Quem Tarcísio pressiona no STF, com carteiraços em nome de Bolsonaro?

“A desenvoltura do homem do boné, ao ligar para ministros do Supremo, indica seu grau de intimidade com certas autoridades”, escreve Moisés Mendes

Fonte: Moisés Mendes - Publicada em 14 de julho de 2025 às 16:27

Quem Tarcísio pressiona no STF, com carteiraços em nome de Bolsonaro?

Tarcísio de Freitas (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O governador do Estado mais poderoso do Brasil levanta o telefone e liga para ministros do Supremo com uma proposta indecorosa. Devolvam o passaporte do meu líder, que vocês pretendem prender como chefe de um golpe, porque ele pode nos salvar da enrascada com Trump.

Foi o que aconteceu. Usaram de novo todos os adjetivos disponíveis para definir a afronta de Tarcísio de Freitas ao STF. A ministra Gleisi Hoffmann definiu a atitude do extremista moderado como algo ‘surreal’.

Surreal teria sido se ele tivesse desfilado de sunga e boné do Trump agora, em junho, com três graus negativos, em Gramado, na Serra gaúcha. É mais do que um gesto surreal, atrevido ou desrespeitoso.

É uma demonstração de força que o sujeito pretendia ter ou ainda acha que tem. Não precisa de adjetivo. Vamos para as informações substantivas.

Tarcísio telefonou para ministros do Supremo por achar que poderia assustá-los com a sua ideia. E a pergunta passa a ser essa: por que achou que tinha tanto poder?

A jornalista Monica Bergamo deu o furo dos telefonemas, mas não disse para quem ele ligou. Monica informa apenas que Tarcísio “telefonou para ministros do Supremo com uma proposta considerada surpreendente e esdrúxula”.

E acrescenta que “magistrados consideraram a ideia totalmente fora de propósito”. Que magistrados? Claro que a jornalista não precisa dizer quem são.

Mas fica a dúvida que é muito mais do que uma mera curiosidade. Para quem Tarcísio ligou com uma proposta que, com outros personagens sem tanto poder, poderia levar o proponente para a cadeia?

Com quanto ministros Tarcísio se sentiu à vontade para cometer a petulância de propor a liberação do passaporte e a possível transformação de Bolsonaro em herói nacional? Com dois, com três dos 11 magistrados? Falou só com integrantes da primeira turma, que julga os golpistas e tem cinco ministros? 

Por que Tarcísio teve a petulância de dar os telefonemas? Que intimidade leva um governador a se dirigir a ministros da mais alta Corte com uma ideia que há até bem pouco os brasileiros atribuiriam, como clichê, a republiquetas bananeiras? 

Que juízes ofereceram a Tarcísio a chance de ser mensageiro de uma proposta criminosa? Nunca saberemos. O que importa é que o sujeito ligou e que a informação sobre a ligação foi vazada para a imprensa e virou manchete.

A Corte máxima do país recebe telefonemas do mandalete de Bolsonaro e do mafioso Donald Trump, como se fosse normal ou apenas esdrúxulo, a partir do ponto de vista de que ele tem a pré-autoridade de quem pretende um dia governar o país.

Esse é o seu carteiraço: me tratem bem hoje, porque amanhã posso tratá-los mal, se tivermos o controle total do governo e do Congresso e eu for o novo preferido de Trump. Esse é Tarcísio de Freitas, o governador terrivelmente capacho, que sabe ou sabia para quem ligar no Supremo.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

992 artigos

Quem Tarcísio pressiona no STF, com carteiraços em nome de Bolsonaro?

“A desenvoltura do homem do boné, ao ligar para ministros do Supremo, indica seu grau de intimidade com certas autoridades”, escreve Moisés Mendes

Moisés Mendes
Publicada em 14 de julho de 2025 às 16:27
Quem Tarcísio pressiona no STF, com carteiraços em nome de Bolsonaro?

Tarcísio de Freitas (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O governador do Estado mais poderoso do Brasil levanta o telefone e liga para ministros do Supremo com uma proposta indecorosa. Devolvam o passaporte do meu líder, que vocês pretendem prender como chefe de um golpe, porque ele pode nos salvar da enrascada com Trump.

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Foi o que aconteceu. Usaram de novo todos os adjetivos disponíveis para definir a afronta de Tarcísio de Freitas ao STF. A ministra Gleisi Hoffmann definiu a atitude do extremista moderado como algo ‘surreal’.

Surreal teria sido se ele tivesse desfilado de sunga e boné do Trump agora, em junho, com três graus negativos, em Gramado, na Serra gaúcha. É mais do que um gesto surreal, atrevido ou desrespeitoso.

É uma demonstração de força que o sujeito pretendia ter ou ainda acha que tem. Não precisa de adjetivo. Vamos para as informações substantivas.

Tarcísio telefonou para ministros do Supremo por achar que poderia assustá-los com a sua ideia. E a pergunta passa a ser essa: por que achou que tinha tanto poder?

A jornalista Monica Bergamo deu o furo dos telefonemas, mas não disse para quem ele ligou. Monica informa apenas que Tarcísio “telefonou para ministros do Supremo com uma proposta considerada surpreendente e esdrúxula”.

E acrescenta que “magistrados consideraram a ideia totalmente fora de propósito”. Que magistrados? Claro que a jornalista não precisa dizer quem são.

Mas fica a dúvida que é muito mais do que uma mera curiosidade. Para quem Tarcísio ligou com uma proposta que, com outros personagens sem tanto poder, poderia levar o proponente para a cadeia?

Com quanto ministros Tarcísio se sentiu à vontade para cometer a petulância de propor a liberação do passaporte e a possível transformação de Bolsonaro em herói nacional? Com dois, com três dos 11 magistrados? Falou só com integrantes da primeira turma, que julga os golpistas e tem cinco ministros? 

Por que Tarcísio teve a petulância de dar os telefonemas? Que intimidade leva um governador a se dirigir a ministros da mais alta Corte com uma ideia que há até bem pouco os brasileiros atribuiriam, como clichê, a republiquetas bananeiras? 

Que juízes ofereceram a Tarcísio a chance de ser mensageiro de uma proposta criminosa? Nunca saberemos. O que importa é que o sujeito ligou e que a informação sobre a ligação foi vazada para a imprensa e virou manchete.

A Corte máxima do país recebe telefonemas do mandalete de Bolsonaro e do mafioso Donald Trump, como se fosse normal ou apenas esdrúxulo, a partir do ponto de vista de que ele tem a pré-autoridade de quem pretende um dia governar o país.

Esse é o seu carteiraço: me tratem bem hoje, porque amanhã posso tratá-los mal, se tivermos o controle total do governo e do Congresso e eu for o novo preferido de Trump. Esse é Tarcísio de Freitas, o governador terrivelmente capacho, que sabe ou sabia para quem ligar no Supremo.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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