Programa Menos Médicos

Mais de 60 milhões de brasileiros pobres e desassistidos dependem desse atendimento e a partir de agora ficarão à mercê da sorte.

Professor Nazareno*
Publicada em 16 de novembro de 2018 às 09:42

De forma unilateral, Cuba desiste de continuar no “Programa Mais Médicos” do governo brasileiro. As autoridades cubanas alegam que declarações “depreciativas e ameaçadoras” do futuro presidente Jair Bolsonaro inviabilizam qualquer possibilidade dos médicos cubanos permanecerem no país. A data de retirada de todo o pessoal já está marcada: a partir de 31 de dezembro próximo, os cerca de oito mil e duzentos médicos caribenhos não mais darão atendimentos nos rincões do Brasil. Faltando ainda quase dois meses para assumir o governo brasileiro, o “Mito” tem causado com as suas desastradas falas estragos em todas as áreas em que se mete. Bolsonaro e seus assessores já nos envergonharam com os árabes, com os palestinos, com o Mercosul, com a China, com os Brics, com a Noruega e agora o problema é Cuba e seus médicos.

Livrando-se dos médicos cubanos e do viés ideológico, Bolsonaro acredita que teria um problema a menos. Engano: com esta decisão de Cuba, os problemas na área social no Brasil se avolumarão de maneira avassaladora. Em breve teremos um “apagão médico”. Pelo menos duas mil e oitocentas cidades brasileiras serão afetadas com a saída dos médicos estrangeiros. Destas, cerca de mil e quinhentas só contavam com esse pessoal de fora. As aldeias indígenas serão as mais afetadas, pois cerca de 75% delas são atendidas pelo programa. Mais de 60 milhões de brasileiros pobres e desassistidos dependem desse atendimento e a partir de agora ficarão à mercê da sorte. Os médicos brasileiros, geralmente filhos de famílias mais abastadas, não querem ir para os rincões do Brasil e não será desta vez que eles vão atender ao apelo do Ministério da Saúde.

Lugares ermos do país como as periferias das grandes cidades, o sertão do Nordeste e principalmente a Amazônia sempre foram comunidades evitadas pela classe médica do Brasil. Somente os médicos estrangeiros, principalmente os cubanos, é que se aventuravam “nestas brenhas”. E não precisa se discutir de quem é a culpa. O que mais importa no momento é saber quando todos esses médicos cubanos serão substituídos. Bolsonaro tem os hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein para se tratar, como quando levou recentemente uma facada. Lula, Michel Temer, Dilma Rousseff e outras altas autoridades do país têm acesso a médicos bons e eficientes a hora que bem quiserem. Já o pobre pagador de impostos nada tem. Conta somente com a sorte. E quando poderia ter contato com um médico de verdade, essa chance acaba, desaparece.

Como torcer por um governo que faz “uma bobagem atrás da outra” antes mesmo de assumir o poder? Bolsonaro precisa imediatamente parar de falar asneiras. Precisa entender que o mundo evoluiu e com a globalização, qualquer declaração precisa ser avaliada. Não se governa mais sozinho um país, é preciso compreender as relações complexas que norteiam as nações. Mas o mesmo parece não ter inteligência suficiente para entender isso. Havia um compromisso feito com a Organização Pan-Americana da Saúde entre Brasil e Cuba e o “Mito” com a sua língua comprida ameaçou mudar as regras já estabelecidas. Deixou que a questão ideológica prejudicasse milhões de cidadãos brasileiros. A pergunta que não quer calar: quantas pessoas morrerão por falta de médicos com este fato criado agora? A quem atribuir a culpa desta tragédia anunciada? Isso é só o começo. Pior: outras tragédias podem estar a caminho.

 

*É Professor em Porto Velho.

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