Ramagem admite grampo, mas não de Bolsonaro

'Nessa história sem pé nem cabeça em que tenta livrar a sua cara e a de Bolsonaro, Ramagem se complica ainda mais', escreve o colunista Alex Solnik

Fonte: Alex Solnik - Publicada em 17 de julho de 2024 às 16:15

Ramagem admite grampo, mas não de Bolsonaro

Jair Bolsonaro (à esq.) e Alexandra Ramagem (Foto: Divulgação)

O ex-chefe da Abin gravou um vídeo em que afirma que a reunião com o presidente Bolsonaro, com o chefe do GSI, Augusto Heleno e com as advogadas de Flávio Bolsonaro foi gravada “para registrar um crime contra o presidente da República”. E que Bolsonaro sabia que estava sendo gravado. Portanto, segundo ele, não foi uma gravação clandestina.

Sem prestar juramento de dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade, ele afirmou que à reunião de 25/10/2020 viria “uma pessoa” (não disse quem) “que tinha contato com o governador Wilson Witzel que poderia vir com uma proposta nada republicana para o presidente, era para registrar um crime contra o presidente da República”.

Deixa ver se entendi.

O convidado principal da reunião, segundo Ramagem, era algum mensageiro, que traria uma proposta indecente do governador Wilson Witzel. Para pegá-lo em flagrante, ele decidiu gravá-lo. 

Mas, se o motivo principal do encontro era essa pessoa, e ela não veio, por que ninguém durante os 60 minutos da gravação se refere a esse fato, “puxa, tal pessoa não chegou ainda, será que vem”?

Depois, se a pessoa que deveria ser gravada não veio, Ramagem poderia ter desativado a gravação. Para que gravar se o cara faltou?

E mais: por que manteve o vídeo no seu celular até ser encontrado pela PF, em vez de apagá-lo, já que ele não tinha utilidade alguma?

Se ele não pediu autorização à Justiça para tal, seria, de qualquer forma, uma gravação clandestina. Um grampo. E as advogadas de Flávio Bolsonaro foram convidadas para quê? Para serem testemunhas de uma reunião em que seria tratada uma questão sigilosa? Um segredo de Estado? Nessa história sem pé nem cabeça em que tenta livrar a sua cara e a de Bolsonaro (elogia seu comportamento republicano), Ramagem se complica ainda mais.

Alexandre de Moraes vai querer saber quem era esse mensageiro, qual era o crime contra Bolsonaro que ele iria apresentar na reunião e se Ramagem tinha o hábito de grampear a torto e a direito quem quisesse, sem aval do Judiciário.

Pena que Bolsonaro não poderá agradecer pessoalmente as belas palavras de Ramagem.

Moraes impediu esse gesto da mais profunda e sincera amizade.

Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Ramagem admite grampo, mas não de Bolsonaro

'Nessa história sem pé nem cabeça em que tenta livrar a sua cara e a de Bolsonaro, Ramagem se complica ainda mais', escreve o colunista Alex Solnik

Alex Solnik
Publicada em 17 de julho de 2024 às 16:15
Ramagem admite grampo, mas não de Bolsonaro

Jair Bolsonaro (à esq.) e Alexandra Ramagem (Foto: Divulgação)

O ex-chefe da Abin gravou um vídeo em que afirma que a reunião com o presidente Bolsonaro, com o chefe do GSI, Augusto Heleno e com as advogadas de Flávio Bolsonaro foi gravada “para registrar um crime contra o presidente da República”. E que Bolsonaro sabia que estava sendo gravado. Portanto, segundo ele, não foi uma gravação clandestina.

Sem prestar juramento de dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade, ele afirmou que à reunião de 25/10/2020 viria “uma pessoa” (não disse quem) “que tinha contato com o governador Wilson Witzel que poderia vir com uma proposta nada republicana para o presidente, era para registrar um crime contra o presidente da República”.

Deixa ver se entendi.

O convidado principal da reunião, segundo Ramagem, era algum mensageiro, que traria uma proposta indecente do governador Wilson Witzel. Para pegá-lo em flagrante, ele decidiu gravá-lo. 

Mas, se o motivo principal do encontro era essa pessoa, e ela não veio, por que ninguém durante os 60 minutos da gravação se refere a esse fato, “puxa, tal pessoa não chegou ainda, será que vem”?

Depois, se a pessoa que deveria ser gravada não veio, Ramagem poderia ter desativado a gravação. Para que gravar se o cara faltou?

E mais: por que manteve o vídeo no seu celular até ser encontrado pela PF, em vez de apagá-lo, já que ele não tinha utilidade alguma?

Se ele não pediu autorização à Justiça para tal, seria, de qualquer forma, uma gravação clandestina. Um grampo. E as advogadas de Flávio Bolsonaro foram convidadas para quê? Para serem testemunhas de uma reunião em que seria tratada uma questão sigilosa? Um segredo de Estado? Nessa história sem pé nem cabeça em que tenta livrar a sua cara e a de Bolsonaro (elogia seu comportamento republicano), Ramagem se complica ainda mais.

Alexandre de Moraes vai querer saber quem era esse mensageiro, qual era o crime contra Bolsonaro que ele iria apresentar na reunião e se Ramagem tinha o hábito de grampear a torto e a direito quem quisesse, sem aval do Judiciário.

Pena que Bolsonaro não poderá agradecer pessoalmente as belas palavras de Ramagem.

Moraes impediu esse gesto da mais profunda e sincera amizade.

Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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