Os cem dias de governo no arcabouço do combate à desinformação

"O Ministério da Justiça e a Secom são os dois mais importantes ministérios para esse embate crucial ao Estado Democrático de Direito", diz Florestan

Florestan Fernandes Jr
Publicada em 10 de abril de 2023 às 16:34

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(Foto: Ricardo Stuckert)

Sobre as dificuldades imensas do governo Lula, a maior delas, sem dúvida, é ter sucedido um governo de destruição, que se entranhou institucionalmente e em todo o tecido social. 

Esse processo de esgarçamento da nossa democracia não acabou com a vitória de Lula nas urnas, e nem com a prisão de centenas de pessoas que participaram dos atos terroristas de 8 de janeiro. 

O enfrentamento às Fake News e ao discurso de ódio são, talvez, o maior desafio do governo. Não à toa, o ministro da Justiça, Flavio Dino, tenha sido o nome de maior projeção nesses primeiros três meses da administração federal. O Ministério da Justiça e a Secom são os dois mais importantes ministérios para esse embate crucial ao Estado Democrático de Direito.

No último fim de semana, o ministro Paulo Pimenta, em entrevista ao Boa Noite 247, afirmou que para lidar com essa realidade, o governo colocou 50 policiais federais na identificação do discurso de ódio nas redes sociais, com ações preventivas e repressivas. Disse também que o governo pretende falar abertamente com a população, em lives semanais do presidente Lula. Duas boas ações que vêm acompanhadas da reestruturação da EBC, a empresa pública de comunicação. O presidente tem feito um esforço enorme para enfrentar a desinformação. Em três meses, deu oito entrevistas coletivas, várias exclusivas, além de muitas falas aos repórteres, em suas andanças pelo país.  

Lula sabe muito bem que nós, como sociedade, teremos um logo e duro caminho para estancar a verdadeira “hemorragia” que tem ceifado vidas, literalmente, em ataques violentos em escolas, festas, conversas de bar e até no trânsito das grandes cidades. 

O discurso de ódio, a desinformação e o incentivo à compra e uso das armas, nos transformaram numa sociedade vulnerável às ações de fanáticos extremistas de direita.

Há uma poderosa máquina eleitoral que, por pouco, não reelegeu o seu líder, mas que tem hoje uma forte bancada no Senado e na Câmara Federal. 

Poucos são os jornalistas que se preocupam em fazer um balanço, também dos mandatos dos eleitos em 2022. 

Se fizessem iriam constatar que os debates acalorados dos parlamentares não são mais de ideias, são de um nível rasteiro, pontuados de exaltação a torturadores, ao assédio moral, misógino, racista e transfóbico. E não raro, até de ameaças à vida do opositor. 

Li ontem uma referência a uma fala de Pasolini que, 20 anos após a queda de Mussolini, disse que "o verdadeiro fascismo é aquele que tem por alvo os valores, as almas, as linguagens, os gestos, os corpos do povo". Isso fala de nossa realidade contemporânea também. Ainda teremos que enfrentar por tempos a brutalidade destrutiva do bolsonarismo.

Florestan Fernandes Jr

Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247

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