Prefeito “desarborizador”

Estranho é observar que esse “genocídio botânico” aconteceu logo depois das eleições. Por que será? Por que não fizeram a desgraceira antes?

Professor Nazareno*
Publicada em 14 de dezembro de 2020 às 09:09
Prefeito “desarborizador”

Falar mal de Porto Velho é uma das coisas mais fáceis do mundo. E nem precisa dar sugestões para a melhoria da cidade, pois aqui o lodo já é paisagem natural. O lugar parece que nasceu para ser podre e imundo mesmo. O Instituto Trata Brasil não se cansa de publicar o ranking das piores cidades do Brasil em saneamento básico e água tratada. Com mais de cem anos de existência, essa cidade fica sempre nas últimas colocações. Uma voltinha pelas esburacadas ruas sente-se logo a catinga de água podre que escorre das muitas valas a céu aberto. A Avenida Jorge Teixeira, por exemplo, porta de entrada da capital, é um esgoto nojento, sujo e fedido. Do centro à periferia, dos bairros nobres às favelas o que se percebe é muita sujeira, lixo, ratos, urubus, falta de esgoto e muita merda. Entra prefeito e sai prefeito e essa cruel realidade infelizmente não muda nunca. 

Outro problema terrível por aqui é a falta de arborização. Mesmo se situando no meio da maior floresta tropical do mundo, Porto Velho é uma cidade sem árvores e sem organização urbanística nenhuma. O calor no verão é de matar qualquer cristão. E nenhum prefeito até hoje se preocupou em arborizar a cidade. Pelo contrário, arrancam sem dó nem piedade as poucas árvores que há. Fala-se que no início da década de 1970, o então prefeito nomeado de Porto Velho, Odacir Soares, teria mandando arrancar todas as árvores centenárias da Avenida Sete de Setembro bem no centro da suja, quente e desarborizada capital. Não sei se é verdade, o fato é que se ele não fez isso pelo menos é lembrado assim até hoje. Infelizmente esse pouco caso com a natureza não é coisa só do passado. Agora foi o prefeito Hildon Chaves que protagonizou uma nova destruição.

Mais de 100 árvores, que formavam um lindo tapete verde na Avenida Tiradentes, foram simplesmente devastadas e arrancadas pela raiz. A Sema, secretaria que deveria defender o meio ambiente, justificou a insensatez dizendo que aquelas árvores não eram adaptáveis para o meio urbano e que suas raízes estavam ameaçando casas e construções. Mas não mostrou nenhuma residência ou outro prédio que estava prestes a cair por causa delas. Será verdade? E a lorota de que as raízes podem danificar a rede de esgotos? Como assim, se não há esgotos por lá? Nem lá nem na cidade inteira. A sombra, o bate-papo, o ar mais puro, coisas boas que ironicamente a própria Sema reconhece, não mais existirão ali. Dizem que vão plantar outras árvores no lugar. Quem nos garante que daqui a 30 anos os “sábios” do futuro não vão também exterminá-las?

Estranho é observar que esse “genocídio botânico” aconteceu logo depois das eleições. Por que será? Por que não fizeram a desgraceira antes? Os moradores do bairro Pedacinho de Chão e adjacências foram consultados? Lamentável, mas demorará mais uns 30 ou 40 anos para voltarem os benefícios proporcionados por aquelas saudosas árvores. Não é exagero, elas davam um aspecto de Primeiro Mundo à suja e maltratada capital. Quem vendeu essas árvores para a prefeitura plantar no passado? E quem venderá agora as “árvores corretas”? Sem esgotos e sem água tratada, Porto Velho sucumbe também sem árvores. Porém, os puxa-sacos do prefeito inundam as redes sociais dando razão ao alcaide sem lembrarem que o calor só vai aumentar numa cidade já quente. E não reclamem! Se esse prefeito fosse governador, pobres florestas daqui! Coitado do nosso meio ambiente! Vá morar em Miami, homem! Mas leve a Sema junto!

  *Foi Professor em Porto Velho.

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