Pazuello faz “CPI training” mas continua homem-bomba
"Se as coisas continuarem assim, basta sentar e esperar o dia em que o homem-bomba irá explodir. Se, por ora, Pazuello está disposto a blindar o chefe – afinal, ele ainda é funcionário do governo – , mas não vai ser fácil manter essa narrativa até o fim", escreve Helena Chagas
O general Eduardo Pazuello passou por um CPI training neste fim de semana no Palácio do Planalto, e deve estar com o discurso na ponta da língua para apresentar-se na CPI da Covid nesta quarta. Não deverá fazer revelações, e dificilmente sairá concretamente incriminado. Pelo que se sabe, a Comissão ainda não tem provas documentais para confrontá-lo – o que provavelmente terá em algumas semanas, exigindo nova convocação.
Mas a ida de Pazuello à CPI não livra o governo do desgaste e coloca Jair Bolsonaro diante de um dilema: nesta quarta, terá que ficar decidido se o presidente defende o seu ex-auxiliar e tudo o que fez, agarrando-se a ele num abraço que poderá afogar a ambos; ou se, como querem alguns no governo, joga Pazuello ao mar, livrando a própria cara mas arriscando-se a vê-lo, mais adiante, apontar o dedo para ele.
No fim de semana, um sinal contrário ao que parecia comandar a equação foi dado pelo atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Ele deixou claro, ao falar sobre a suspensão da vacinação da segunda dose de Coronavac em várias cidades, que a culpa é de seu antecessor, que há cerca de um mês e meio orientou os municípios a usarem as doses reservadas para a segunda aplicação para a ampliar a primeira. Quem fez isso se estrepou, e a responsabilidade, é claro, já foi endereçada ao ex-ministro.
Se as coisas continuarem assim, basta sentar e esperar o dia em que o homem-bomba irá explodir. Se, por ora, Pazuello está disposto a blindar o chefe – afinal, ele ainda é funcionário do governo – , mas não vai ser fácil manter essa narrativa até o fim. Na CPI, a pressão será enorme, e ele nem precisará mostrar o vídeo em que diz, ao lado de Bolsonaro, que ali “um manda e outro obedece”. Se perceber que pode melhorar a própria situação com isso – evitando, por exemplo, uma prisão – Pazuello pode mudar de narrativa.
Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia
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