O João Paulo de hoje é o mesmo de 19 anos atrás
E, o pior, é que ninguém consegue resolver os problemas que envolvem aquela importante unidade de saúde
No dia 20 de janeiro de 2003, portanto, há 19 anos, uma emissora de televisão local mostrou um homem, deitado em uma maca, num dos corredores do hospital João Paulo II, agonizando com um estilhaço de bala no rosto, enquanto alguém decidia se o seu problema era ou não de urgência. Resultado: o cidadão morreu horas depois. Teria sido vítima de parada cardíaca. Naquela ocasião, o secretário de saúde prometeu abrir uma sindicância para apurar o caso. Se o fez, até hoje não se sabe de quem foi a culpa.
A imagem chocou não apenas a quem a assistiu. Logo a notícia se espalhou como rastilho, levando de roldão o sentimento de indignação de segmentos da sociedade, especialmente daqueles que dependem dos serviços prestados pela rede pública de saúde. Cenas como as que foram protagonizadas pelo vigilante que arquejou até a morte numa padiola do João Paulo II não é novidade no dia a dia daquela unidade de saúde. Frequentemente, pessoas morrem à mingua por falta de atendimento médico-hospitalar.
Quando um acontecimento trágico acontece, logo autoridades se esforçam para esclarecer o episódio, desenhando um quadro tão ao gosto delas mesmas, como se o ser humano tivesse propensão natural para a desdita. Em vão. Azar do coitado do vigilante, que morreu, supostamente, por falta de atendimento, de parada cardíaca. Os profissionais, coitados, fazem de tudo para ajudar, mas eles não sabem fazer milagres.
Dizer-se que alguém desconhece a realidade do João Paulo II seria mais que supina imbecilidade. Mesmo a pessoa mais desinformada já terá ido aquela unidade de saúde em busca de remediar seus próprios males, de mitigar a sua dor, ou de alguém que lhe é próximo. Só isso seria suficiente para colocar esse desatento cidadão em contato com um dos aspectos mais vergonhosos de uma sociedade que se diz cristã e verbera contra os que se mostram insatisfeitos.
Alguma coisa está errada com o hospital João Paulo II e não é de hoje. E quem garante isso não é um desses políticos profissionais, catadores de votos em período eleitoral, mas especialistas no assunto, profissionais sérios e respeitados, que há muito tempo vêm denunciando as mazelas do setor. Medidas emergênciais, reuniões, encontros sucessivos, nada disso logrou os resultados desejados. Nada mudou. O João Paulo é, hoje, o mesmo de dezenove anos atrás. E, o pior, é que ninguém consegue resolver os problemas que envolvem aquela importante unidade de saúde.
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