Querendo ou não, o sucesso de um jogador às vezes depende também do quão midiático ou bem aceito pela mídia ele é. Existem diversos exemplos de atletas que tiveram carreiras excelentes dentro das quatro linhas mas que acabaram não sendo tão valorizados pelos torcedores, veículos de imprensa e por aí vai. E um desses exemplos sem sombra de dúvidas é o Richarlyson, um dos volantes mais subestimados do Brasil. 

Filho de jogador (Lela) e irmão de jogador (Alecsandro), Richarlyson teve uma carreira muito vitoriosa dentro dos gramados. Foi por quase uma década um dos melhores volantes do Brasil, chegando em alguns momentos até mesmo a ocupar a primeira posição. No entanto, nunca foi tão bem visto por clubes maiores - sobretudo, na Europa.

Richarlyson começou a sua carreira em 2001, no São Luiz de Ijuí - clube do Rio Grande do Sul. Um ano depois, ele acabou sendo contratado pelo ituano. Em seguida, passou pelo Santo André (que vivia ótima fase nos anos 2000) e Fortaleza, antes de ter a sua primeira e única experiência no futebol europeu.

Em 2004, Richarlyson foi contratado pelo Red Bull Salzburg, da Áustria. Foram apenas 27 jogos pelo clube, que na época não era tão conhecido como hoje. Depois, retornou ao Santo André, tendo boas atuações e chamando a atuação do clube que elevou a sua carreira a um outro patamar: o São Paulo.

A passagem de Richarlyson pelo São Paulo 

O sucesso do São Paulo na segunda metade dos anos 2000 está muito relacionado, também, ao bom desempenho de Richarlyson - e outros vários jogadores, obviamente. O volante chegou ao Tricolor Paulista em 2005, como uma aposta do clube para uma posição que na época já estava muito bem servida com Mineiro e Josué.

Ainda assim, Richarlyson acabou se encaixando no time e teve suas tantas oportunidades. No primeiro ano em que chegou ao Tricolor Paulista, o jogador fez parte do elenco campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes. Foram 19 jogos naquela temporada, sendo que ele chegou ao São Paulo no meio dela.

No ano seguinte, as chances aumentaram ainda mais: Richarlyson fez 37 jogos pelo São Paulo e foi campeão do Campeonato Brasileiro. Em 2007, o jogador assumiu em definitivo a volância do Tricolor Paulista, desempenhando um grande papel na armação de jogadas, com um físico e disposição dentro de campo dificilmente vistos em um volante. Mais uma vez, terminou o ano como campeão Brasileiro.

Em 2008, o jogador atingiu o auge de sua carreira. Fisicamente, era impressionante: forte, rápido, chegou a jogar 53 jogos no ano. Dentro de campo, também era extremamente inteligente, atuando tanto na segurança defensiva do Tricolor Paulista como, também, ajudando na armação das jogadas. Pela terceira vez consecutiva, então, Richarlyson e o São Paulo foram campeões brasileiros.

As coisas começaram a desandar para o clube em 2009, no entanto. Depois do tricampeonato, o São Paulo mandou Muricy Ramalho embora e terminou o ano sem nenhum título. O time caiu de produtividade, sobretudo em 2010. Richarlyson, então, deixou o time no fim da nova década - e foi ser vitorioso em outro estado.

Depois do sucesso no São Paulo, veio o sucesso no Atlético Mineiro 

Em 2011, Richarlyson foi contratado pelo Atlético Mineiro. Na época, o Galo vinha melhorando a cada ano e começava a dar indicativos de que poderia, em breve, conquistar algo maior. Dito e feito, em 2013 veio uma das maiores conquistas da história do clube - da qual Richarlyson fez parte.

O ex-volante do São Paulo chegou ao Atlético Mineiro para ser titular - e de fato foi durante boa parte dos três anos em que esteve em Minas Gerais. Ele fez parte do elenco campeão da Libertadores de 2013, um dos títulos mais inesquecíveis da história do torcedor do Galo, que conta com a digital de Richarlyson. 

O que havia feito no Tricolor Paulista, o jogador fez no Galo. Mostrou mais uma vez ser diferente em sua posição, um atleta com uma grande força e imposição física, mas que ao mesmo tempo contribui e muito com a sua inteligência para a construção do jogo. Ali, no entanto, foi a última vez que teve grandes oportunidades.

Depois do Atlético Mineiro, Richarlyson teve poucas oportunidades no futebol

O fato é que depois do Atlético Mineiro, Richarlyson acabou tendo poucas oportunidades no futebol. No ano seguinte, o jogador foi contratado pelo Vitória. Em 2015, pela Chapecoense. Dali para frente,rodou por diversos clubes de prateleiras inferiores do futebol brasileiro - de segunda, terceira e até mesmo quarta divisão.

Richarlyson chegou a vestir a camisa do Novorizontino, Guarani, Cianorte, Noroeste, Campinense e América do Rio de Janeiro. Nesse período, chegou a ficar sem clube por um tempo, sem receber propostas. Por conta disso, também, chegou a atuar em uma equipe de vôlei - algo raramente visto no futebol.

O fato é que um estigma construído ao redor de Richarlyson ao longo dos anos acabou pesando, de certa forma, para o jogador. Muitos torcedores, de clubes onde ele jogou e dos demais, especularam sua sexualidade de maneira negativa e por vezes pejorativa, a ponto da contratação do jogador em alguns times não ser bem vista - apenas porque muitos acreditavam que ele era gay. 

O fato é que, enquanto atuou profissionalmente, Richarlyson nunca falou ou confirmou nada sobre a sua sexualidade. Ainda assim, esse estigma, de que ele seria um jogador gay, acabou o acompanhando durante boa parte de sua carreira. No fim das contas, o atleta teve poucas oportunidades depois dos 30 anos de idade.

Por onde anda Richarlyson?

Richarlyson se aposentou oficialmente dos gramados em 2021, quando fez suas últimas partidas pelo Noroeste. Depois disso, acabou emendando a carreira de comentarista da Globo. Esteve presente em diversas transmissões da emissora de televisão, tanto do Campeonato Brasileiro quanto de outras competições.

Já longe dos gramados, o jogador, que chegou a ser eleito melhor volante do Brasil em 2007 e bola de prata da competição no mesmo ano, se assumiu bissexual. Pelo São Paulo e Atlético Mineiro, o atleta fez história - daquelas que ficará marcada para sempre pelos torcedores de ambos os clubes.