PGR envia ao Supremo relatório das buscas e apreensões em endereços ligados ao deputado Wilson Santiago

Parlamentar está afastado do mandato desde dezembro do ano passado, quando foi denunciado por corrupção e organização criminosa

MPF/Foto: Antonio Augusto/Secom/PGR
Publicada em 04 de fevereiro de 2020 às 15:28
PGR envia ao Supremo relatório das buscas e apreensões em endereços ligados ao deputado Wilson Santiago

Em requerimento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou a juntada do relatório das buscas e apreensões realizadas na investigação contra o deputado federal Wilson Santiago (PTB/PB). O material foi apreendido em dezembro do ano passado, na Operação Pés de Barro, em cumprimento à ordem judicial do relator do caso no STF, ministro Celso de Mello. Na oportunidade, foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão em endereços residencias do parlamentar tanto em João Pessoa (PB) quanto em Brasília (DF).

Além das buscas, o ministro determinou, à época, o afastamento de Santiago de suas funções e a prisão de outros quatro denunciados. Ainda em dezembro do ano passado (dia 21), o deputado federal e outras seis pessoas foram denunciados pelos crimes de corrupção passiva e organização criminosa por desvios de recursos públicos destinados à construção de uma adutora essencial para reduzir os efeitos da seca no interior da Paraíba.

Os documentos apreendidos pela Polícia Federal foram anexados à PET 8.637, no âmbito da qual foram cumpridas as medidas cautelares, e cujo sigilo foi retirado em 28 de janeiro, por decisão do ministro Luiz Fux que, naquele momento, respondia pela Suprema Corte.

Aeronave - Um dos documentos apreendidos na casa de Wilson Santiago na Paraíba, e que passaram a integrar os autos, foi o controle financeiro de um avião registrado em nome da empresa JFB Locadora. O sócio administrador da companhia é o secretário parlamentar Israel Nunes de Lima, um dos denunciados no ano passado. Apontado como um dos responsáveis pela entrega de propina ao deputado, Israel Nunes está preso preventivamente.

O deputado requereu o reembolso de R$ 58 mil, decorrente do pagamento de despesas com aluguel de veículos da empresa JFB Locadora. O parlamentar também pediu o reembolso de R$ 16 mil pelo pagamento do fretamento de aeronave de filial da mesma companhia. As despesas foram realizadas entre julho e novembro do ano passado. Israel Nunes tornou-se sócio da locadora em 17 junho do mesmo ano.

Na denúncia, Israel Nunes é descrito como sendo uma das pessoas encarregadas do recolhimento da vantagem indevida destinada ao parlamentar, conforme informações e provas fornecidas pelo colaborador. Em uma das oportunidades (3 de outubro de 2019) detalhadas na peça ministerial, o deputado recebeu R$ 25 mil de propina. A entrega, ocorrida na sede do PTB na Paraíba, foi feita por Israel e outro integrante do esquema criminoso. Pouco mais de um mês depois, em 7 de novembro, Israel foi, conforme a denúncia, portador de uma nova entrega de dinheiro ao parlamentar. Coube a ele receber R$ 50 mil do colaborador, no aeroporto de Brasília, e transportar o valor até o Anexo IV da Câmara dos Deputados, onde fica o gabinete de Santiago.

Outro documento enviado ao STF para ser juntado à investigação foi a cópia de cheque no valor de R$ 3 milhões assinado por Wilson Santiago. Não há informação a quem se destinou o cheque, mas, conforme relatório da PF, a sua existência pode indicar a “capacidade financeira do investigado”.

O vice-PGR, José Bonifácio, requereu, ainda, a juntada de depoimento em que Rosalina Maria Galiza da Silva Cavalcante - que já trabalhou em uma das empresas de Wilson Santiago - confirma ter recebido R$ 30 mil do colaborador em um hotel, em Brasília, e, em seguida, entregue o dinheiro à esposa do parlamentar, na residência do casal, também na capital federal. O fato, que também consta da denúncia, ocorreu em 11 de dezembro de 2019 e foi flagrado em uma das ações controladas autorizadas pelo STF.

No depoimento, a mulher, que à época da ação não tinha sido identificada, afirmou que havia se desligado da empresa WS, do parlamentar e da esposa, no mês de agosto de 2019, mas que foi chamada à Câmara dos Deputados, onde recebeu de Santiago a solicitação para o recebimento e entrega do dinheiro. Como explicação, ouviu que se tratava de valor decorrente da venda de um imóvel e que teria como destino o pagamento de dívidas da empresa.

A denúncia contra o parlamentar e demais envolvidos aguarda apreciação do STF. Na inicial da ação penal foi pedido o desmembramento do Inquérito 4.800 para continuidade da apuração dos fatos relacionados aos crimes de lavagem de dinheiro, fraude à licitação e peculato que teriam sido levados a efeito pelos denunciados, com a autuação de novo Inquérito.

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