Perfil rondoniano em 2171

Já na Rondônia de 2171 o governador, sargento José Rocha Santos e seu vice Dr. João Lima Cassol Chaves mandaram prender o professor

Professor Nazareno*
Publicada em 03 de maio de 2021 às 09:45
Perfil rondoniano em 2171

Estamos no futuro! O ano é 2171, a exatos 150 anos de hoje. E por incrível que pareça, Porto Velho e Rondônia, apesar de tudo, ainda resistem no tempo. A capital dos rondonienses continua lá no futuro ainda suja, imunda e mal administrada. É uma espécie de oásis em meio a grandes extensões de terras arenosas e inservíveis. Árvores não há. A floresta amazônica deu lugar a areões improdutíveis e estéreis. Todos os rios da região secaram. O outrora imponente rio Madeira não passa de um pequeno filete de água suja que só serve para transportar o esgoto produzido pela cidade. Urubus e ratazanas infestam as ruas quase sem vida. Em uma escola pública, um professor diz a seus alunos o que foi a pandemia do Coronavírus ocorrida há um século e meio e que teria matado no Brasil três milhões de pessoas. Só em Rondônia, foram 30 mil mortes.

O professor, depois de ter saído de uma greve de 400 dias por melhores salários, tenta explicar a seus alunos que em Rondônia, alguns homens públicos tentaram acabar com a pandemia usando a fumaça de solda elétrica e por isso serviram de galhofa no resto do país. Disse também que o governador do Estado na época era um negacionista e fazia de tudo para adular ao presidente da República, por isso vivia muito confuso: não sabia se usava os protocolos prescritos pela ciência ou se lambia botas de seu “chefe”. Bisonhamente, o mandatário estadual e o seu secretário de Saúde faziam rotineiros “pit stops” para distribuir remédios sem nenhuma eficácia e não recomendados pela ciência para deter o Coronavírus. O professor explicou também que a pandemia serviu para que um famoso “açougue” que existia na capital fosse totalmente ignorado pelos pacientes.

Emissoras de televisão de Rondônia e também alguns sujeitos metidos a “jornalistas” durante a pandemia faziam irresponsavelmente propagandas de um “tratamento precoce”, igualmente sem nenhuma eficácia, só para confundir os idiotas e ajudar dessa forma na venda de remédios. Só que a mídia, quase toda ela vendida aos políticos de plantão, servia, como sempre, somente aos interesses dos poderosos. O cuidadoso professor explicou que a pandemia do Coronavírus teve consequências relativamente iguais às outras pandemias: depois da Peste Negra veio a Inquisição. Depois da Gripe Espanhola veio o Holocausto e depois da Covid-19 veio a reeleição, várias vezes no Brasil, de candidatos da extrema-direita. O conservadorismo floresceu no país por quase um século mandando e desmandando na população e nos costumes.

O governo do Brasil, durante a pandemia da Covid-19, esconjurou as vacinas do mundo inteiro e turbinou a produção de Cloroquina, remédio cientificamente reprovado pela OMS como sendo inútil para combater o vírus. Milhões e milhões de doses de vacinas, que poderiam ter salvado muitas vidas, foram rejeitadas sistematicamente pelo presidente, que na época foi acusado de genocida. Jair Bolsonaro da extrema-direita era o nome do mandatário do Brasil no ano de 2021. Ele fazia escárnios e debochava dos cidadãos mortos pela doença. Falava que a pandemia, temida no mundo inteiro, não passava de uma gripezinha e pedia aos familiares dos mortos que “parassem de frescura e de mi mi mi”. Toda vez que falava estas asneiras ele era aplaudido e sempre mais admirado pelos milhões de fãs. Já na Rondônia de 2171 o governador, sargento José Rocha Santos e seu vice Dr. João Lima Cassol Chaves mandaram prender o professor.  

*Foi Professor em Porto Velho.

Comentários

  • 1
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    Pedro Paulo Almodovar 03/05/2021

    Ufa! Achei que o Professor Nazareno estava sofrendo boicote deste conceituado site. Ainda bem que me enganei! Sempre é bom ler críticas bem embasadas, que nos fazem pensar... (e no caso daqueles que possuem cérebro comprometido, geram mugidos ruidosos). Cada um de nós deveria, de vez em quando, pensar no futuro que estamos construindo para nossos filho, netos e toda a futura geração. A agir para que eles tenham um mundo habitável.

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