Por que o Brasil está dividido entre Lula e Bolsonaro?
"Os candidatos à terceira via não costumam se pronunciar sobre uma alternativa ao neoliberalismo ou, quando o fazem, estão a favor da política econômica do governo. Não representam uma terceira via entre essas duas alternativas fundamentais", escreve Emir Sader
As pesquisas mudaram ao longo deste ano, basicamente pela entrada direta do Lula na disputa presidencial. As consequências foram imediatas.
Lula assumiu o favoritismo, Bolsonaro se desidratou, baixando da casa dos 30% para a dos 25%, com tendência de baixa. Os pré-candidatos da chamada terceira via foram desaparecendo, assim como no próprio campo da esquerda (Boulos, Dino, entre outros).
As pesquisas foram somando uma proporção sempre muito alta entre as preferências pelo Lula e pelo Bolsonaro, restando pouco para os outros eventuais candidatos. Mas não somente por essa razão a polarização se consolida entre os dois. Nenhum dos candidatos da terceira via consegue obter apoios significativos. Ao contrário, Ciro baixou da casa dos 12% para a dos 6%. Os outros seguem com preferências inexpressivas. Além de que os pre-candidatos e seus partidos não se entendem para concentrar forças em torno de um ou dois deles.
Do que se trata é de saber porque essas tratativas não prosperam e, principalmente, porque nenhum dos pré-candidatos consegue deslanchar. O que contradiz a opinião de analistas, segundo os quais, haveria um espaço significativo para alternativas e apoios para além da polarização entre Lula e Bolsonaro.
Antes de tudo, a polarização entre os dois candidatos se dá em torno de uma questão de fundo – a favor do modelo neoliberal ou contra. Essa é uma questão central no mundo de hoje. O capitalismo, esgotado o modelo desenvolvimentista predominante desde o fim da Segunda Guerra Mundial até a virada da década de 1970 à de 1980, optou pela adoção do modelo neoliberal, que se generalizou por quase todo o mundo.
Comandada pelos Estados Unidos, esse modelo se estendeu à Europa e a países da Ásia e da grande maioria dos países da América Latina, tornando-se a política econômica que caracteriza o capitalismo no seu período atual.
No Brasil, o próprio PSDB, originariamente social democrata, manteve e aperfeiçoou o modelo herdado de Fernando Collor, aliando-se à direita tradicional, tornando esse modelo a opção global da direita e da centro-direita no Brasil. O PT, por sua vez, comandou a resistência a esse modelo e, quando finalmente venceu as eleições, colocou em prática um modelo anti-neoliberal em todos os governos que teve.
Hoje, Bolsonaro representa a continuidade do modelo neoliberal, enquanto Lula representa o anti-neoliberalismo. Esses são os dois horizontes econômicos para nossa sociedade. Os candidatos à terceira via não costumam se pronunciar sobre essa alternativa ou, quando o fazem, estão a favor da política econômica do governo. Não representam uma terceira via entre essas duas alternativas fundamentais.
Por outro lado, Bolsonaro representa um autoritarismo militarizado, enquanto Lula representa a restauração da democracia. São os dois horizontes políticos para o Brasil.
Os descontentes com os dois candidatos são uma minoria e não encontram alternativas que os convençam a apoiá-los. A direita e a extrema-direita, que têm na rejeição ao PT sua referência fundamental, se dão conta que, apesar de Bolsonaro ter condições cada vez menores de derrotar o Lula em eleições mais ou menos normais, não se aventuram a abandonar um candidato que ainda detém cerca de 25% de apoio, comparado com 6% ou menos para os pré-candidatos da terceira via. Ainda a hipótese de uma derrocada acelerada do Bolsonaro, não garante que algum daqueles seja o destinatário desses votos, que podem, pelo menos em parte, se dirigir para o Lula.
Embora falte muito tempo ainda, Bolsonaro parece esgotado como liderança. Ainda apelando para auxílios emergenciais e outras tentativas de reconquistar apoio, no máximo conseguirá deter sua tendência à queda nas pesquisas. Conforme a terceira via definitivamente não se consolida e se enfraquece, Lula tende a manter os apoios atuais ou ainda aumentá-los.
Para desespero de setores de direita que se sentem muito incômodos pela alternativa entre Lula e Bolsonaro, a alternativa se encaminha para ser essa. O Brasil tem, por isso, essas duas alternativas no seu horizonte.
Uma delas levará o país a perpetuar um regime político anti-democrático, com um modelo que favorece o capital financeiro e aprofunda as desigualdades e o desemprego. A outra, fará com que o Brasil resgate a democracia, retome o crescimento econômico, distribua renda, gere empregos e diminua as desigualdades.
O Brasil, no seu presente e no seu futuro, se divide entre essas duas possibilidades.
Emir Sader
Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros
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De origem libanesa, é graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, mestre em filosofia política e doutor em ciência política por essa mesma instituição. Nessa mesma universidade, trabalhou ainda como professor, inicialmente de filosofia e posteriormente de ciência política. Trabalhou também como pesquisador do Centro de Estudos Socioeconômicos da Universidade do Chile e foi professor de Política na Unicamp. Atualmente, é professor aposentado da Universidade de São Paulo, dirige o Laboratório de Políticas Públicas (LPP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde é professor de sociologia. Em 2011, foi cogitado para a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa,[2] nomeação abortada após crise gerada a partir de uma entrevista na qual fez criticas a ministra da cultura Ana Buarque de Hollanda. Atualmente é professor doutor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, coordenador do Laboratório de Políticas Públicas e Secretário Executivo do Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Estado e Governo, atuando principalmente nos seguintes temas: Lula, América Latina, Brasil e Política.[3] É autor de A Vingança da História, entre outros livros. Pensador de orientação marxista, Sader colabora com publicações nacionais e estrangeiras e é membro do conselho editorial do periódico inglês New Left Review. Presidiu a Associação Latino-Americana de Sociologia (ALAS, 1997-1999) e é um dos organizadores do Fórum Social Mundial. Em novembro de 2006, Sader foi condenado à prisão em regime aberto, além da perda da função pública por calúnia ao senador Jorge Bornhausen (PFL de Santa Catarina). No entanto, o Tribunal de Justiça de São Paulo aceitou recurso do cientista político contra o senador em fevereiro de 2009.[4] Após a declaração do presidente do PFL, há cerca de um ano, de que o Brasil precisava "livrar-se dessa raça", em referência ao Partido dos Trabalhadores e aos petistas, Emir Sader atribuiu a ele, em artigo no site Carta Maior,[5] no dia 28 de agosto de 2005, a prática de “racismo”. Sader imputou ao senador discriminação aos "negros, pobres, sujos e brutos", intitulando-o de "fascista". Em resposta à condenação judicial, intelectuais encabeçados por Antônio Cândido fazem circular um abaixo assinado contra a sentença. Segundo o manifesto, a decisão judicial afronta a liberdade de expressão, intimidando e criminalizando o "pensamento crítico", e a "autonomia universitária". A sentença, continua o manifesto, transforma o "agressor" em "vítima" e em "criminoso" o "defensor dos agredidos".[carece de fontes],. Fonte Wikipédia.
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