Há coisas que, por mais que a gente se esforce para compreendê-las, é praticamente impossível, dada a complexidade humana. Quer ver um exemplo? Dias atrás, o prefeito de Porto Velho, doutor Hildon Chaves, enviou à Câmara Municipal um Projeto de Lei pedindo autorização para desafetar e, posteriormente, transferir trecho de rua a uma conhecida rede de supermercados, para construção de um shopping.

Em sua justificação, o prefeito disse que o empreendimento vai gerar quase quinhentos empregos, direitos e indiretos, além de abarrotar os cofres municipais com o pagamento de impostos. Tudo muito bom. Tudo muito bem.

Paradoxalmente, o cidadão que defende a geração de emprego e renda é o mesmo que pretende substituir a segurança armada nas unidades de saúde, escolas e órgãos da municipalidade por câmeras de monitoramento eletrônico, sob o argumento de que a medida vai reduzir custos e gerar um sistema eficiente. A extinção do quinquênio aos servidores municipais também causaria uma economia significativa ao erário. E olha no que deu.

Pelo visto, o prefeito não tem assistindo ao noticiário local. Caso contrário, saberia que várias escolas da capital foram depredadas e saqueadas depois que o governo do Estado trocou a segurança armada por câmeras de vídeo. Se colocada na ponta do lápis, a economia que o senhor prefeito julga alcançar com a iniciativa tornar-se-á inócua, considerando os prejuízos que serão causados pelo vandalismo ao patrimônio público.

Não sei quem encomendou a missa rezada pelo prefeito, mas tenho absoluta certeza de que a troca da vigilância armada por um sistema de monitoramento eletrônico deixará centenas de pais e mães de família desempregados - os mesmos que o senhor prefeito prometeu defendê-los durante campanha eleitoral.