O vexame do PL 2630 deve ser comemorado

"A esperteza excessiva caiu de madura, abrindo espaço para um debate responsável", diz Paulo Moreira Leite

Paulo Moreira Leite
Publicada em 03 de maio de 2023 às 15:20

Orlando SilvaOrlando Silva (Foto: Reuters/Dado Ruvic | Bruno Spada/Câmara dos Deputados | Cleia Viana/Câmara dos Deputados)

Com o desmanche da manobra que pretendia aprovar o Projeto de Lei 2630 num sufoco político que lembrou os piores momentos da política brasileira, o país recuperou uma oportunidade política única, da qual o governo Lula não pode fugir.  

É preciso – com urgência – dar tempo e espaço a um debate jamais realizado no país sobre o funcionamento das redes sociais, este universo de trânsito e abastecimento das disputas políticas e interesses econômicos deste século XXI.  Trata-se, aqui e agora, de reconhecer uma mudança de natureza histórica.

No mundo de hoje, a internet ocupa o lugar da velha praça pública que deu origem às cidades que transformaram o velho regime feudal nas sociedades capitalistas dos séculos seguintes, trazendo novos desafios, contradições – e oportunidades. 

Instrumentos de poder cada vez mais influentes, as redes sociais enfrentam, no Brasil, um desafio equivalente ao que também encontram na maior parte do planeta. 

A questão é saber se irão contribuir para a liberdade e o bem-estar dos povos, ou se irão servir de instrumentos à manipulação ao obscurantismo e às ditaduras. 

O desafio está lançado – basta ler os jornais. Numa época que envolve questões desta grandeza, a recusa em aprovar a PEC 2630  abre caminho para que se avance numa conquista histórica, na qual o governo Lula e seus aliados terão grandes responsabilidades a cumprir. 

Ontem, a esperteza excessiva caiu de madura, abrindo espaço para um debate responsável, compatível com as necessidades da maioria e a decisão das urnas. 

Mais do que nunca, é preciso avançar nessa direção, evitando abismos antidemocráticos. 

Alguma dúvida?

Paulo Moreira Leite

Paulo Moreira Leite é colunista do 247, ocupou postos executivos na VEJA e na Época, foi correspondente na França e nos EUA

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