Pazuello faz “CPI training” mas continua homem-bomba

"Se as coisas continuarem assim, basta sentar e esperar o dia em que o homem-bomba irá explodir. Se, por ora, Pazuello está disposto a blindar o chefe – afinal, ele ainda é funcionário do governo – , mas não vai ser fácil manter essa narrativa até o fim", escreve Helena Chagas

Helena Chagas
Publicada em 04 de maio de 2021 às 11:50
Pazuello faz “CPI training” mas continua homem-bomba

O general Eduardo Pazuello passou por um CPI training neste fim de semana no Palácio do Planalto, e deve estar com o discurso na ponta da língua para apresentar-se na CPI da Covid nesta quarta. Não deverá fazer revelações, e dificilmente sairá concretamente incriminado. Pelo que se sabe, a Comissão ainda não tem provas documentais para confrontá-lo – o que provavelmente terá em algumas semanas, exigindo nova convocação.

Mas a ida de Pazuello à CPI não livra o governo do desgaste e coloca Jair Bolsonaro diante de um dilema: nesta quarta, terá que ficar decidido se o presidente defende o seu ex-auxiliar e tudo o que fez, agarrando-se a ele num abraço que poderá afogar a ambos; ou se, como querem alguns no governo, joga Pazuello ao mar, livrando a própria cara mas arriscando-se a vê-lo, mais adiante, apontar o dedo para ele. 

No fim de semana, um sinal contrário ao que parecia comandar a equação foi dado pelo atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Ele deixou claro, ao falar sobre a suspensão da vacinação da segunda dose de Coronavac em várias cidades, que a culpa é de seu antecessor, que há cerca de um mês e meio orientou os municípios a usarem as doses reservadas para a segunda aplicação para a ampliar a primeira. Quem fez isso se estrepou, e a responsabilidade, é claro, já foi endereçada ao ex-ministro.

Se as coisas continuarem assim, basta sentar e esperar o dia em que o homem-bomba irá explodir. Se, por ora, Pazuello está disposto a blindar o chefe – afinal, ele ainda é funcionário do governo – , mas não vai ser fácil manter essa narrativa até o fim. Na CPI, a pressão será enorme, e ele nem precisará mostrar o vídeo em que diz, ao lado de Bolsonaro, que ali “um  manda e outro obedece”. Se perceber que pode melhorar a própria situação com isso – evitando, por exemplo, uma prisão – Pazuello pode mudar de narrativa. 

Helena Chagas

Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia

Comentários

    Seja o primeiro a comentar

Envie seu Comentário

 
NetBet

Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook

Lula em conversas políticas pela pandemia

Lula em conversas políticas pela pandemia

"Olhando pelo retrovisor, não conseguimos enxergar em nenhum momento da história do país um ano em que os trabalhadores deixaram de organizar um ato pelo seu dia. Não houve, por parte da esquerda, nenhuma sinalização externa de que há uma organização em curso, pela reconquista dos direitos perdidos, de combate ao antipetismo ou mesmo de que há uma candidatura sendo posta", analisa Denise Assis