam esforços para dominar e explorar quem se colocasse em seu caminho. Historicamente negros e indígenas quase não têm acesso aos melhores postos dentro da nossa estratificada sociedade. No Brasil quase não há escolas de boa qualidade e os serviços públicos são de péssima qualidade. Aqui paga-se um salário mínimo miserável e quase toda a riqueza nacional está nas mãos dos banqueiros, políticos, latifundiários, industriais e magnatas. O Brasil tem hoje mais de 30 milhões de pessoas que passam fome, pois vivem na mais extrema pobreza. Enquanto isso, neste ano de 2023 o país deve produzir mais de 302 milhões de toneladas só de grãos.

Isso sem falar em carnes, peixes, aves, frutas, legumes. Ou seja, cada brasileiro teria, por ano, em tese, quase duas toneladas de alimentos à disposição para saciar a sua fome. Em Rondônia, por exemplo, o Estado fechou o ano de 2022 com quase 18 milhões de cabeças de gado. Isso para uma população inferior a 1,6 milhão de habitantes. Isto é, quase 12 cabeças para cada pessoa. E quem come carne por aqui? Qual o preço dessa iguaria e os seus derivados? Basta ir a um supermercado e ver o absurdo. Enquanto a casa grande se locupleta de proteínas, a senzala tomba de fome. O Brasil é injusto com seus habitantes e essa injustiça se verifica também pelos Estados e municípios do país. A crise de fome dos Yanomamis é fichinha se olharmos a situação caótica por que passa a maioria dos brasileiros pobres das periferias. E qual o governante que vai resolver essa vergonha?

Nenhum deles. Seja da direita, da esquerda ou da extrema-direita. A maioria dos nossos políticos está à disposição apenas da elite e dos endinheirados. O establishment está montado há tempos. E é a elite endinheirada que praticamente banca a eleição de quase toda essa gente. Então, é a essa elite que eles servem e não aos pobres e aos miseráveis. A criação de mais políticas macroeconômicas pelos governantes até que poderia amenizar os graves problemas do Brasil. Mas quem tentar fazer isso, sai do poder mais rápido do que entrou. Lula, a esquerda e o PT, neste aspecto, são iguais ao Bolsonaro, ao Michel Temer e a tantos outros presidentes e governos que já tivemos. Estamos no século XXI e ainda convivemos vergonhosamente com a desigualdade social. A fila do osso, a crise dos Yanomamis, a favelização da sociedade, a falta de escolaridade, a fome e a miséria são até normais. Mas o Brasil tem jeito, sim! Basta a elite querer isso.

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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