'Por acaso, foi o Bolsonaro que tocou fogo na floresta?' Sim, veja o passo a passo
Bolsonaro já disse que “antes de construir um novo Brasil, precisamos destruir tudo isso que está aí”. Está apenas cumprindo a promessa
Ricardo Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros
"Ao contrário das fake news que Bolsonaro e suas milícias digitais divulgaram durante a semana, não foram as ONGs internacionais, a imprensa mundial nem os comunistas da União Européia que tocaram fogo na floresta", escreve o jornalista Ricardo Kotscho. "Trata-se, como veremos abaixo, de uma política de governo"
Ao contrário das fake news que Bolsonaro e suas milícias digitais divulgaram durante a semana, não foram as ONGs internacionais, a imprensa mundial nem os comunistas da União Européia que tocaram fogo na floresta.
Trata-se, como veremos abaixo, de uma política de governo.
Bolsonaro já disse que “antes de construir um novo Brasil, precisamos destruir tudo isso que está aí”. Está apenas cumprindo a promessa.
Durante a campanha eleitoral e desde seu primeiro dia de governo, o ex-capitão declarou guerra à Amazônia e liberou os “agrotrogloditas”, na perfeita definição de Elio Gaspari, a mandar brasa.
Escreveu Gaspari em sua coluna da Folha deste domingo:
“Feito o estrago, a mesma turma recorre aos truques de sempre: criaram um gabinete de crise e querem chamar o Exército (já chamaram). Se medidas desse tipo funcionassem, o Brasil já teria resolvido boa parte de seus problemas e o Rio seria uma Estocolmo”.
“A resposta às queimadas é mais simples. Basta botar na cadeia meia dúzia de agrotrogloditas que se aproveitaram da mudança de governo para botar fogo na mata”.
Tinha acabado de ler a coluna, quando recebi mensagem de Priscilla Cruz, minha colega e coordenadora do movimento Todos Pela Educação, com um levantamento enviado pelo site Horta Urbana, mostrando o passo a passo do governo até transformar a Amazônia numa crise internacional.
Abaixo, os fatos do noticiário:
Vamos supor que:
- Ele nunca tenha dito que causa ambiental é “coisa de vegano” e que atrasa o país;
- Ele nunca tenha proposto extinguir o Ministério do Meio Ambiente;
- Ele nunca tenha dito que o Ibama era indústria de multa;
- Ele não tenha dito que estava ao lado dos ruralistas e contra o Ibama;
- Que ele não tenha dito que não ia mais criar área protegida;
- Ele não tenha dito que dá pra explorar minério em terra indígena;
Mesmo assim, como podemos apontar a culpa do governo?
- O corte para o ministério do Meio Ambiente foi de 187 milhões de reais;
- O corte relacionado ao Ibama foi de 89 milhões, quase metade do valor contingenciado;
- Estamos perto de um incidente diplomático e econômico com a Alemanha e Noruega, que suspenderam o Fundo Amazônia, correspondente a um valor de 3,4 bilhões de reais. Esse fundo mantém, por exemplo, os helicópteros usados para fiscalização e combate a incêndios;
E tem mais…
- O governo ignorou todos os alertas de incêndio enviados pelo INPE desde janeiro;
- Desqualificou e negou dados científicos sobre o desmatamento;
- Transferiu o serviço florestal brasileiro do MMA para o Ministério da Agricultura;
- Anunciou um sistema que alerta antecipadamente os locais onde haverá fiscalização;
- Cortou 50% do orçamento do Prevfogo;
Calma, que tem mais…
- A tal “indústria da multa” do Ibama alegada por Bolsonaro, até 2018, conseguia contabilizar apenas 5% de multas quitadas;
- Como se não bastasse, houve redução de 34% no número de autuações ambientais em 2019;
- Pra piorar, o governo criou, em abril desse ano, o tal Núcleo de Conciliação, que tem o poder de anistiar multas ambientais;
Definitivamente, o governo sinaliza, grita e esperneia que o crime compensa.
Sim, o discurso anti-ambientalista estimula o crime.
Em 40 anos, desmatamos 17% da Amazônia. Se chegarmos a 20%, já era. Pois com este índice ela atinge o “ponto de não retorno”, não conseguindo se manter, não conseguindo captar CO2, formar os rios aéreos que promovem chuvas e estabelecer os serviços ecossistêmicos para reservas de água, produtos naturais, regulação do clima e até polinização de insumos agrícolas.
(via Horta Urbana)
O inacreditável ministro Ricardo Salles, defensor de mineradoras, um antiambientalista juramentado, continua firme no cargo de ministro do Meio Ambiente. .
Até o momento em que escrevo esta coluna, nenhum agrotroglodita foi para a cadeia.
E vida que segue.
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Nesse fenômeno das queimadas, ficou evidenciado, mais uma das suas facetas, a irresponsabilidade no trato com um fenômeno tão desafiador, para uma das regiões mais estratégicas do planeta, e a leviandade, com que conduz e trata essa questão
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É BOM LEMBRAR TAMBÉM QUE A PRESIDENTE, presidenta, AO SAIR DE SEU GOVERNO FALOU "ELES NÃO SABEM DO SOMOS CAPAZES" (só pra lembrar)
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