Sete anos na vida de um bar

Bem, o bar, para dizer a verdade, é bem intimista e, se, do lado de fora, tem uma profusão de luzes, quando se entra a iluminação e a música suave de fundo, criam uma atmosfera agradável e o espaço permite que os clientes se acomodem à vontade

Silvio Persivo
Publicada em 30 de junho de 2023 às 15:51
Sete anos na vida de um bar

Vou falar de um bar. De um bar encravado numa ruazinha da Embratel. É um bar pequeno, com mesas na calçada e uma atmosfera acolhedora. É um bar mutável. Uma hora está repleto, outra pairam por lá algumas almas cotidianas, aliás mais noturnas, porém o bar se tornou um refúgio para quem busca um bom papo, momentos de descontração, alguma poesia e boa companhia, que, nas quintas ganha o encanto de uma boa comida feita pelo chef Orlando Jr. ou da, hoje, quase portuguesa Sandra Santos, que, por sinal, é mesmo chegada à comida e à música italiana, enfim são encantos deste bar, que já teve árvores, buganvilles e tem as estrelas do Madeira, o que o tornou um verdadeiro ícone da intelectualidade local.


Bem, o bar, para dizer a verdade, é bem intimista e, se, do lado de fora, tem uma profusão de luzes, quando se entra a iluminação e a música suave de fundo, criam uma atmosfera agradável e o espaço permite que os clientes se acomodem à vontade. A decoração, meio kistsch, com uma mistura de quadros, livros e garrafas, conta histórias de um passado recente despertando curiosidade e conversas sobre personalidades que fizeram parte da vida de Porto Velho. 

O dono do bar, o Marcus Danin, é uma figura querida e controversa. Como se trata de um amigo querido, para mim, não tem defeitos, mas, as pessoas o comparam, uma má comparação diga-se de passagem, ao velho Guimarães, de famoso bar da Carlos Gomes ou ao Bigode, que era também muito querido, contudo muito mais intolerante, todavia a filosofia é a mesma: meu bar, minhas regras. Seja como for o dono é atencioso até certo ponto e o bar é um reflexo dele: de sua paixão pela vida, pelas festas, pela arte e também por suas regras. Bem existem clientes que não se adaptam. Fazer o quê? Sob certos aspectos penso até que ele tem suas razões. 

O bar jamais foi pensado como um negócio. Começou, de fato, como um local para se ouvir música, o chorinho do seu Lito Casara, passou por noites de MPB, de poesias, por comemorações históricas de aniversário, teve os seus notáveis carnavais, com o menor circuito carnavalesco do mundo, suas noites de dia dos namorados, dias de cardápios diferenciados como os risos e o prazer que fizeram parte de sua história e quase foi à pique na pandemia. Sobreviveu aos trancos e barrancos e, hoje, há uma clientela, que continua diversificada, desde os intelectuais de sempre, que discutem política até descobrirem que não há acordo possível, passando por futebol, literatura, casos de amor e até insinuações fantasiosas sobre participantes da confraria ou figuras da região. 

Lendas como a de que Ravel esteve em Guajará-Mirim ou Che Guevara vendeu sua metralhadora em Porto Velho. O bar não é único apenas pelo nome. Também o é por ser um refúgio das preocupações diárias, por proporcionar, com os amigos e as bebidas, um clima onde as conversas fluem livremente e se pode fugir das cadeias do politicamente correto com um palavrão sonoro ou dizer uma poesia ou cantar mal sem causar muito espanto. Por todas essas coisas, e muitas outras que a convivência nos permite encontrar, é que o Buraco do Candiru se tornou uma parte da nossa vida e da nossa cidade. É um boteco sim. Mas, não um boteco como tantos outros. Há nele um aspecto sensorial que ultrapassa a compreensão de quem não sabe que beber faz parte da arte de viver. 

E se vive mais e melhor com o Buraco do Candiru. Por isto, quando faz sete anos, iremos brindar sete vezes ao nosso boteco. Viva o Buraco do Candiru!

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