Nos dias de hoje, com a epidemia de obesidade que assola o mundo, é cada vez mais comum que pessoas façam dietas para emagrecer.

E, nessas dietas, algo costuma acontecer com assustadora frequência:

1. Começar uma dieta restritiva e radical,
2. Perder alguns quilos, e
3. depois acabar ganhando tudo de volta.

Isso acontece muito com dietas de contagem de calorias e outras dietas malucas, o que gera estatísticas alarmantes: de acordo com as pesquisas mais recentes, incríveis 95% das pessoas que fazem dieta recuperam o peso perdido em apenas dois anos.

É uma estatística chocante, especialmente ao considerarmos que as dietas restritivas até podem dar um empurrãozinho inicial na perda de peso, mas acabam falhando miseravelmente em garantir resultados a longo prazo.

Por que dietas temporárias não funcionam

Você pode estar se perguntando por que essas dietas não funcionam a longo prazo.

Nesse caso, saiba que não se trata apenas de força de vontade ou determinação.

Acontece que o corpo humano é uma máquina complexa, que foi moldada ao longo de milhões de anos de evolução, com um único objetivo principal: a sobrevivência.

Nesse contexto, cada vez que introduzimos uma restrição calórica, nosso corpo interpreta isso como uma possível ameaça e começa a tomar providências.

Dentre elas, desacelerar o nosso metabolismo, desregular hormônios (como a importante testosterona), e até mesmo nos deixar de mau humor.

O efeito de tudo isso? Ficamos mais cansados, com mais fome, e menos satisfeitos com o que comemos.

Ou, de maneira mais detalhada: quando você começa uma dieta, seu corpo desacelera e os hormônios responsáveis pela sensação de fome (por exemplo, o hormônio leptina) aumentam, ao passo que aqueles que induzem à sensação de saciedade diminuem.

Isso torna o processo de perda de peso muito desafiador.

Além disso, nosso cérebro passa a direcionar mais atenção para o assunto "comida".

Ele faz isso ativando nossos centros de recompensa quando consumimos alimentos ricos em calorias.

É por isso que um pequeno "deslize" ou uma "refeição fora da dieta" (que dirá um dia do lixo) frequentemente se transforma em um "final de semana fora da dieta" — ou até mesmo um "mês fora da dieta".

Considerando tudo isso… o que fazer para emagrecer?

O conceito de "pausa na dieta"

Considerando a natureza restritiva da maioria das intervenções, estudos recentes introduziram um conceito conhecido como "pausas na dieta".

Como funciona: em vez de cortar as calorias de maneira contínua, você faria uma pausa de uma semana em que você comeria normalmente — nem cortando excessivamente, nem exagerando na alimentação.

Isso não significa que você deva comer descontroladamente; é mais sobre comer de maneira sensata e se permitir um agrado de vez em quando.

A ciência por trás disso é bastante simples: todas as dietas funcionam com base em um único princípio: consistência.

Seja sobre comer menos carboidratos (dieta low-carb), comer por menos horas (jejum intermitente), ou incluir mais folhas e legumes, a verdadeira mágica está em seguir o plano ao longo de um período de tempo.

E é nesse contexto que as "pausas na dieta" entram em cena.

Embora a pausa em si mesma possa não resultar em uma perda de peso mais rápida, ela pode servir como um período de breve alívio psicológico em meio a meses de restrição.

Para quem gosta de corrida, a analogia é óbvia: seria o equivalente a moderar o seu ritmo ao longo de uma maratona inteira — em vez de dar um super pico de esforço no começo, e acabar esgotado antes mesmo do fim da prova.

O que os estudos mostram é que quem faz a pausa na dieta acaba perdendo a mesma quantidade de gordura do que quem faz a dieta contínua — porém com muito mais paz mental.

Como foi feito o estudo

Foi feito um ensaio clínico randomizado (experimento científico) com mulheres que treinavam na academia. Separaram as mulheres em 2 grupos.

Um grupo de mulheres fez uma dieta hipocalórica de maneira contínua, por 6 semanas.

O outro grupo também fez uma dieta hipocalórica — porém com um período de "pausa" (equilíbrio energético) no meio da duração do estudo: elas fizeram 2 semanas de dieta, 1 de pausa, mais 2 de dieta, uma de pausa, e mais 2 de dieta (duração total de 8 semanas). Nas quais elas também tiveram restrição calórica por 6 semanas (2 foram de pausa).

Pausas na dieta: o que aconteceu

Não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos nas mudanças na composição corporal (ou seja, peso corporal, percentual de gordura corporal, massa de gordura e massa livre de gordura).

Também não houve diferenças em termos de taxa metabólica de repouso, e nem mesmo mudança de comportamentos alimentares.

Ou seja: deu na mesma fazer a dieta com pausas ou sem.

Pausas na dieta — Conclusão e Palavras Finais

Qual é o grande aprendizado que tiramos daqui?

O fato de que — uma vez que "a melhor dieta é aquela que você consegue seguir" — o fundamental é ter um plano sensato que você consiga seguir sempre.

E, se inserir pausas na dieta ajudar você a ter mais adesão a sua estratégia, esta é uma estratégia maravilhosa — uma vez que pausas na dieta podem oferecer a flexibilidade que você deseja no seu estilo de vida, e reduzir o stress ligado à ideia de dieta.

Ao "dar uma pausa na dieta", você pode encontrar a força para cultivar hábitos mais saudáveis, cuidar da sua alimentação e, principalmente, manter a perda de peso a longo prazo.

Afinal, o verdadeiro sucesso reside não no peso que você perde, mas no peso que consegue manter afastado — para sempre.

Referência e estudo científico

1. Siedler MR, Lewis MH, Trexler ET, Lamadrid P, Waddell BJ, Bishop SF, SanFilippo G, Callahan K, Mathas D, Mastrofini GF, Henselmans M, Vårvik FT, Campbell BI. The Effects of Intermittent Diet Breaks during 25% Energy Restriction on Body Composition and Resting Metabolic Rate in Resistance-Trained Females: A Randomized Controlled Trial. J Hum Kinet. 2023 Jan 20;86:117-132. doi: 10.5114/jhk/159960. PMID: 37181269; PMCID: PMC10170537.