O gesto suicida que precisa levar ao fascistão
"Podem prender milhares de manés e nada estará resolvido ou reparado se os líderes e incitadores continuarem impunes", diz Moisés Mendes
Jair Bolsonaro (Foto: Reuters/Ueslei Marcelino)
Os terroristas que invadiram Brasília são os operadores e a caricatura do fascismo brasileiro. O grande fascista, o fascistão que não aparece nas imagens, está encoberto.
O gesto deste domingo põe na guilhotina os pescoços de manés e patriotas que pedem a própria prisão como única saída para que suas vidas tenham algum sentido.
Podem estar frustrados muitos dos que participaram do plano de tomada do poder invadindo o Congresso, o Planalto e o Supremo e não foram presos.
O imbecil que nem preso foi agora afunda na depressão da sua insignificância. Esse não teve nem mesmo o direito de ser mártir de alguma coisa que o coloca só abaixo de Deus.
Essa figura parece ser, na armadilha das percepções provocadas pelas invasões, um dos personagens da tentativa de compreensão do blefe do golpe.
Mas não é ele quem nos explica melhor o terrorismo. O mané invasor é um criminoso operador da ponta do fascismo. Criminoso, mas operador suicida.
Não é pelo mané que entenderemos tudo o que aconteceu, assim como não é apenas pelos soldados e sargentos que entenderemos qualquer guerra em qualquer tempo.
Os manés bandidos têm o mesmo molde da turba que invadiu o Capitólio com o homem das guampas.
Serão presos, julgados e condenados, como acontecerá com os mais de 900 trumpistas encarcerados nos Estados Unidos. Mas isso não basta.
Podem prender milhares de manés e nada estará resolvido ou reparado, se os líderes e incitadores continuarem impunes.
As ações deste domingo convocam os defensores da democracia para outra luta cujo desfecho, por estratégia, vem sendo adiado há muito tempo. É a guerra contra os que controlam, manipulam e financiam os manés.
São os que empurram os manés para a luta porque têm poder econômico. Os milionários que agem desde a eleição de 2018 e até hoje foram apenas contidos por Alexandre de Moraes.
Nem existiriam manés sem Bolsonaro, sem os militares, sem o centrão e sem os empresários com muito dinheiro que viabilizaram os atos golpistas, mas atuam desde a formação do gabinete do ódio.
Chega de pegar só o mané. Peguem patriotas e prendam terroristas. Mas não há mais como adiar o cerco aos fascistões.
Não o comerciante dono de um bolicho em Sorocaba. Não o serralheiro de Campo Grande e tampouco ao dono da rede de mercadinhos de Ribeirão Preto.
O personagem que o gesto deste domingo deve expor e colocar ao alcance do sistema de Justiça é o empresário grandão, o fascistão que escapa sempre do cerco do Ministério Público e do Judiciário, porque tem proteções que o serralheiro nunca terá.
Peguem o fascistão que incita e financia o terrorismo há mais de quatro anos, ou os manés e patriotas continuarão se reproduzindo.
O bravo ministro Alexandre de Moraes vem cercando o fascistão, que ele conhece bem. Pode ter chegado a hora de dar o bote.
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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